Acuado pela recessão cevada por Guedes, Bolsonaro joga para a plateia, diz PT
O presidente Jair Bolsonaro insiste que o isolamento social precisa ser afrouxado no país para evitar o colapso da economia. Em tom dramático, fala em “morte de CNPJs” e na falta de renda da maioria das pessoas. Só não diz que a economia está em coma desde 2016, quando Dilma Rousseff deixou o governo, deposta por um impeachment fraudulento, que contou diretamente com seu voto e apoio. A ida de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal, na quinta-feira (7), acompanhado de Paulo Guedes e empresários, para pressionar a corte a rever medidas de distanciamento social, a fim de “tirar CNPJs da UTI”, é o fracasso da agenda neoliberal.
Gleisi Hoffmann: “Vejam o que essa gente pensa: o povo pode morrer, a economia. É o contrário”
A ‘visita’ do presidente ao STF – uma pressão ilegítima tomada por um governante insensível que só está interessado em manter-se a qualquer custo no Planalto, nem que seja sobre uma pilha de cadáveres – provocou reações na mídia e em políticos. “Olha o que essa gente tá pensando?”, criticou a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), após a ida de Bolsonaro ao gabinete do presidente do Supremo, Dias Toffoli. “O povo pode morrer, a economia, não”. Ela se mostrou particularmente irritada porque Bolsonaro na reunião no STF parecia um comentarista político e não o chefe do Estado brasileiro. “Não vai governar?”, questionou.
Crédito só para os grandes
O líder do partido na Câmara, Enio Verri (PR), diz que Guedes e Bolsonaro só têm olhos para os grandes empresários do país. “Dos R$ 40 bilhões disponíveis para financiar as micro e pequena empresas, apenas 1% foi liberado pelo governo”, condenou. “Pequenos negócios, cuja folha de pagamento não passe por bancos, não podem acessar crédito”. É a prova de que as políticas desenhadas por Paulo Guedes não têm qualquer base na realidade e revelam o descaso com os pequenos negócios.
Agora, diante da queda da atividade em diversos setores – a indústria caiu 9,1% em abril e a previsão é de um tombo de 20% a partir de agosto, o desemprego deve chegar a 20 milhões e o PIB pode cair até 5%, numa previsão considerada otimista do FMI – Bolsonaro finge não ver que a responsabilidade pelo aumento da desigualdade e da economia moribunda é consequencia direta da sua política econômica, baseada na ausência de investimentos públicos e arrocho salarial e de renda. E isso é apenas uma parte do receituário ortodoxo de Paulo Guedes.
Humberto Costa: ”Bolsonaro e seu grupo de empresários protagonizaram o espetáculo da insensibilidade, ontem, na ida ao STF para pressionar a ‘reabertura do país. Deixaram bem claro que preferem a morte de CPFs, brasileiros trabalhadores, do que a instabilidade passageira nos CNPJs”
Insensibilidade e constrangimento
Ex-ministro da Saúde, o senador Humberto Costa (PT-PE) também se mostrou chocado com o comportamento de Bolsonaro. “Ele e seu grupo de empresários protagonizaram o espetáculo da insensibilidade, ontem, na ida ao STF para pressionar a ‘reabertura’ do país. Deixaram bem claro que preferem a morte de CPFs, brasileiros trabalhadores, do que a instabilidade passageira nos CNPJs”, questionou.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) foi outro a condenar a “visita de cortesia” de Bolsonaro, chamando-a de constrangedora. “Mais uma tentativa de Bolsonaro e Guedes de se eximirem de governar”, atacou. “Sabem bravatear, vender estatais valiosas e cortar direitos dos vulneráveis. Diante da crise, tentam terceirizar suas responsabilidades”. Ele comentou que até os próprios empresários que participaram da reunião originalmente agendada no Palácio do Planalto relataram que o assunto “relaxamento do isolamento” não estava na pauta. “A dupla Bolsoguedes preferiu atravessar a rua e jogar o problema no colo do STF”, reclama o parlamentar.