• China ridiculariza Trump por ameaçar com corte de relações

    Publicado em 15.05.2020 às 16:13

    A economia global foi uma das vítimas do novo coronavírus e, ainda longe do rescaldo da pandemia, os Estados Unidos e a China não dão tréguas nem põem fim à “guerra comercial”. A tensão entre Washington e Pequim tem-se agravado nas últimas semanas devido à Covid-19, mas esta semana Donald Trump ameaçou cortar “relações” com a China, que, por sua vez, ridiculariza os EUA e pede cooperação.As relações comerciais menos amigáveis entre os EUA e a China não são de agora, mas em janeiro deste ano Donald Trump e Xi Jinping definiram um novo acordo e, mesmo mantendo as acusações sobre a alegada ameaça de segurança nacional que algumas empresas chinesas podiam representar para os EUA, tudo apontava para que as relações económicas entre as duas potências melhorassem.
    Na altura, o presidente norte-americano afirmou mesmo que a “relação com a China é a melhor que já existiu” e que, ao assinarem o acordo comercial preliminar, iriam “unir os países”. Contudo, desde que surgiu a Covid-19, os EUA e a China acusam-se e culpam-se mutúamente, tendo agravado as tensões anteriores entre os dois países. 

    Mas na quinta-feira Donald Trump disse estar “muito dececionado” com a forma como Pequim geriu a crise e acrescentou que não quer falar, por agora, com Xi Jinping, ameaçando mesmo cortar relações com a China.
    Eu tenho um relacionamento muito bom [com Xi Jinping], mas neste momento não quero falar com ele“, disse Trump, durante uma entrevista à estação televisiva Fox Business.

    A Covid-19 alimentou a “guerra” entre Washington e Pequim, principalmente porque a Administração Trump fomenta a hipótese de a China ser responsável pela disseminação da pademia, por alegadamente ter começado por “esconder” inicialmente informações sobre a gravidade do novo coronavírus, ao qual Trump se refere como o “vírus chinês”. Já a China acusa os EUA de ineficácia na resposta à crise da Covid-19.
    O presidente norte-americano considera que as informações que a China omitiu podiam ter evitado a pandemia e, por isso, a possibilidade de retaliações contra o Governo de Pequim não está fora de questão.

    “Há muitas coisas que podemos fazer. Podemos romper todas as relações”, afirmou Trump. “Se fizéssemos isso, o que aconteceria? Pouparíamos 500 mil milhões de dólares [cerca de 460 mil milhões de euros]”, acrescentou o presidente.
    Já na quarta-feira, Trump voltou a referir-se às “caras” relações com a China, afirmando que “100 acordos comerciais” não se comparam a “todas as vidas inocentes perdidas” devido à “praga da China”.

    Embora se mostre preocupado com a crise sanitária nos Estados Unidos e com a situação económica nacional, Trump não parece querer pôr termo aos conflitos comerciais com a China. 

    Para intensificar a escalada, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, acusou a China de ser responsável também por ataques informáticos – alegadamente perpetrados por piratas informáticos chineses- visando informações sobre vacinas e tratamentos em teste nos EUA contra a Covid-19.

    Num comunicado, Pompeo exortou a China a “interromper as suas atividades malfeitoras” e considerou os ataques cibernéticos contra “a propriedade intelectual dos Estados Unidos e dados relacionados com investigações sobre a covid-19” apenas uma “extensão das suas ações contraproducentes durante a pandemia”.
    “Enquanto os Estados Unidos e os seus aliados estão a coordenar uma resposta coletiva e transparente para salvar vidas, a China continua a silenciar cientistas, jornalistas e cidadãos, e a espalhar desinformação, o que exacerbou os perigos dessa crise de saúde”, acrescentou Pompeo.EUA aumentam restrições à empresa chinesa Huawei
    Em plena escalada da tensão entre os Estados Unidos e a China, com a pandemia como pretexto para novos desentendimentos, a Administração Trump anunciou ainda medidas para reduzir a capacidade de produção de semicondutores com tecnologia norte-americana da empresa chinesa Huawei – que segundo Trump é uma ameaça à segurança nacional.

    As autoridades norte-americanas há muito que pressionam as empresas dos EUA e dos países aliados para que não aceitem tecnologia da Huawei, nomeadamente para o desenvolvimento de redes de telecomunicação 5G, alegando risco de espionagem de uma organização que dizem estar ao serviço do Governo chinês.
    Esta sexta-feira, o Departamento de Comércio dos EUA anunciou ter bloqueado estrategicamente as compras de semicondutores da Huawei que recorram a ‘know-how’ norte-americano.

    “Este anúncio bloqueia os esforços da Huwaei para contornar os controlos de exportação”, esclareceu o Departamento de Comércio num comunicado.
    A Huawei e 114 empresas suas subsidiárias foram colocadas numa lista negra e obrigadas a obter licenças especiais sempre que quiserem exportar tecnologia para produtos dos EUA.

    “Contudo, a Huawei continuou a usar programas de computador e tecnologia americana para desenvolver semicondutores, prejudicando a segurança nacional e o objetivo diplomático das medidas”, explicou ainda o Departamento de Comércio.

    Esta medida pode, no entanto, intensificar o conflito EUA-China.China apela à cooperação contra o vírus 
    Em resposta à ameaça norte-americana, a China apelou a uma cooperação “mais próxima” com os Estados Unidos na luta contra a pandemia.

    “Manter relações estáveis entre a China e os Estados Unidos é do interesse fundamental dos dois povos e da paz e estabilidade no mundo”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Zhao Lijian, esta sexta-feira.
    Parecendo quase ridicularizar as ameaças e acusações de Trump, a China contra-ataca no mesmo registo.
    O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China acusou, na quinta-feira, as autoridades norte-americanas de falharem no combate à Covid-19 e de “abusarem da confiança do povo americano”.

    Zhao Lijian respondeu às denúncias de um alegado encobrimento dos riscos do novo coronavírus por parte de Pequim, quando este surgiu pela primeira vez na cidade de Wuhan, e acusou as autoridades norte-americanas de terem estado envolvidas “na manipulação política de responsabilidades e em desvios de dinheiro”, em matérias relacionadas com a pandemia.

    Além disso, a diplomacia chinesa desvalorizou ainda a possibilidade de os EUA colocarem uma ação criminal internacional contra Pequim, pelas acusações de negligência e “ocultação de informação” no início da pandemia.

    O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China acusou ainda os EUA de lidarem com a crise sanitária de forma “frívola” e “ineficaz”, aconselhando o Governo norte-americano a “concentrar-se mais em combater a pandemia e salvar a vida e a saúde do povo americano, de quem tem abusado da confiança”.

    As tensões EUA-China complicam-se a cada dia e, entre os contra-ataques e atribuições de culpa devido à pandemia, torna-se menos provável que alcancem um acordo comercial e ponham fim ao conflito.

    RTP, emissora pública de Portugal