Presidente da CNI calcula ‘quedas recordes’ de exportações para China
Outro setor da economia afetado pela pandemia do coronavírus que pede socorro é o da indústria.
Nesta entrevista concedida pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao BRP, Robson Andrade prevê, por exemplo, quedas “recordes” nas exportações para o principal mercado, a China, bem para o restante do mundo. Segundo levantamento empresarial feito em março pela entidade, em cada 10 empresas 4 estavam com a produção paralisada e outras quatro, ainda que em operação, tiveram queda na produção.
No campo propositivo, Andrade defende que “comecemos desde já” a planejar estratégias de retomada gradual das atividades produtivas. A sugestão é que os 9,4 milhões de trabalhadores da indústria sejam submetidos a testes rápidos da doença a cada 15 dias, aumentando a cada mês até atingir a totalidade do contingente.
“A previsão é que a operação dure, pelo menos, seis meses após o fim do isolamento social amplo ou até que a pandemia da covid-19 esteja sob controle”, diz Andrade. Do contrário, se o isolamento social se estender por muitos meses, o desemprego poderá aumentar, apesar “do esforço hercúleo” que o setor industrial tem feito, diz, contra essa possibilidade. Segundo ele, o que tem freado o ritmo das dispensas é a recente Medida Provisória 936, que estabelece redução de salários proporcional à diminuição da jornada de trabalho.
O presidente da CNI inclui no pacote o empréstimo direto do Banco Central (BC) às empresas, uma vez que os bancos, diante do elevado risco de falência das empresas, aumentaram o custo do crédito. “Neste momento, estamos trabalhando na construção de propostas para facilitar a chegada dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às empresas. Embora disponíveis, os recursos não estão sendo liberados com o volume e a rapidez desejáveis”, acrescenta.
Andrade elenca ainda medidas mais emergenciais de socorro ao setor, como a suspensão dos pagamentos de financiamentos com bancos públicos, a criação de linha de financiamento emergencial para pagar dois meses de folha de pessoal e o aumento dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e BNDES para crédito às micro e pequenas empresas. Ele calcula que o adiamento do pagamento de tributos federais e do FGTS e as medidas na área trabalhista vão representar a redução de custos ou maior liquidez das empresas em cerca de R$ 180 bilhões.
BR POLÍTICO – O que a indústria tem feito para reduzir os impactos da crise desencadeada pela pandemia da covid-19?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – As entidades que integram o Sistema Indústria – CNI, SESI, SENAI, Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Federações Estaduais e Associações Setoriais – estão todas mobilizadas, cada uma com sua expertise, para ajudar o país a enfrentar e superar os impactos desta grave crise decorrente da pandemia. Há três semanas, enviamos ao presidente da República, Jair Bolsonaro, um conjunto de propostas, com o objetivo de assegurar a sobrevivência das empresas e, consequentemente, a manutenção dos empregos dos cerca de 9,4 milhões de trabalhadores do setor industrial. As propostas visam reduzir despesas correntes e aumentar o capital de giro das indústrias, bem como a flexibilização das relações de trabalho.
Estamos também monitorando os impactos da crise e das medidas adotadas pelo governo, por meio de sondagens diretamente com empresas e líderes empresariais. Justiça seja feita, 21 das 39 propostas que apresentamos já foram encampadas pelo governo. Entre elas, a facilitação, por parte dos bancos públicos e de desenvolvimento, do acesso a capital de giro; o adiamento da entrega das declarações de Imposto de Renda; a prorrogação automática, por 90 dias, da Certidão Negativa de Débito (CND); e a possibilidade de redução proporcional de jornadas de trabalho e salários. Outras nove propostas foram parcialmente adotadas e apenas nove ainda estão de stand by, como a redução temporária de tarifas de energia elétrica, a liberação de preço de fábrica de medicamentos e a suspensão temporária da cobrança de taxas de registro junto às agências reguladoras federais.
