• Análise genética revela que novo coronavírus chegou a Espanha em fevereiro

    Publicado em 23.04.2020 às 09:41

    Uma equipa de cientistas do Instituto Carlos III em Madrid analisou os primeiros 28 genomas do SARS-CoV-2 em Espanha e concluiu que o novo coronavírus já circulava no país em meados de fevereiro. No entanto, o estudo descarta a existência de um “paciente zero”. Segundo o estudo, uma infinidade de pessoas infetadas de outros países entrou em Espanha durante o mês de fevereiro. 

    O jornal El País revela que a equipa, liderada por Francisco Diéz, estudou quase 1600 genomas completos de vírus “lidos” pela comunidade científica internacional até ao final de março. 

    A análise mostra que os 28 genomas espanhóis pertencem às três grandes famílias de vírus identificadas no resto do mundo e denominadas S, G e V, com pouca diversidade entre elas. 

    “Todos os vírus são muito parecidos, em princípio com poucas mutações diferentes, o que é uma boa notícia, mas com toda a cautela”, afirmou Diéz que agora trabalha na Clínica Hospitalar em Barcelona. As vacinas que estão a ser testadas estão a ser investigadas pela atual sequência genética do vírus. Mas uma alta taxa de mutação pode arruinar a eficácia das primeiras vacinas, que deverão chegar dentro de um ano.

    Treze dos genomas espanhóis pertencem à família S e 11 deles estão ligados a um caso anterior detetado a 1 de fevereiro em Xangai. 

    Os três primeiros S identificados em Espanha são amostras colhidas em 26 e 27 de fevereiro em Valencia. Na semana anterior, 2.500 adeptos do Valência viajaram para Milão para assistir ao jogo de futebol Atalanta-Valencia, que foi descrito pelo presidente da câmara de Bergamo como “uma bomba biológica”. 

    No entanto, a análise genética sugere que o novo coronavírus da família S estaria a circular em Espanha desde 14 de fevereiro. 

    Já a família G, com meia dúzia de casos, estava a circular em Madrid desde 18 de fevereiro. 
    Caso de Xangai relacionado com várias amostras
    O estudo permite verificar a propagação do SARS-CoV-2 é explosiva. 

    O caso de Xangai a 1 de fevereiro está relacionado com amostras recolhidas em França a 25 e 26 de fevereiro, em Madrid a 2 de março, no Chile a 3 de março, nos Estados Unidos a 4 de março, na Geórgia a 8 de março e no Brasil a 16 de março. 

    As rotas de transmissão são complicadas. Díez considera que “o ramo específico do novo coronavírus saltou de Espanha para seis países. 
    Não houve paciente zero

    O virologista José Alcamí, revelou ao El País, que em Espanha não houve paciente zero. 

    “Em Espanha não houve paciente zero. Não existe paciente zero quando a pandemia está tão disseminada”. 

    A equipa do geneticista Fernando Gonzáles Candelas, da fundação Valencian Fisabo, que sequenciou os três primeiros genomas espanhóis a 17 de março também afirma que “o paciente zero não existe”. 

    Com base nas informações que temos hoje, acreditamos que havia pelo menos 15 entradas diferentes em Espanha. Algo semelhante ao que aconteceu noutros países, como os Estados Unidos, a Islândia, onde também foram identificadas entradas múltiplas do vírus”, frisou Fernando Gonzáles Candelas. 

    O geneticista destaca que, com base nos genomas completos do SARS-CoV-2 publicados pela comunidade científica mundial, existem mais de 11 mil genomas, 150 deles em Espanha.

    “Em Itália não sequências relevantes para retirar conclusões”, lamenta. 

    Como esses genomas estão ausentes, as possíveis rotas de transmissão de Itália para o resto do mundo são “invisíveis”. 

    Fernando Gonzáles Candelas, que não participou no estudo do Instituto Carlos III, está otimista quando verifica uma baixa diversidade do novo coronavírus. 

    “O SARS-Cov-2 tem uma taxa de mutação mil vezes mais baixa que a gripe ou o HIV. Em princípio são boas notícias”, realça. Vírus na Europa desde janeiro 
    Dados recolhidos num hospital de Nova Iorque revelam que a Covid-19, que chegou aos Estados Unidos no início de fevereiro, foi importada da Europa.

    A descoberta foi feita por um cientista português do Brain Institute, da Universidade de Colombia. Rui Costa e a sua equipa realizaram testes sorológicos ao banco de sangue de um hospital de Nova Iorque e concluíram que a Covid-19 já existia em alguns dadores de sangue desde janeiro. 

    A revelação foi feita à RTP pelo virologista Pedro Simas que afirma que a origem da Covid-19 nos Estados Unidos foi na Europa e não na China. 

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    “Os vírus ao disseminarem-se de país para país, ao longo do tempo, vão acumulando mutações. E essas pequenas mutações servem para identificar de onde é que os vírus veem”. 

    Segundo Pedro Simas, a doença provocada pelo SARS-Cov-2 já estava na Europa desde janeiro. 

    “Já no final de janeiro existia muita infeção na Europa que não estava a ser diagnosticada. E por isso é que em determinados países a Covid-19 se descontrolou. Nomeadamente em Itália, em França e em Espanha”, acrescentou.

    RTP, emissora pública de Portugal