• Governadores do Nordeste se dizem indignados e criticam campanha de Bolsonaro: ‘atentado à vida’

    Publicado em 27.03.2020 às 20:29

    Os nove governadores do Nordeste assinaram nesta sexta-feira 27 uma segunda carta a respeito das medidas de combate à crise de coronavírus. A última havia sido divulgada na quarta-feira 25 e pedia união do país para enfrentar a pandemia (leia aqui).

    Desta vez, após uma reunião por teleconferência, os governadores expressaram  “profunda indignação” com a campanha “O Brasil Não Pode Parar”, do governo federal, exigiram “respeito por parte da Presidência da República” e pediram que “cessem, imediatamente, as agressões contra os governadores” por parte de Jair Bolsonaro.

    Para eles, a “omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da saúde pública”. Assim, “expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica”, prossegue o texto.Leia a íntegra:

    Carta dos Governadores do  Nordeste
    27 de março de 2020

    A FAVOR DA VIDA

    Nós, governadores do Nordeste, em videoconferência realizada neste dia 27 de março, assim nos manifestamos:

    1) Com bom senso e equilíbrio, vamos continuar orientados pela ciência e pela experiência mundial, para nortear todas as medidas, diariamente avaliadas, nesta guerra travada contra o  Coronavírus. Reiteramos que parâmetros científicos indicam as ações preventivas e protetivas, de intensidade gradual e estágios progressivos ou regressivos, adequando-as sempre à realidade de cada região de nossos Estados;

    2) Na ausência de efetiva coordenação nacional, que deveria ser assumida pelo  Governo Federal, em articulação com os demais entes federativos, buscaremos avançar na integração regional e com as demais regiões, mobilizados pelo objetivo de salvar vidas e amenizar os impactos negativos sobre a economia dos estados. Acreditamos também que o Congresso Nacional tem papel decisivo no atual momento da vida brasileira;

    3) Dispostos a fortalecer o embasamento de cada uma das nossas medidas, já construído sobre as bases apresentadas pela OMS, solicitaremos um pronunciamento oficial do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de  Saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia, além do acompanhamento e orientação do Ministério Público Federal e do Ministério Público dos Estados;

    4) Manifestamos nossa profunda indignação com a postura do Governo Federal, que contraria a orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade, como a OMS – que indicam o isolamento social como melhor forma de conter o avanço do Coronavírus -, e promove campanha de  comunicação no sentido contrário, estimulando, inclusive, carreatas por todo o país contra a quarentena. Este tipo de iniciativa representa um verdadeiro atentado à vida;

    5) De nossa parte, exigimos respeito por parte da Presidência da República, esperando que cessem, imediatamente, as agressões contra os governadores, assumindo-se um posicionamento institucional, com seriedade, sobre medidas preventivas. A omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da  saúde pública. Assim agindo, expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica;

    6) Enfatizamos que sempre estaremos abertos ao diálogo, neste esforço que precisa ser coletivo, tendo como meta a superação da ameaça representada por esta doença, que continua matando milhares de pessoas. Temos absoluta convicção de que o diálogo, o equilíbrio e a união serão sempre o melhor caminho para revertermos este quadro crítico. Seguimos firmes e vigilantes em defesa da vida das pessoas, inclusive na luta para impedir atos que possam significar riscos à saúde pública.

    Assinam esta carta:

    Rui Costa
    Governador da  Bahia
    Renan Filho
    Governador de Alagoas
    Camilo Santana
    Governador do Ceará
    Flávio Dino
    Governador do Maranhão
    João Azevedo
    Governador da Paraíba
    Paulo Câmara
    Governador de Pernambuco
    Wellington Dias
    Governador do  Piauí
    Fátima Bezerra
    Governadora do Rio Grande do Norte
    Belivaldo Chagas
    Governador de Sergipe