Após 407 dias internado, bebê recebe alta do Hecad nos braços da mãe
O Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), unidade do Governo de Goiás, vive, nesta semana, um dos momentos mais simbólicos da sua história. Depois de 407 dias de internação ininterrupta, o pequeno Matheus Henrique, de Bonfinópolis (GO), recebe alta e volta para casa nos braços da mãe, Ariane Gomes da Silva. A longa permanência faz dele o paciente que mais tempo internado desde a inauguração da unidade.
Prematuro, Matheus Henrique nasceu em 27 de agosto de 2024 no Hospital das Clínicas (HC) com complicações graves, como infecções intestinais e a necessidade de múltiplas cirurgias. Com apenas um mês e meio de vida, foi transferido para o Hecad para iniciar o processo de reabilitação intestinal, em razão da síndrome do intestino curto, condição rara e de alta complexidade, que exige nutrição parenteral (pela veia) e cuidado multidisciplinar intenso.
“No início foi muito turbulento. Eu cheguei recém-operada, sem saber nada de intestino curto, aprendendo a lidar com dieta, bolsa de colostomia… era tudo muito novo. Com o tempo, a gente vai adquirindo experiência, vai aprendendo, vai tomando fé”, lembra Ariane.
A mãe conta que viveu meses entre a enfermaria e a UTI, com idas e vindas, pioras, infecções e momentos em que temeu perder o filho. Nesse percurso, encontrou apoio na equipe multiprofissional do Hecad: “A UTI daqui é muito humanizada. As psicólogas chegam junto, os médicos, os técnicos… eu era muito amparada. Tornou-se uma família. Eu sonhei muito com esse dia. Sempre orei: ‘Senhor, eu só quero ir embora com o meu filho nos braços’. Hoje, eu olho para o Matheus e vejo a fidelidade de Deus na nossa vida. Minha palavra é gratidão: primeiro a Deus e, em segundo lugar, a toda equipe do Hecad, do diretor ao zelador”, emociona-se Ariane.
Caso de alta complexidade
Responsável pelo caso, a gastropediatra Marise Tófoli explica que Matheus enfrentou uma sequência de desafios clínicos que, até pouco tempo, eram considerados incompatíveis com a vida em muitos serviços.
“O Matheus teve uma enterocolite gravíssima, que exigiu a retirada de um segmento importante do intestino, o que chamamos de síndrome do intestino curto. São casos muito desafiadores, que dependem de nutrição parenteral prolongada, com cuidados específicos para evitar infecções, tromboses e perda de acessos venosos. Durante esse mais de um ano de internação, ele passou por infecções intestinais, sistêmicas, pulmonares, tromboses e perda de vários acessos, mas foi vencendo cada obstáculo”, explica a médica. A alta do bebê representa um caso de sucesso em reabilitação intestinal pediátrica no Sistema Único de Saúde (SUS).
Desafio de acolher mãe por mais de um ano em um hospital 100% SUS
Para além do cuidado assistencial altamente especializado, a internação prolongada de Matheus também trouxe o desafio de acolher a mãe por mais de um ano dentro de um hospital 100% SUS.
“Assistência em saúde e de qualidade é o que fazemos no dia a dia. O grande desafio é oferecer um ambiente em que essa família consiga se manter aqui por tanto tempo, com o mínimo de conforto e dignidade. Falamos do ambiente físico, da cordialidade, das necessidades básicas, da convivência. Mesmo sendo um hospital público, buscamos que a mãe se sinta acolhida, com um psicológico o mais saudável possível, porque saúde mental também importa”, afirma o diretor-geral do Hecad, Ronny Rezende.
A alta de Matheus acontece pouco tempo após o Hecad conquistar a Acreditação Plena, Nível 2, da Organização Nacional de Acreditação (ONA), reconhecimento que atesta a qualidade e a integração dos processos assistenciais e de gestão. O caso reforça o papel do hospital como unidade de referência em pediatria de média e alta complexidade, evidenciando o trabalho conjunto das equipes multiprofissionais e o compromisso com a humanização e a segurança do paciente, inclusive na preparação para o retorno ao lar.
Foto: Fabiana Rodrigues e Acervo Hecad