• Entenda como o apoio socioemocional auxilia a prevenção à violência em casa e nas escolas

    Publicado em 5.11.2025 às 19:09

    A infância deveria ser um período de descobertas, aprendizado e segurança. No entanto, em Goiás e no Brasil, essa realidade ainda está distante do ideal. Em 2024, o Disque 100 registrou 657,2 mil denúncias de violações de direitos humanos, um aumento de 22,6% em relação ao ano anterior, envolvendo negligência, agressões físicas e psicológicas que afetam diretamente crianças e adolescentes.
    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada sete adolescentes apresenta algum transtorno mental. Isso evidencia que que apoio emocional na infância é determinante para o desenvolvimento saudável, a aprendizagem e a convivência social.

    Em Goiás, entre 2009 e 2019, foram registradas 26.692 ocorrências de violência contra crianças e adolescentes, com cerca de 1.084 notificações ocorrendo dentro de escolas. A violência física foi a mais recorrente, seguida pela psicológica/moral. Na capital, Goiânia, dados de 2014 a 2023 indicam que 33,6% das ocorrências foram violência sexual, 31,9% negligência, 24,6% violência física e 9,9% violência psicológica/moral.

    O peso da violência emocional

    Para a psicóloga da Hapvida, Karina Siqueira, o impacto da violência psicológica é profundo. “Insultos, humilhações, ameaças e desqualificações prejudicam autoestima, atenção e regulação emocional, aumentando riscos de ansiedade, depressão e comportamentos agressivos. As crianças precisam aprender a sentir, nomear e lidar com suas emoções desde cedo”, alerta.

    Ela explica que, para desenvolver inteligência emocional, é essencial estimular autoconhecimento, empatia e resiliência. “A arte ajuda a criar sensibilidade e tolerância; o esporte fortalece disciplina e espírito de equipe. Precisamos de presença, escuta e espaços de aprendizagem afetiva, tanto em casa quanto na escola. Não basta ser inteligente ou talentoso: saber sentir e se relacionar é o que realmente prepara para a vida”.

    O Conselho Federal de Psicologia reforça essa visão: inserir profissionais de psicologia nas escolas e investir em programas de inteligência emocional é tão importante quanto ensinar fórmulas e conceitos acadêmicos. Atividades que promovem autocontrole, comunicação e empatia podem interromper ciclos de violência e sofrimento emocional.

    Educação emocional como prevenção

    Em Goiás, a Lei Estadual nº 23.086/2024, que institui a Semana de Combate à Violência Escolar, representa um esforço para sensibilizar escolas e famílias sobre a importância de ambientes seguros e acolhedores. Especialistas alertam, porém, que ações isoladas não bastam: é preciso integrar saúde, educação e assistência social para gerar impacto real.

    Exemplos práticos já mostram resultados positivos. Professores da rede pública relatam que rodas de conversa e oficinas de expressão artística reduziram conflitos e ensinaram os alunos a lidar com frustração e medo sem recorrer à agressão. “O desafio é grande, mas os caminhos existem. Desenvolver inteligência emocional não é apenas um diferencial educacional; é uma necessidade social e de saúde pública”, afirma Geicy Teixeira, professora de ensino básico e fundamental.

    Investir na inteligência emocional significa investir na vida, na saúde mental e na segurança das crianças e adolescentes. Como reforça Karina Siqueira: “Criar crianças que reconheçam e lidem com suas emoções é construir gerações mais resilientes, empáticas e capazes de romper ciclos de violência”.