BR POLÍTICO – E com relação ao combate da pandemia em si, como tem sido a atuação da indústria? Quais produtos estão sendo produzidos e qual a destinação deles?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Uma das principais ações está sendo feita por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que coordena uma iniciativa, integrada por Federações das Indústrias e por empresas de vários segmentos, para manutenção de respiradores mecânicos, denominada “Mais Respiradores”. Até o momento, já recebemos cerca de 600 respiradores com defeito, de 19 unidades da Federação, em 35 pontos de manutenção distribuídos por todas as regiões do país. Destes, 37 equipamentos já foram consertados e começam a retornar aos hospitais de origem. Outros 63 estão em processo de calibração para serem devolvidos. Outra iniciativa importante é o Edital de Inovação para a Indústria, uma parceria do SENAI com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e com a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que destinou R$ 30 milhões para o desenvolvimento, com aplicação imediata, de projetos destinados a prevenir, diagnosticar e tratar infectados pelo novo coronavírus. Na última semana, por meio de uma categoria do Edital, denominada “Missão Covid-19”, já selecionamos nove projetos, que deverão surtir efeito nos próximos 40 dias. Entre eles, estão a utilização de inteligência artificial para controlar a propagação da doença, um monitor de fácil manuseio para diagnóstico rápido de pacientes com deficiência pulmonar, a produção de testes rápidos de detecção do vírus, um sistema de desinfecção para transportes públicos, entre outros.
Além disso, o SENAI disponibilizou a infraestrutura de seus 27 Institutos de Inovação e 60 Institutos de Tecnologia para ajudar na produção de testes rápidos de detecção do novo coronavírus. Na primeira fase do Edital de Inovação, por exemplo, foi selecionado um projeto da empresa Hi Technologies (Hilab), para produção de testes rápidos, em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Eletroquímica, de Curitiba (PR). A previsão é entregar 15 mil testes em sete dias, 150 mil em 40 dias e chegar a 450 mil testes em até três meses. A empresa MDI Indústria e Comércio de Equipamentos Médicos, por sua vez, foi selecionada para desenvolver testes “padrão-ouro”, recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que permitem a identificação, em tempo real, da presença do coronavírus em amostras coletadas nas narinas e na garganta. A previsão é que será possível o processamento de 200 testes por dia, totalizando, 1.200 testes semanais e 4.800 testes mensais. Este projeto específico está sendo desenvolvido em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Avançados de Saúde, de Salvador (BA).
O SENAI também está oferecendo, gratuitamente, durante os próximos 90 dias, milhares de vagas para cursos de aperfeiçoamento de temas ligados à chamada “Indústria 4.0”, como Blockchain, Lean Manufacturing e Building Information Modeling (BIM). Até 31 de março, foram realizadas 309.013 matrículas gratuitas nos cursos ofertados. Federações Estaduais da Indústria e diversas empresas também têm desenvolvido ações, como a fabricação de ventiladores pulmonares e a doação de equipamentos de proteção profissionais de saúde e cestas básicas, entre outros produtos essenciais.
BR POLÍTICO – Qual o volume dessa produção?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Não é possível, neste momento, fazer esse dimensionamento, porque as diversas ações têm sido empreendidas, de forma autônoma, pelas Federações as Indústrias e por centenas de empresas e unidades do Serviço Social da Indústria (SESI) e do SENAI localizadas nas 27 unidades da Federação.
BR POLÍTICO – Qual setor industrial foi mais afetado negativamente pela pandemia? Quais insumos têm faltado mais à indústria?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Com base em pesquisa divulgada no final de março pela CNI e, também, em consulta que fizemos junto a diversas empresas no início de abril, pode-se afirmar que os setores mais afetados negativamente são os produtores de bens de consumo duráveis, em especial vestuário, calçados, eletroeletrônicos e automotivo. A pesquisa, revelou uma queda na demanda por produtos e serviços para 79% das empresas, sendo que 53% relatam queda intensa. Já a consulta empresarial realizada agora em abril revelou que em cada 10 empresas 4 estavam com a produção paralisada e outras quatro, ainda que em operação, tiveram queda na produção. O setor de construção civil, que é um dos que mais geram empregos no país, também está sendo muito afetado negativamente.
