Presidente da Federação dos Municípios fala da pandemia de coronavírus pelo interior
O prefeito de Campos Verdes, Haroldo Naves, presidente da Federação Goiana de Municípios (FGM), falou nesta sexta-feira, dia 10, ao radiojornal matutino o Mundo em Sua Casa, transmitido pelas emissoras de rádio da Agência Brasil Central (RBC FM e Rádio Brasil Central AM). Na entrevista concedida ao jornalista Gil Bonfim, Naves abordou a crise provocada pela pandemia do coronavírus nos municípios de Goiás.
Haroldo Naves chama atenção para a deficiência de infraestrutura na área da saúde como um dos grandes gargalos no atendimento aos infectados, caso a situação piore. Ele abordou também o temor dos prefeitos com a previsão de queda de até 40% na arrecadação das prefeituras nos próximos meses com a crise econômica gerada pela pandemia. Confira os principais trechos da entrevista:
Isolamento social
Haroldo Naves disse que a pandemia deve atingir, mais cedo ou mais tarde, todos os 246 municípios goianos. Para diminuir o número de casos, o chamado achatamento da curva de contaminação, a preocupação dos prefeitos neste momento é investir esforços no reforço ao isolamento social, algo que, na visão dele, é mais difícil de conseguir dado à própria cultura e costumes da população que vive no interior. “Todos os municípios têm feito a distribuição de folders informativos, panfletos, massificando a orientação nas rádios comunitárias, redes sociais, mobilizando as secretarias municipais de saúde, administração, assistência social, os CRAS (Centros de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centros de Referência Especializados de Assistência Social), enfim, temos mantido tudo isso funcionando para ajudar a população”, disse Naves. Para ele, isso colabora para tornar Goiás um dos estados com menor índice de contaminação até o momento pelo novo vírus.
Infraestrutura em saúde
“Essa é uma das nossas maiores preocupações e nesse aspecto os pequenos municípios vão sofrer mais”, explicou o dirigente da FGM. Segundo ele, além do pequeno número de leitos hospitalares, a rede pública de saúde no interior tem sofrido também com a dificuldade em adquirir equipamentos e insumos para o tratamento dos doentes da Covid-19. “Licitações não estão sendo respeitadas, as empresas não têm o produto para entregar, muitos prefeitos estão tirando dinheiro do próprio bolso para resolver emergências. No meu município, por exemplo, comprei tecido e elástico consegui apoio de um grupo de costureiras que vão fazer voluntariamente máscaras artesanais para distribuir gratuitamente à população”, afirmou.
Arrecadação menor
O presidente da FGM vê como “desastre absoluto” o que acontecerá com as receitas municipais em função da crise econômica do coronavírus. Segundo Haroldo Naves, são esperadas quedas de 30% já neste mês de abril e de mais de 40% nos próximos meses, até julho. Ele explica que a queda se deve à diminuição dos repasses de impostos estaduais como IPVA, cujo escalonamento prolongado de pagamento já foi anunciado pelo governo estadual, e da queda de receitas próprias com o ISS e IPTU.
“Para o repasse do FPM [Fundo de Participação dos Municípios], já negociamos em Brasília com o governo federal a garantia de que teremos neste ano os mesmos valores recebidos em 2019. De forma que assim, teremos perda somente inflacionária nesse repasse, mas em nível estadual e municipal a coisa será feia, já tivemos a notícia que a arrecadação de ICMS despencou, o que levou o governador a falar em corte geral com os outros poderes da ordem de 30% nos gastos. Com os municípios não será diferente”, disse.
Cortes e prioridades
Segundo Haroldo Naves, alguns municípios já se anteciparam a essa queda de receita cortando gastos e investimentos e priorizando serviços, especialmente na saúde. “Eu, por exemplo, cortei salários de servidores, secretários, demiti gente e fiz um corte linear de 17% em todos os contratos da prefeitura. Isso para que a tenha uma sobrevida e não paralise serviços básicos à população”, comentou o prefeito. De acordo com Naves, é o que vêm fazendo todos os prefeitos, para que haja recursos também na outra ponta de aumento de gastos prioritários, que serão na área da saúde, com reformas emergenciais e ampliações, compra de equipamentos e insumos para socorrer a quem precisar na evolução da pandemia. “Agora é a hora de priorizar a saúde e a vida das pessoas”, conclui o presidente da Federação Goiana de Municípios (FGM).