Covid-19. Cientistas consideram possibilidade de transmissão por via sexual
Investigadores chineses descobriram a presença do novo coronavírus no sémen de alguns infetados. Apesar de se tratar de uma minoria, os cientistas colocam a possibilidade de a doença ser transmissível sexualmente, mas reconhecem que são necessários mais estudos para comprovar. Um estudo realizado por médicos no hospital municipal de Shangqiu, na China, investigou 38 doentes hospitalizados com Covid-19 do sexo masculino. Concluíram que desta total, seis infetados (16 por cento) testaram positivo para a presença do SARS-CoV-2 no seu esperma.
Para além disso, o estudo revela ainda que neste teste, quatro dos 15 pacientes que estavam na fase aguda de infeção testaram positivo, bem como dois dos 23 infetados que se encontravam já em recuperação.
As conclusões levantam a hipótese de transmissão sexual da Covid-19. No entanto, os investigadores ressalvam que, uma vez que o estudo é preliminar e baseado numa pequena amostra de infetados, são necessárias mais pesquisas para comprovar.
“São necessários mais estudos com informações detalhadas sobre a dispersão do vírus, tempo de sobrevivência e concentração no sémen”, escreveu a equipa de investigação no estudo publicado na quinta-feira no Journal of the American Medical Association.
“Se for possível provar que o SARS-CoV-2 pode ser transmitido sexualmente, [isso] pode ser uma parte crítica para a prevenção”, acrescentam os investigadores, “especialmente considerando o facto de que o SARS-CoV-2 foi detetado no sémen de pacientes em recuperação”.
Especialistas independentes reconhecem a importância destas conclusões, mas sublinham que é necessária muita prudência, tendo em conta que outros estudos neste contexto não alcançaram as mesmas conclusões.
Estudos semelhantes com resultados negativos
A possibilidade de transmissão sexual da Covid-19 já tinha sido alvo de outros estudos. Tal como explica Sheena Lewis, professora de medicina reprodutiva da Queen’s University de Belfast, este é um “estudo muito pequeno” e as suas descobertas estão de acordo com outros estudos pequenos que mostram uma reduzida ou mesmo nenhuma presença de SARS-CoV-2 em testes de amostras de sémen.
“No entanto, os efeitos a longo prazo do SARS-CoV-2 na reprodução masculina ainda não são conhecidos”, concluiu Lewis. Um pequeno estudo realizado também na China investigou 12 pacientes entre fevereiro e março e concluiu que todos eles testaram negativo para a presença do novo coronavírus em amostras de sémen.
Allan Pacey, professor de andrologia da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, considera que estes estudos não devem ser vistos como conclusivos, dado que existiram algumas dificuldades técnicas na realização dos testes. Argumenta que estes testes não concluem se a presença do novo coronavírus no esperma é capaz de causar infeção.
Para além disso, Pacey diz que no caso de as conclusões deste estudo se confirmarem, não são inesperadas: “Não nos devemos surpreender se o vírus que causa a Covid-19 for encontrado no sémen de alguns homens, já que isso foi demonstrado com muitos outros vírus, como Ébola e Zika”.
c/ agências/ RTP Notícias