Brasil avança, mas ainda não aparece no mapa verde mundial
Muito além da substituição de combustível, o debate sobre novas fontes de energia implica em mudança de sistema, com rupturas políticas, técnicas, ambientais e econômicas. De olho nesse novo mapa de abastecimento energético, o 1º Congresso da Indústria Goiana promoveu o painel Hidrogênio Verde e o Futuro da Indústria Brasileira, com a especialista Monica Saraiva Panik.
“As energias renováveis, em combinação com a eficiência energética, formam a vanguarda de uma transição energética global de longo alcance”, sustentou Monica, já na abertura da palestra. De acordo com ela, a década de 2020 deve se tornar a era de uma grande corrida pela liderança em tecnologia no setor, já que os custos provavelmente cairão de forma acentuada com a ampliação do conhecimento e da infraestrutura necessária.
Somente a cadeia de valor do hidrogênio verde aponta para um potencial mercado de até US$ 60 bilhões para eletrolisadores e de cerca de US$ 25 bilhões para células a combustível até 2050. “A inovação e as tecnologias emergentes podem mudar o cenário atual de manufatura. A fabricação de equipamentos para plantas de hidrogênio verde representa excelente oportunidade de mercado nas próximas décadas.”

De olho nessa oportunidade, mais de 30 países já adotaram estratégias nacionais concretas para produção do combustível, com investimentos que beiram US$ 80 bilhões em financiamento governamental. “O Brasil ainda não aparece nesse mapa de estratégicas verdes mundiais, mas está trabalhando nisso e, nos últimos dois anos, tem avançado no setor.”
Publicada em 2021, as diretrizes do Programa Nacional do Hidrogênio, editado pelo governo federal, organizou e orientou ações com foco no desenvolvimento da economia do hidrogênio no Brasil. O objetivo é fomentar ações que proporcionem a conexão do setor elétrico com o mercado de gases e de combustíveis sintéticos e biocombustíveis. No setor industrial, a expectativa é de que o hidrogênio verde atue como descarbonizador do setor.
“O hidrogênio pode ser produzido na própria planta industrial a partir de fontes renováveis e usado nos processos de produção para reduzir CO2 em grande escala. Não tem setor da indústria que não possa se beneficiar com a tecnologia”, afirmou Monica. Segundo a especialista, o setor industrial representa 1/3 do consumo total de energia e 1/4 do total de emissão de CO2.
De acordo com estudo da McKinsey, a demanda doméstica brasileira é uma grande oportunidade, chegando à casa dos 7 a 9 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano até 2040. O Brasil também tem potencial para exportar aos Estados Unidos e à Europa cerca US$ 2 bilhões até 2030 e até US$ 6 bilhões em 2040. Para tanto, são esperados investimentos de US$ 200 bilhões, além da necessidade de adicionar uma capacidade adicional de energia renovável da ordem de 180 GW nos próximos 15 anos.