Contra Bolsonaro, lideranças do campo democrático se reúnem em 1º de Maio virtual

Publicado em 1.05.2020 às 23:00

Em um 1º de Maio histórico, lideranças políticas do campo democrático se uniram, nesta sexta-feira (1) por meio de uma transmissão virtual, em um evento do Dia do Trabalhador marcado pela oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). 

A data, geralmente caracterizada por festivais, manifestações e ocupação de ruas e avenidas, foi marcada, desta vez, por livessolidárias coordenadas por sindicatos, pela primeira vez na história. O evento deste ano discutiu o tema “Saúde, Emprego e Renda. Em defesa da Democracia. Um novo mundo é possível”.

 O evento reuniu lideranças de nove centrais sindicais e promoveu o encontro até mesmo de lideranças políticas antagônicas, como os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Apesar de virtual, é o primeira vez desde a disputa eleitoral de 1989 que os ex-presidentes dividem o mesmo palanque.

Em um discurso voltado para a transformação social em meio à pandemia. Ao se referir a Jair Bolsonaro, sem citá-lo pelo nome,  Lula apontou que grandes tragédias revelam o “verdadeiro caráter das pessoas e das coisas”.

“Não me refiro apenas ao deboche do presidente da República com a memória de mais de cinco mil brasileiros mortos pela covid. A pandemia deixou o capitalismo nu”, disse.

O ex-presidente destacou ainda que o coronavírus atinge o conjunto da população e mostra “que a raça humana não é imortal”, mas fez coro em defesa da esperança.  

A história nos ensina que grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações. O que eu espero é que o mundo que virá depois do coronavírus seja uma comunidade universal, em que o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo, e a economia e a tecnologia estejam a serviços deles, e não o contrário, como aconteceu até hoje. No mundo que eu espero, o coletivo haverá de triunfar sobre o individual.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a realização de um ato unificado se justifica porque o país “enfrenta um momento de medo, da pandemia e do desemprego”. 

“Não é hora de nos desunirmos. É hora de nos juntarmos porque temos que construir um futuro. O futuro tem que ser construído a partir das condições do presente. São negativas, eu sei, mas são as que nós temos”, afirmou o ex-presidente sem citar Bolsonaro diretamente.

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Entre os ex-presidentes, Dilma Rousseff foi a mais direta no recado ao atual ocupante do Planalto.
Ela afirmou que “a luta por dias melhores para todos se intensifica nesse momento”, pediu unidade e finalizou com a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”.

Se o presidente despreza a vida e dá de ombros dizendo e dai, nossa busca determinada por mudanças mostrará a ele que o povo brasileiro vai impor sua vontade e retomar o caminho da justiça social e do desenvolvimento do país. Não nos resta outro caminho agora que não gritar fortemente de maneira corajosa Fora Bolsonaro, viva os trabalhadores do Brasil, viva as forças populares do país.

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Dilma se referiu a este primeiro de maio como “especialmente grave diante da morte de mais de 5 mil brasileiros vítimas da negligência e da omissão de um governo liderado pelo mais brutal e desalmado chefe de estado entre todas as nações do planeta. Irresponsavelmente, Jair Bolsonaro desdenha da doença, zomba dos mortos e avilta a cadeira de presidente da República”. 

Dilma também afirmou que Bolsonaro “não se envergonha em promover a desordem e a destruição da ordem democrática apoiando protestos contra as instituições da República” e ressaltou que o atual mandatário “elogia torturadores, desrespeita a vida das pessoas, despreza a ciência, os médicos e trata governadores  e prefeitos como inimigos”.

O ex-presidenciável Fernando Haddad reconheceu que este se trata de “mais um ano difícil para a classe trabalhadora, sobretudo no Brasil. Já pelo quarto ano consecutivo, os governos neoliberais, de Temer e Bolsonaro, vêm atacando todas as conquistas de décadas da classe trabalhadora”. 

Para Haddad, a “nossa tarefa é resistir, mais um vez, impedir os retrocessos e recompor o campo progressista, vigiar aqueles que foram eleitos com as bandeiras trabalhistas e combater os neoliberais que estão dilapidando os nossos direitos para que nós possamos recobrar a força necessária”.

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O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), classificou esse primeiro de maio com um momento de “aflição e angústia” e apontou que  o conjunto de conquistas históricas da classe trabalhadora “tem sido desmontado aproveitando o desespero em que se encontra, no caso brasileiro, mais da metade da nossa população”.

Ciro lembrou que antes da pandemia de coronavírus o país já contava com 13 milhões de trabalhadores desempregados e 38 milhões na informalidade.

Precisamos tão logo passe essa crise refletir sobre o que aconteceu ao Brasil pra chegar onde chegamos e em paralelo construir as bases de um novo projeto nacional de desenvolvimento que coloque no centro das preocupações do Brasil, o trabalho, o trabalhador e a trabalhadora e suas famílias e não a especulação e a destruição do nosso país.”

A ex-presidenciável Marina Silva (Rede), classificou esse 1º de maio como o mais difícil desse século, em função da pandemia do novo coronavírus e afirmou que o momento é de união em defesa da vida.

“Nesse primeiro de maio temos que estar unidos em torno daquilo que mais interessa. E o que mais interessa é a defesa da vida, a proteção dos direitos e a defesa da democracia. É a hora da escolha entre a lógica perversa do mercado e a lógica amorosa do cuidado”, disse.

Marina fez críticas a Bolsonaro e por estimular as pessoas a irem para as ruas e atentar contra a democracia em meio à crise sanitária e econômica.

Como se não bastasse todo o sofrimento que estamos passando, aqui no Brasil nós temos um governo que o tempo todo estimula as pessoas a irem para a rua para poder se contaminar ainda mais porque é isso o que acontece e ainda fica ameaçamndo o enraquecimento da democracia e das instituições. “

(Brasil de Fato)