• EUA. Profissionais de saúde pedem a manifestantes anti-quarentena que vão para casa

    Publicado em 1.05.2020 às 07:00

    Nos Estados Unidos, nação mais afetada pelo novo coronavírus, milhares de pessoas estão a juntar-se em protestos contra o encerramento dos Estados. Por várias ocasiões, os manifestantes foram confrontados por profissionais de saúde que lhes pediram que fossem para casa, de modo a evitarem uma ainda maior propagação da Covid-19.“A minha vida está em risco. Vão para casa!”, lia-se num cartaz segurado por Yetta Timothy, enfermeira da Pensilvânia, enquanto enfrentava as cerca de duas mil pessoas que a 20 de abril se juntaram junto à sede do governo desse Estado norte-americano para contestar as medidas de distanciamento social e a quarentena impostas para combater a pandemia.

    “Não vamos estar em isolamento para sempre, mas precisamos de o estar durante algum tempo até que [a pandemia] passe. Permitam que ela passe”, apelou a enfermeira aos manifestantes. À estação Al Jazeera, relatou que “foi devastador estar ali a ver e a ouvir todas aquelas pessoas”.

    Outra profissional de saúde no local segurava um cartaz onde se lia: “Não vos quero na minha Unidade de Cuidados Intensivos. Fiquem em casa”.

    O protesto da Pensilvânia foi apenas um dos muitos que têm estado a realizar-se pelos vários Estados norte-americanos para apelar aos governadores que levantem as medidas de prevenção e permitam o regresso dos habitantes ao trabalho.

    Em cinco semanas, mais de 26 milhões de pessoas nos EUA pediram o subsídio de emprego. No domingo, o conselheiro da Casa Branca para a economia avisou que a taxa de desemprego poderá chegar aos 16 por cento.

    Em alguns Estados, entre os quais Geórgia, já foi permitida a reabertura de alguns negócios, de modo a tentar reanimar a economia até agora estagnada. No entanto, este regresso gradual à normalidade é visto como prematuro por especialistas, líderes políticos e profissionais de saúde.

    “Ainda não é altura de reabrir o Estado da Pensilvânia”, defendeu a enfermeira Yetta Timothy. “Sei que outros Estados já começaram a reabrir, mas sinto que isso vai resultar num desastre”.
    “Não somos tratados como cidadãos livres”
    Esta perspetiva contrasta com a dos manifestantes anti-quarentena, tais como Matthew Bellis, que a uma estação de rádio local da Pensilvânia considerou que não está a ser tratado como um cidadão livre. “Estamos a ser tratados como subordinados, objetos, e não vamos permiti-lo mais”, sustentou.

    “O Governo precisa de entender que, como indivíduos, estamos a ser responsáveis, estamos a adotar medidas de segurança, mas não podemos continuar a dificultar a economia, pois esta está diretamente ligada às nossas vidas”, frisou o manifestante, responsável pela organização do protesto de 20 de abril. Também em protestos realizados na Carolina do Norte, Virgínia e Colorado houve profissionais de saúde a fazer frente aos manifestantes.

    Apesar de estes protestos reunirem milhares de pessoas, a maioria dos norte-americanos aparenta estar a cumprir com as imposições de isolamento. Uma sondagem citada pela Al Jazeera concluiu que 71 por cento dos cidadãos estão preocupados com o levantamento de restrições demasiado cedo.

    A mesma sondagem indica que apenas sete por cento da população dos EUA – uma em quatro pessoas – defende que as comunidades deviam reabrir imediatamente.

    O novo coronavírus já infetou mais de um milhão de pessoas nos Estados Unidos, das quais 122 mil recuperaram. O país regista quase 61 mil vítimas mortais.

    RTP, emissora pública de Portugal