• Bachelet diz que pandemia dá lição sobre importância de investimentos sociais

    Publicado em 15.05.2020 às 13:38

    A pandemia de covid-19 está evidenciando várias lições sobre o despreparo para enfrentar uma crise de saúde global.

    Isto se vê até mesmo em países ricos e poderosos. A declaração é da alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet. 

    Hemisfério Sul 

    Médica pediatra e ex-presidente do Chile, por duas vezes, Bachelet lembrou que a pandemia deve durar por algum tempo, uma vez que apenas agora se espalha pelos países em desenvolvimento no Hemisfério Sul. 

    Ela falou dos efeitos catastróficos sobre economias e da forma como a covid-19 evidencia as desigualdades sociais feitas por mãos humanas. 

    E são os marginalizados e mais pobres que sofrem mais com o que a alta comissária chamou de os maiores déficits de direitos humanos. 

    Negligência 

    Para Bachelet, a covid-19 está ensinando algumas lições entre elas o alto preço pago pela negligência dos direitos econômicos e sociais de partes da população. 

    Ela afirma que é preciso aprender a lição agora para evitar outras crises previsíveis e que requerem solidariedade global como a mudança climática. 

    Bachelet lembrou que alguns países já começam a reabrir suas economias e outros veem um aumento no número de novas infecções e mortes. 

    A isso, juntam-se complicações sobre a falta de informação a respeito do comportamento do vírus e do tempo que levará para que ele esteja sob controle. 

    Teste de liderança 

    Para a ex-presidente chilena, a resposta de cada país afetará a todos numa questão que é também um teste de liderança política. 

    A alta comissária de Direitos Humanos afirma que reabrir o país rapidamente pode levar a uma segunda leva de infecções, que deve custar mais vidas. 

    E que qualquer tentativa de retomar a rotina de trabalho, das escolas e de movimentos não será livre de riscos. 

    Bachelet lembrou que apenas alguns países aplicaram as recomendações de testagem, rastreamento, tratamento e isolamento desde o surgimento da pandemia. Ela citou Coreia do Sul, Alemanha e Nova Zelândia por tomarem medidas corajosas e rapidamente. 

    Ressurgimento 

    Mas ressaltou que mesmo ali, ocorre um ressurgimento de casos ainda que em menor escala após a reabertura.

    Ao comentar riscos em asilos e residências para a terceira idade, Bachelet afirmou que antes de reabrir é preciso ter planos para esses locais. 

    Testar residentes e funcionários de instituições psiquiátricas, centros de tratamento para dependentes químicos, e assegurar que haverá isolamento e cuidados para quem se infectar com o novo coronavírus.

    Bachelet disse que a negligência com idosos durante a pandemia foi horrorosa.

    Superlotação 

    Ela pediu medidas para detentos, migrantes, refugiados e deslocados internos, e que fosse dada atenção ao problema da superlotação. 

    Michelle Bachelet defendeu medidas especiais em favelas urbanas e outras áreas sem água corrente, saneamento básico e cuidados de saúde. 

    A alta comissária citou outros grupos vulneráveis como pessoas com deficiência e pacientes com doenças crônicas recomendando que as medidas se baseiem em dados e ciência. 

    Dívida

    Para ela, jamais foi tão claro compreender que ninguém deve ser excluído de programas de proteção social e que os países pobres vão precisar do apoio da comunidade internacional.

    Bachelet disse que o alívio da dívida dos países pode ajudar a redirecionar os recursos para gastos em áreas chaves como saúde, alimentação, água e saneamento, emprego e proteção social. 

    A alta comissária elogiou países africanos que mesmo afetados por epidemias de ebola e HIV conseguiram responder rapidamente com medidas para evitar a contaminação com a covid-19. Muitos inclusive estão fornecendo assistência alimentar a grupos mais carentes. 

    Violência de gênero 

    Bachelet manifestou preocupação com o aumento da violência de gênero, do discurso de ódio e da desinformação.
    Para ela, é fundamental proteger os trabalhadores e aqueles considerados essenciais que recebem salários baixos.

    Por fim, a alta comissária de Direitos Humanos da ONU defendeu o envolvimento e constante consulta à população sobre as medidas e decisões que vão afetá-las diretamente. 

    Confiança 

    Bachelet diz que isso ajuda a criar mais confiança nas autoridades. 

    E que ainda que seja difícil para os políticos não pensarem em política, está claro que essa pandemia não será resolvida por ideologias ou política, mas sim políticas públicas sensíveis, cuidadosas e geridas por líderes humanos e compassivos. 

    Lugar na História 

    Para Michelle Bachelet o equilíbrio entre obrigações econômicas, de saúde e de direitos humanos durante a pandemia é uma das experiências mais delicadas e decisivas na vida de todos os líderes e governos.