BR POLÍTICO – Por outro lado, qual setor industrial tem mais produzido durante essa pandemia?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Pesquisa da CNI, divulgada no final de março, revelou que cerca de 5% das empresas registraram aumento da demanda e 2%, aumento intenso. Não temos ainda um levantamento atualizado, mas, com base em informações preliminares, podemos afirmar que os setores de alimentos, farmacêutico e de material de limpeza e higiene pessoal são os menos afetados negativamente, podendo até registrar um aumento em suas respectivas atividades.
BR POLÍTICO – A pandemia causou uma queda na demanda por produtos e serviços para 79% das empresas. Qual é o volume dessa queda no faturamento? Quantos trabalhadores já foram demitidos em março e início deste abril?
ROBSON BRAGA DE Não é possível, ainda, dimensionar qual foi, até agora, a queda geral no faturamento das empresas. O indicativo que temos, por enquanto, é a pesquisa realizada pela CNI e divulgada em março, junto a cerca de 800 empresas, segundo a qual, a queda no faturamento é o principal impacto da pandemia do novo coronavírus, apontada como um dos três principais por 70% das empresas industriais consultadas. Em segundo lugar, vem o cancelamento de pedidos e encomendas, escolhido por 49%, seguido por queda na produção, com 33%, e paralisação da produção, com 30%.
Também não temos ainda dados consolidados sobre as dispensas de trabalhadores neste período. O que podemos dizer é que as empresas industriais estão fazendo um esforço hercúleo no sentido de preservar os empregos. As recentes medidas anunciadas pelo governo, muitas delas em atendimento às propostas que apresentamos, como a redução proporcional de jornadas e salários, ajudarão muito neste processo.
BR POLÍTICO – Podemos dar uma proporção de empregos salvos, então, com essas medidas e as demais defendidas pela CNI?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Essa informação ainda não está disponível. O que podemos dizer é que a possibilidade de as empresas poderem reduzir salários, proporcionalmente à diminuição da jornada de trabalho certamente contribuirá para que o contingente de desempregados venha a ser bem menor. Entretanto, se o isolamento social durar muitos meses ainda, o desemprego poderá aumentar, pela falta de capacidade de produção das empresas e, consequentemente, pela não geração de caixa, podendo obrigar a várias delas a fazer muitas dispensas de trabalhadores.
A Febraban informa que os pedidos de renegociação de empréstimos de 2 milhões de clientes aos bancos chegam a R$ 200 bilhões, mas não informa o valor já negociado. No entanto, há queixas de que os bancos têm elevado o custo das transações. Qual é a dimensão desse cenário para a indústria?
A CNI, juntamente com as associações setoriais a indústria, tem feito uma série de sugestões ao governo, que objetivam mitigar essa questão. O Banco Central adotou algumas medidas para aumentar a liquidez, ou seja, a disponibilidade de recursos para o sistema financeiro. No entanto, o elevado risco de falência das empresas fez com que os agentes financeiros reduzissem a oferta e/ou aumentassem o custo do crédito. Como já está ocorrendo nos países desenvolvidos, uma das saídas é o empréstimo direto do Banco Central às empresas, que é objeto de um projeto que tramita no Senado. A criação de novos fundos de garantia e a ampliações dos existentes são outras medidas fundamentais para reduzir os riscos do emprestador e, consequentemente, aumentar o volume de empréstimos. Neste momento, estamos trabalhando na construção de propostas para facilitar a chegada dos recursos do BNDES às empresas. Embora disponíveis, os recursos não estão sendo liberados com o volume e a rapidez desejáveis.
