• Covid-19. Testes usados nos profissionais de saúde de Madrid não são fiáveis

    Publicado em 6.05.2020 às 07:33

    Um documento da administração regional de saúde de Madrid revela que os 100 mil testes rápidos de despiste de Covid-19 adquiridos para testar os profissionais de saúde têm um nível de confiança muito baixo. Um em cada três positivos é falso, avança o jornal espanhol El País. Há um mês, a responsável pela Consejería de Sanidad de Madrid (administração regional de saúde de Madrid) afirmou que a sensibilidade dos testes chegava a 92 por cento e apresentou a compra como um bom exemplo de gestão. 

    “Foi testado com um estudo de microbiologia no Hospital de La Paz e mostrou mais fiabilidade e confiança dos que os fornecidos pelo Governo”, frisou na altura Isabel Díaz Aysuso. 

    Segundo El País, que cita um documento do Serviço de Farmácia da Diretoria de Assistência Sudeste, a sensibilidade dos testes é de 74,9 por cento e fornecem resultados menos precisos que os restantes indicadores. 
    Por exemplo, 36 por cento dos positivos são realmente falsos positivos. Já na chamada especificidade – a percentagem de pessoas sem anticorpos que dão um resultado negativo – chega a 74 por cento. Ou seja, em casa quatro casos é obtido um falso positivo. 
    O documento, que têm a data de maio, frisa que os testes de fiabilidade foram realizados num “laboratório de microbiologia de Madrid”. 

    Os testes foram comprados à empresa holandesa BiozeK Medical, que na sua página na internet se define como uma empresa especializada em produtos de diagnóstico. 

    BiozeK Medical alega que os testes têm uma fiabilidade de 85 a 100 por cento, dependendo do anticorpo e indicador. 

    A administração regional de saúde de Madrid pretende realizar estes testes a todos os profissionais de saúde, uma iniciativa criticada pelos profissionais e por vários hospitais que duvidam do nível de fiabilidade dos testes. Em Espanha, o número de profissionais de saúde infetados com Covid-19 continua a aumentar. Dados do Ministério da Saúde espanhol revelam que existem 44 mil casos positivos, um aumento de 40 por cento em duas semanas. 

    Estes testes medem a presença de anticorpos que o organismo produz quando identifica a presença de um vírus.

    Também várias organizações sindicais ligadas à área da saúde revelaram algumas dúvidas sobre a credibilidade destes testes. 

    “Não tem sentido estender o uso de testes de fiabilidade duvidosa e os dados epidemiológicos também não vão ser usados”, afirmou Rosa Vicente do sindicato CSIT. 

    A administração regional de saúde de Madrid planeava testar os 86 mil profissionais de saúde da capital espanhola. No entanto, o número seria muito mais baixo porque os grandes hospitais madrilenos já estão a fazer testes por conta própria. 

    Entre os testes realizados pelos hospitais está o “Elisa” considerado mais complexo e fiável. 

    A gestão dos testes causou queixas entre os pouco mais de 13 mil profissionais de saúde primária. 

    Os médicos de alguns centros de saúde de Madrid queixam-se de discriminação entre os profissionais que prestam serviço nos hospitais e os que prestam cuidados primários. 

    Já um relatório recente da Sociedade Espanhola de Doenças Infeciosas e Microbiologia Clínica (SEIMC) não recomenda os testes rápidos aos profissionais de saúde. “Não são totalmente credíveis, como foi avaliado pelo Instituto de Saúde Carlos III”, afirma o documento. 

    O chefe de serviço de doenças infeciosas do Hospital Virgen del Rocío (Sevilha) e ex-presidente do SEIMC considera que “foram geradas expetativas inadequadas com os testes rápidos”. 

    “São testes que podem ser usados em pacientes específicos e numa determinada situação, mas não têm confiabilidade para diagnosticar um profissional de saúde assintomático”, afirmou José Miguel Cisneros. 

    Para Cisneros, “o uso destes testes tem algum perigo. As pessoas podem sentir-se protegidas depois de ter um resultado positivo ao pensar que a infeção já passou”. 

    “Com a fiabilidade desses testes e a incerteza sobre a imunidade que o vírus deixa, o ideal é os trabalhadores de saúde continuarem a usar sempre equipamentos de proteção, como máscaras”, realça.

    RTP, emissora pública de Portugal