Trump ameaça terminar indefinidamente contribuição para OMS e sair da organização

Publicado em 19.05.2020 às 07:42

Ou há “melhorias significativas” em 30 dias ou os EUA põem fim em definitivo aos milhões para a Organização Mundial de Saúde. O Presidente norte-americano ameaçou a OMS, acusando-a de uma “alarmante falta de independência” face à China e admitiu a saída do país da organização. “Se a OMS não se comprometer com melhorias significativas nos próximos 30 dias, tornarei a suspensão temporária de fundos à OMS permanente e reconsiderarei a nossa participação na agência”, ameaçou Donald Trump, numa carta que enviou ao diretor-geral da Organização Mundial de Saúde e depois partilhou no Twitter. 

Em quatro páginas, o presidente retoma a linha de crítica à Organização no que toca ao combate à Covid-19 e à falta de independência. Depois de na manhã de segunda-feira ter chamado a OMS de “marioneta da China”, agora, preto no branco, acusa a instituição das Nações Unidas de “uma alarmante falta de independência” em relação a Pequim

“A única forma de avançar, para a OMS, é se realmente for capaz de demonstrar independência em relação à China”, defendeu o Presidente norte-americano na carta. 

Trump revela que a sua Administração já iniciou conversações “sobre como reformar a organização” com o responsável da OMS, Tedros Adhanom, acrescentando que “não há tempo a perder” e que “é necessário atuar rapidamente”. 

A carta dos EUA surge num contexto de forte pressão à OMS e à gestão de Tedros Adhanom na assembleia geral anual da instituição, este ano feita de forma virtual entre os representantes dos Estados que integram a Organização Mundial de Saúde

A reunião de dois dias deverá terminar hoje, terça-feira. Ontem, o diretor geral da OMS foi “obrigado” a apoiar uma investigação independente à gestão da OMS nesta pandemia. Afirmou que irá ser feita uma avaliação independente “no primeiro momento oportuno”. 

Trump tem sido o líder mundial mais crítico da instituição. No dia 14 de abril, Trump suspendeu a contribuição do país à OMS, anunciando que iria conduzir um estudo “para examinar o papel da OMS na má gestão e ocultação da disseminação do novo coronavírus”. 

Na carta enviada ao responsável da OMS, Trump deu por concluída a avaliação, confirmando “muitos dos sérios problemas” de que acusava a organização

Trump acusa a agência de “ignorar constantemente” o que descreve como “relatos credíveis” de um vírus a disseminar-se em Wuhan no início de dezembro ou mesmo antes. Acusa a OMS de adiar a declaração de emergência mundial por pressão da China e de publicamente elogiar a “transparência” chinesa, quando haveria relatos de censura e de falta de cooperação internacional. 

Trump conclui que os “repetidos passos em falso” de Tedros e da OMS foram sinónimo de um “elevado custo para o mundo”.

Até agora o maior contribuinte para a OMS, os Estados Unidos davam anualmente 400 a 500 milhões de dólares à organização, entre contribuições obrigatórias e voluntárias. 

Os Estados Unidos são atualmente o país com mais mortos por covid-19 (mais de 90.000) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,5 milhões). 

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 316.000 mortos e infetou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios

A doença é transmitida por um novo coronavírus que a China revelou ao mundo no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China. 

A China tem vindo a ser acusada de ter escondido informação e de ter mal conduzido a resposta ao coronavírus. Países como EUA, mas também a União Europeia, Austrália ou por exemplo a Nova Zelândia têm defendido uma avaliação independente da resposta global à pandemia. 

Pequim tem sempre repudiado estas alegações. No início do mês, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China argumentou que a comunicação da informação relevante da pandemia tem sido feita de forma transparente e atempada.

RTP, emissora pública de Portugal