BR POLÍTICO – Como avalia o contexto em que as pessoas são estimuladas a sair de casa enquanto a indústria vê sua produção reduzida?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Nós, da indústria, consideramos que a prioridade máxima, neste momento, devem ser as ações para preservar vidas, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde com relação à covid-19. A CNI entende que as autoridades públicas estão fortemente engajadas no processo de contenção da escalada de crescimento do número de pessoas infectadas pelo coronavírus em todo o país. Mas é igualmente fundamental que comecemos, desde já, a planejar e desenvolver estratégias para que, no momento em que as autoridades sanitárias considerar mais adequado, ocorra uma retomada gradual e segura das atividades produtivas. Na última semana, apresentamos a autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário um conjunto de propostas nesse sentido. A sugestão é que, durante o período de retomada gradual das atividades industriais, sejam realizados testes rápidos para detecção do novo coronavírus nos trabalhadores a cada 15 dias. A operação seria escalonada, aumentando a cada mês, até que os 9,4 milhões de trabalhadores da indústria retomem as suas atividades.
Nossa proposta tomou como base estudo do Imperial College of London, que analisou a experiência bem-sucedida da Coreia do Sul e da Alemanha no combate à pandemia do novo coronavírus. Esse tipo de estratégia prevê um isolamento social inicial amplo, necessário para diminuir drasticamente a taxa de contaminação do vírus. O retorno ao trabalho, no momento em que o número de casos se estabilize ou mesmo diminua, com a consequente redução da pressão sobre o sistema nacional de saúde, ocorreria de forma gradual e segura e responsável, para que o coronavírus não se propague novamente de forma acelerada. A previsão é que a operação dure, pelo menos, seis meses após o fim do isolamento social amplo ou até que a pandemia da covid-19 esteja sob controle. A estratégia é complexa, mas possível de ser realizada, além de necessária para que o retorno ao trabalho ocorra de forma responsável.
BR POLÍTICO – Se o retorno for estimulado sem essas condições, que é o que ocorre no momento, a demanda pode comprometer a oferta?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Obviamente, se não houver produção, a oferta de produtos e serviços ficará comprometida e a maioria dos segmentos da indústria serão afetados, uns mais e outros menos.
BR POLÍTICO – A MP 932 cortou pela metade o dinheiro do Sistema S. Qual é o impacto econômico absoluto dela para o coletivo desses 50%? Qual proposta pretendem lançar para compensar a perda?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Primeiramente é importante destacar que a MP 932 prevê que a redução das contribuições das entidades que integram o Sistema S é provisória e ocorrerá durante três meses. O impacto da medida, neste período, é estimado em R$ 1 bilhão apenas para o Sistema Indústria – que é composto por CNI, SESI, SENAI , IEL e Federações Estaduais da Indústria. A exemplo do que as empresas estão fazendo, amparadas pela MP 936, essas entidades também estão reduzindo salários de seus colaboradores proporcionalmente à jornada de trabalho. Além disso, estão racionalizando ao máximo os seus gastos.
BR POLÍTICO – Quais são as cifras da demanda por linhas de crédito do BNDES oferecidas ao setor industrial?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Não temos essa informação.
BR POLÍTICO – Qual é o balanço que a CNI faz hoje das 37 propostas enviadas ao governo em 19 de março? Qual é o gargalo? Poderia citar exemplos de cada uma das áreas de tributação, política monetária, financiamento e legislação trabalhista?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – A princípio, a avaliação é positiva, mas ainda precisaremos avaliar o real impacto das medidas sobre a economia. Conforme já disse, a grande maioria das sugestões da CNI foram atendidas e outras ainda estão em andamento. A questão agora é calibrar a intensidade de cada uma delas e garantir que sejam efetivas. Mas, em termos de efetividade, ainda faltam ações, em especial na disponibilidade de garantias para que as empresas tenham acesso aos novos recursos disponíveis para financiamento.
