• O olhar que fala: especialista explica como os olhos podem revelar sofrimento emocional

    Publicado em 23.09.2025 às 22:08

    Observar o olhar de um ente querido pode ser a chave para perceber que ele precisa de ajuda. De acordo com a psicóloga da Hapvida, Karina Siqueira, uma série de comportamentos visuais funciona como um termômetro do estado emocional de uma pessoa. Sinais como um olhar antes vivo que agora se torna “apagado”, a evasão do contato visual que antes era comum, ou os olhos que se enchem de lágrimas ao tocar em assuntos sensíveis são indicativos potentes de que algo não vai bem.

    Essas mudanças, principalmente quando são bruscas e contrastam com o comportamento habitual, são mais do que impressões. Karina alerta que podem ser sinais de um sofrimento profundo, com risco de agravamento para uma depressão grave, exigindo atenção e acolhimento.

    Especialistas são unânimes em afirmar que identificar os sinais é apenas o início. A etapa mais importante é a abordagem. Karina Siqueira enfatiza a necessidade de diálogo gentil, sem julgamentos ou cobranças. Perguntar “como você está?” e se “algo tem pesado” de forma sincera e acolhedora é vital.

    É crucial garantir que a pessoa se sinta ouvida e que seus sentimentos não sejam minimizados. Incentivar atividades que tragam prazer e conforto, como hobbies e convívio social, pode ajudar. No entanto, se os sinais persistirem ou forem intensos, associados a outros sintomas como alterações no apetite, no sono, desânimo profundo e isolamento, buscar auxílio psicológico ou psiquiátrico é o caminho mais indicado.

    “O olhar humano carrega uma linguagem silenciosa, mas poderosa. Aprender a decifrá-la é um ato de cuidado e atenção que pode fazer toda a diferença na vida de quem se ama, funcionando como um alerta precoce para um sofrimento que muitas vezes as palavras não conseguem expressar”, explica Karina.

    *A ciência por trás do brilho nos olhos*
    A sabedoria popular que associa brilho nos olhos à alegria e vitalidade encontra respaldo na neurociência. Uma reportagem do UOL VivaBem explica que esse brilho está ligado a uma complexa rede de fatores: desde a motivação interna e a ativação do sistema límbico – responsável pelas emoções – até a produção de neurotransmissores como a dopamina, a lubrificação ocular e a mobilização específica da musculatura facial.

    Já o CICEM (Centro de Integração Corporal e Emocional) aponta que o desvio do olhar, popularmente chamado de “olhar fujão”, é um comportamento típico de quem sente vergonha ou tenta esconder uma tristeza. O centro também fala sobre os “vestígios emocionais” – microexpressões e pequenos movimentos involuntários que escapam quando uma pessoa tenta mascarar o que realmente sente. Outros estudos, citados em matérias como “O Poder dos Olhos”, do Globo, relacionam a dilatação das pupilas e a postura do olhar com indicadores de atenção, memória e estados emocionais.

    *Como identificar os sinais de alerta*
    Para pais e familiares, ficar atento a estas mudanças concretas no olhar do outro pode ser crucial:
    • Evasão do olhar: A pessoa que sempre manteve contato visual começa a evitar olhar nos olhos, desviar o rosto ou manter um olhar vago e distante.
    • Perda de brilho: Os olhos parecem sem vida, “cansados” e sem a expressividade e vivacidade de antes.
    • Cansaço visível: Olhos frequentemente inchados, semicerrados, com olheiras pronunciadas e um ar de exaustão constante.
    • Lacrimejamento frequente: Os olhos enchem de lágrimas com facilidade, especialmente quando se abordam temas mais sensíveis ou pessoais.
    • Expressão facial alinhada: A testa franzida, as pálpebras pesadas e as sobrancelhas caídas acompanham o olhar, compondo uma expressão de tristeza.