• Novo coronavírus pode persistir no ar em espaços fechados e pouco ventilados

    Publicado em 29.04.2020 às 12:34

    O material genético do novo coronavírus pode ficar concentrado no ar de espaços como casas de banho ou vestiários, revela um novo estudo. Não se concluiu se era transmissível por aerossóis, mas os cientistas recomendam o uso de máscara e a ventilação.Investigadores chineses detetaram a existência do novo coronavírus em suspensão no ar, em espaços fechados de dois hospitais da cidade de Wuhan, o epicentro da pandemia, na China. 

    Divulgado na segunda-feira na revista científica Nature, o estudo revela que o RNA do Sars-CoV-2 pode ser encontrado em aerossóis – pequenas partículas suspensas no ar – pricipalmente em áreas não ventiladas, como casas de banho, balenários ou as salas onde os profissionais de saúde trocam de roupa.
    Até a data sabe-se que a Covid-19 se espalhou rapidamente por todo mundo e que a transmissão acontece, principalmente, através de gotículas respiratórias e contacto direto com pessoas infetadas ou superfícies contaminadas, mas a possível transmissão por aerossóis é um processo ainda pouco conhecido.

    O estudo “Análise aerodinâmica de SARS-CoV-2 em dois hospitais de Wuhan” avaliou a natureza aerodinâmica do novo coronavírus medindo o “RNA viral em aerossóis em diferentes áreas de dois hospitais de Wuhan durante o surto de Covid-19″, nos meses de fevereiro e março.
    De acordo com esta investigação da Universidade de Wuhan, o vírus espalha-se mais facilmente, através do ar, em locais com muita gente e sem ventilação. As áreas comuns que não tinham ventilação suficiente, como as casas de banho usadas ​​pelos pacientes e os vestiários usados ​​pelos profissionais de saúde, revelavam altos níveis de material genético do vírus, assim como em zonas de concentração de pessoas.
    Os níveis de RNA de SARS-CoV-2 no ar na maioria das áreas públicas eram indetectáveis, exceto em duas áreas propensas a aglomeração“, lê-se no documento.
    Embora a “concentração de RNA do SARS-CoV-2 em aerossóis detetados nas enfermarias de isolamento e nas salas de pacientes ventilados” fosse muito baixa, era mais “elevado nas casas de banho dos pacientes”

    Ou seja, nos quartos dos doentes isolados e ventilados, a concentração do RNA viral nos aerossóis era muito baixa, uma vez que devido ao isolamento não há grande aglomeração de pessoas e há uma maior ventilação de ar. Já as casas de banho dos pacientes não são ventiladas e, por isso, detetava-se “uma elevada concentração”. 

    O SARS-CoV-2 que paira no ar pode vir da respiração do doente ou da aerossolização de aerossóis com vírus das fezes ou da urina do doente“, esclarecem os cientistas. Até quando “respiramos ou falamos, a transmissão por aerossóis do SARS-CoV-2 pode ocorrer e atingir pessoas que estejam próximas” ou até mais afastadas, acrescentam. 

    As pessoas produzem dois tipos de gotículas quando respiram, tossem ou falam: as maiores são relativamente pesadas e caem rapidamente no chão ou nas superfícies antes de evaporar; as mais pequenas – as que formam aerossóis – são compostas de gotículas microscópicas e podem permanecer suspensas no ar ou percorrer distâncias superiores a um metro. 

    De facto, este modo de transmissão em aerossóis já foi documentado em outros tipos de coronavírus , como a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e a MERS (Síndrome Respiratória no Oriente Médio).
    Ventilação e higienização são solução
    Os investigadores concluiram que medidas como a desinfecção diária e a renovação frequente do ar podem ser fundamentais para ajudar a controlar a disseminação do vírus, especialmente em meios hospitalares.
    Descobrimos que algumas áreas destinadas aos profissionais de saúde, inicialmente tinham altas concentrações de RNA viral” no ar, mas “esses níveis foram reduzidos para níveis indetetáveis ​​após a implementação de procedimentos rigorosos de higienização“, asseguram os investigadores.
    Não foi possível, admitem os cientistas, concluir que esta pode ser uma forma de transmitir o novo coronavírus e, através dos aerossóis, causar a infeção. 

    Embora não tenhamos estabelecido a infetividade do vírus detetado nestas áreas hospitalares, propomos que o SARS-CoV-2 possa ter o potencial de ser transmitido por aerossóis“. Por isso, os autores do estudo apelam a que se tomem medidas de higienização, ventilação e proteção.
    Os nossos resultados indicam que a ventilação dos espaços, a higienização do vestuário de proteção e o uso e desinfecção adequados das áreas dos sanitários podem efetivamente limitar a concentração de RNA do SARS-CoV-2 nos aerossóis“, garantem.
    Não sendo conclusivo quanto à potencial capacidade de permitir a transmissão da infeção, este estudo pode ter “implicações importantes para a prevenção da saúde pública e a proteção dos profissionais de saúde“.
    Para além da ventilação e higienização dos espaços comuns, fechados e pouco arejados, os investigadores recomendam que a população em geral adote medias de proteção indvidual, “como usar máscara e evitar multidões” e espaços muito movimentados, para reduzir o risco de exposição ao novo coronavírus através do ar.

    RTP, emissora pública de Portugal