O adiamento do pagamento de tributos federais (PIS/Cofins, Contribuição Previdenciária e Simples Nacional) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e as medidas na área trabalhista vão representar a redução de custos ou maior liquidez das empresas em cerca de R$ 180 bilhões. Na nossa avaliação, essas duas medidas estão entre as mais importantes para manter as empresas de portas abertas no pós-crise. A maior oferta de crédito e a redução dos custos de financiamento são outras ações fundamentais para que as empresas consigam atravessar o período de baixa atividade econômica, provocada pelas ações de combate à pandemia. Chamo atenção para três ações que, na visão da indústria, fariam a diferença na obtenção de capital de giro para as empresas que terão o faturamento drasticamente reduzido. São elas: a suspensão dos pagamentos de financiamentos com bancos públicos; a criação de linha de financiamento emergencial para pagar dois meses de folha de pessoal; e o aumento dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para crédito as micro e pequenas.
BR POLÍTICO – Qual é a expectativa da CNI com relação à lei aprovada no Congresso que muda os julgamentos do CARF, dizendo que em caso de empate, a decisão será automaticamente favorável aos contribuintes? Atualmente, o voto decisivo pertence à presidência do colegiado, o chamado ‘voto de qualidade’.
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – A CNI é totalmente favorável à Lei aprovada. A alteração estabelecida pela MP 899 determina que, em caso de empate, o voto minerva deixa de ser dado por um representante do fisco, tal como é feito hoje. Nos últimos 20 anos, apenas em 7% dos casos ocorre um empate. Nesses eventos, voto de minerva dado pelo representante da Fazenda dá vitória ao fisco em 60% dos casos e, nos outros, 40% para os contribuintes. É importante observar ainda que não ocorre nesse julgamento o que podemos chamar de “jogo de turma”, ou seja, representantes do fisco votando em favor do fisco e representantes dos contribuintes votando em favor dos contribuintes. Ainda que não tenhamos apoiada medida no Congresso, acreditamos que o fim do voto minerva operacionaliza o princípio que em dúvida pro réu. Não verificamos nenhum risco à estabilidade ou à confiabilidade do CARF como um centro de resolução de disputas administrativas sobre tributação.
BR POLÍTICO – O Índice de Confiança da Indústria da FGV caiu 3,9 pontos em março, para 97,5 pontos, recuando em 14 dos 19 segmentos pesquisados. Qual é a tendência para os próximos meses?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – O Índice de Confiança do Empresário Industrial, elaborado pela CNI, caiu 4,4 pontos em março, na comparação com fevereiro, para 60,3 pontos. A queda observada é a maior desde junho de 2018, quando o ICEI caiu 5,8 pontos em decorrência da paralisação dos caminhoneiros. A perspectiva é que a confiança do empresário deve ter caído ainda mais em abril.
BR POLÍTICO – Como as projeções de retração da economia chinesa, caso confirmado, pode impactar a indústria brasileira?
ROBSON BRAGA DE ANDRADE – Nossas exportações foram afetadas com o auge da crise do coronavírus na China. Por ser a China nosso maior destino de exportações, as quedas nas vendas para aquele país podem ser recordes, embora os preços das commodities estejam se mantendo. Entretanto, nunca vimos uma projeção de PIB da China tão baixo. A previsão anterior de crescimento de 6% deve, na melhor das hipóteses, cair para algo em torno de 1%. É muito significativo. Além da preocupação com o comércio exterior com a China, o Brasil também tem de se preocupar com as exportações para a América Latina, Estados Unidos e, também, para a Europa, onde a participação de nossa exportação de manufaturados é maior.
A recessão europeia que se avizinha, certamente também deverá reduzir drasticamente nossas exportações para aquele continente. Por essas e outras, mais do que nunca, é fundamental que, assim que possível, o Executivo e o Legislativo cheguem a um consenso para aprovar as reformas estruturais indispensáveis para que o Brasil volte a trilhar o caminho do desenvolvimento econômico e social. Um caminho que ficou ainda mais difícil com a eclosão da pandemia da covid-19.
Entrevista ao blog BR Político, do portal do jornal O Estado de São Paulo.