João Vitor de Paiva denuncia uso de IA para criar perfis falsos que vendem conteúdo adulto
A tecnologia baseada em inteligência artificial tem avançado de forma impressionante — e em alguns casos de maneira negativa. Nas redes sociais, especialmente no Instagram, vêm se multiplicando perfis que utilizam filtros desenvolvidos por IA, para criar rostos de mulheres jovens com traços físicos semelhantes aos de pessoas com síndrome de Down. O objetivo? Vender conteúdo adulto e atrair seguidores com o apelo da “diferença” transformada em fetiche.
A prática, que já vem sendo denunciada por usuários e especialistas de comunicação, acendeu um alerta importante nesta semana. O influenciador João Vitor de Paiva, jovem com síndrome de Down e referência nacional na luta pela inclusão, gravou um vídeo, que até a publicação deste texto possuía mais de 300 mil visualizações, expondo sua indignação com o uso desrespeitoso da imagem de pessoas com deficiência para fins comerciais e sexuais.
“Isso não é arte, não é homenagem. É uma exploração das pessoas com deficiência. É desrespeito com uma história real de luta e dignidade. Engajamento que vem da dor do outro não é sucesso. É crueldade.”, desabafa João Vitor no vídeo publicado em suas redes sociais, que rapidamente viralizou.
Criação de personas falsas e fetichização da deficiência
Especialistas em comunicação alertam: o uso da inteligência artificial para criar “personas” falsas — ou seja, rostos inventados com base em características físicas específicas — está crescendo, especialmente no mercado de influenciadores digitais. Mas o uso dessas ferramentas para explorar deficiências intelectuais e simular condições como a síndrome de Down em contextos de conteúdo sexual é algo alarmante.
“A lógica disso é extremamente perversa. É uma forma cruel de retratar pessoas com deficiência. Isso reforça estereótipos, alimenta o preconceito e invisibiliza a luta por inclusão”, afirma João Vitor.
Impacto social e emocional
A fetichização de corpos e pessoas com deficiência não é uma novidade, mas o uso de IA para simular esse tipo de imagem digital abre um novo capítulo no debate sobre responsabilidade nas redes e limites da liberdade digital.
O maior problema, segundo especialistas, é que esse tipo de conteúdo circula livremente em plataformas que têm políticas contra discursos de ódio e discriminação, mas ainda falham na moderação de novos formatos de abuso simbólico.
João Vitor, que acumula mais de 700 mil seguidores no Instagram e faz palestras sobre inclusão e autonomia de pessoas com deficiência, ressalta que esse tipo de ação atrapalha o avanço da pauta da inclusão. “A gente quer respeito. Isso atrasa tudo o que já conquistamos com tanta luta.” O influenciador reforça a importância de denunciar tais perfis e de promover um ambiente digital mais seguro e respeitoso para todos.