Em entrevista ao Roda Viva, Caiado condena politização da saúde durante pandemia da Covid-19: “É inaceitável”

Publicado em 7.04.2020 às 09:53

A quase demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e a instauração de um verdadeiro “cabo de guerra” — entre aqueles que defendem as medidas de isolamento social e os que clamam pelo retorno das atividades —, briga que permeia diversos estratos da sociedade. A respeito destes e de outros assuntos que, paralelamente à pandemia do novo coronavírus, permeiam o noticiário e a opinião pública brasileira, o governador Ronaldo Caiado dissertou, durante aproximadamente uma hora e meia,  ao ser sabatinado nesta segunda-feira, dia 6 no Roda Viva, por meio de videoconferência, diretamente do Palácio das Esmeraldas.

Em suas respostas, Caiado consolidou a posição que há dias vem defendendo: é hora de união, não de embates desnecessários. “Politizar um momento de saúde é algo que não podemos admitir. É inaceitável continuar essa queda de braço. É a primeira vez que vejo, em 44 anos como médico, algo assim. Desde 1918, com a gripe espanhola, nunca havíamos visto algo semelhante [a pandemia]. Desta forma, precisamos buscar a pacificação. Não podemos acreditar que tudo depende da decisão de um presidente, um governador. Temos um inimigo invisível e sabemos das sequelas que ele deixou nos países que afetou. Quem entende, neste momento, é o Ministério da Saúde”, enfatizou.
 
A resposta veio logo após sua primeira participação no programa, em que comentou sobre a manutenção de Mandetta no cargo. A decisão do presidente Jair Bolsonaro em manter o ministro da Saúde e toda a sua equipe foi considerada acertada pelo governador. “Estamos entrando agora na fase preocupante da pandemia. Ainda bem que não tivemos nenhuma mudança. Em seus boletins, Mandetta mostra confiança e conhecimento de causa, embasando tudo em critérios científicos, estudos e nos protocolos dos mais modernos que existem. O termos à frente, com sua equipe, que tão bem sabe conduzir, e todo o seu know how, tranquiliza a população”, considerou o governador.

Caiado defendeu a união de forças em prol do objetivo comum: o controle da epidemia e a retomada gradual da normalidade, levando em consideração que em um cenário como o atual, não é a tese de um presidente, ou de um governador, isoladamente, que deve prevalecer. “É a tese da ciência. Ou vamos nos ater aos procedimentos, protocolos técnicos; ou vamos incorrer em achismos. O achismo pode funcionar bem no futebol. Na Medicina, de maneira alguma”, asseverou o governador, lembrando os líderes italianos que tiveram de pedir desculpas por estimularem a população a ter uma vida normal, o que fez com que a doença ganhasse força, e citando a mudança de tom do presidente norte-americano Donald Trump e do primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, este que deu entrada na UTI com quadro de saúde agravado pela Covid-19.

O governador recordou que a experiência em acolher os brasileiros de Wuhan, epicentro da pandemia na China, na cidade de Anápolis, preparou e credenciou ainda mais o Estado de Goiás para o enfrentamento do novo coronavírus. “Fui o primeiro a adotar a quarentena, antes mesmo que houvesse um caso sequer da Covid-19 em Goiás”, destacou. Afirmou que não tem aberto espaço em sua agenda para nenhum outro assunto alheio ao combate da Covid-19. “Neste período todo, não fiz nenhuma reunião política; cancelei todas. Estou em tempo integral trabalhando para dar aos goianos a melhor condição de atendimento a todos aqueles que precisarem de um leito, oxigênio ou respirador”, frisou.

Sobre as declarações e medidas polêmicas de Bolsonaro, Ronaldo Caiado reconheceu o forte apoio que o presidente mantém entre seu eleitorado, por sua “capacidade de mobilização ímpar”, e que espera que, a partir de agora, ele realmente entenda a liturgia do cargo que ocupa. Mas o governador não se furtou das críticas, especialmente ao lembrar o dia em que contestou publicamente o presidente, após pronunciamento em que Bolsonaro defendeu a volta à normalidade. “Naquela hora, ele estava desautorizando seu aliado. As pessoas ficaram sem saber se deviam acatar a decisão do presidente ou o decreto do governador. Diante disso, proclamei que as decisões não alcançariam o Estado de Goiás”, ressaltou, lembrando ainda que cabe a Bolsonaro respaldar a competência técnica de seus auxiliares de alto escalão.

O governador Ronaldo Caiado não perdeu de vista o otimismo em relação à situação do Brasil, que tem a oportunidade, em função da cronologia da pandemia, de usar como parâmetro protocolos e ações adotadas por países como China e Itália, afetados anteriormente. Não negou que a economia brasileira vai sofrer um forte impacto, porém enxerga principalmente no setor agrícola a grande válvula para futura recuperação. “Teremos momentos difíceis, é verdade. Mas vejo o Brasil com uma posição privilegiada exatamente na parte de segurança alimentar. Os países terão uma dificuldade muito grande de repor estoques, de voltar a ter uma produção. Enxergo o Brasil podendo dar um passo rápido no sentido de poder ir aos poucos recuperando, não aquela curva ascendente do dia para a noite, mas com muito mais chances em relação aos países que são 100% industrializados e terão uma dificuldade enorme em poder exportar seus produtos.”

O programa Roda Vida desta segunda-feira teve a apresentação de Vera Magalhães, e participações de Conrado Corsalette, do Nexo; Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico; Madeleine Lacsko, da Gazeta do Povo; Graciliano Rocha, do BuzzFeed News BR; e Alexandra Martins, do BR Político.