• OMS recomenda aumento de testagem para países que pretendem relaxar quarentena

    Publicado em 15.04.2020 às 13:56

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou suas recomendações técnicas para o combate ao novo coronavírus. A entidade afirma que os países que pretendem relaxar a quarentena precisarão ter capacidade para testar e isolar todos os casos suspeitos de covid-19.

    De acordo as diretrizes publicadas nesta terça-feira (14), “é essencial ter dados acurados em tempo real sobre os testes dos suspeitos, o isolamento e rastreamento dos contatos e a capacidade de atendimento dos serviços de saúde”.

    As novas recomendações do órgão dizem respeito a seis pontos: a transmissão controlada; a capacidade de atendimento do sistema de saúde; riscos de surto em locais críticos; medidas preventivas em locais de frequência pública como escolas e escritórios; risco de importação de casos e engajamento de comunidades.

    A OMS também aponta que, a cada novo relaxamento, os governos locais devem verificar esses indicadores por um prazo mínimo de duas semanas. A retirada do isolamento social também deve levar em conta características e riscos específicos de diferentes setores da economia, locais de convívio e atividades sociais. Ou seja, quanto maior a chance de contágio, menos amplo deve ser o relaxamento.

    Falta de testes

    Enquanto o presidente Jair Bolsonaro defende o relaxamento do isolamento social, o Brasil segue como um dos países que executaram menos testagem para o novo coronavírus.

    De acordo com dados publicados em 10 de abril, o país já é o 14º do mundo em casos e o que menos testa entre os 15 países mais atingidos. Ao todo, o Brasil faz 296 testes por milhão de habitantes. A Alemanha, um dos países com menor taxa de mortalidade, testa 15.730 por milhão

    Desde que o novo coronavírus foi declarado pandemia, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirma que a testagem é a melhor recomendação para frear e controlar os casos nos países.

    “O Brasil é um dos países com menos testes junto à população, onde a maioria dos casos não está passando no nosso radar. Não estamos identificando os casos e temos muitas mortes provocadas pela covid-19 que não foram atestadas”, afirmou a sanitarista Lúcia Souto à Rádio Brasil Atual. “Portanto, não temos a capacidade de entender qual o tamanho do problema, o que vai resultar numa superlotação dos serviços de saúde.” 

    Os números da pandemia do novo coronavírus avançam no Brasil a cada dia. O novo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (14) registrou 204 mortos nas últimas 24 horas, totalizando 1.532 óbitos em decorrência da covid-19. O número de casos saltou para 25.262. 

    Na avaliação do deputado federal Alexandre Padilha, a única possibilidade de o Brasil ter noção da progressão da pandemia e do grau de isolamento necessário hoje é o dado das internações por síndrome respiratória grave. “Um país que não se preparou para ter testagem em massa, abertura de novas UTIs e equipamentos de proteção aos trabalhadores só vai ter um remédio: a manutenção do isolamento social.”

    O infectologista Evaldo Stanislau Araújo, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), diz que as ações do governo Bolsonaro nessa área foram direcionadas de maneira errada.

    “Em outros países foi provado que o essencial é testar a pessoa. Como você explica ao paciente que ele está com gripe ou não? Eles têm o direito de saber o que têm, faltar teste epidemiológico é uma derrota. Tem técnicos neste governo que vêm atuando bem, mas se equivocaram ao não montar uma política de ampliação dos testes”, afirmou Stanislau, também à Rádio Brasil Atual.