Telégrafo do Titanic vai poder ser recuperado dos destroços
Na segunda-feira, uma juíza do tribunal federal de Norfolk, no Estado da Virgínia, nos EUA, autorizou a missão para resgatar o telégrafo sem fios do Titanic. A aprovação gerou polémica, dado que pressupõe corte de parte da estrutura do transatlântico.Passados 108 anos desde o naufrágio do Titanic, foi autorizada a recuperação do telégrafo sem fios do transatlântico. A aprovação foi concedida por Rebeca Beach Smith, juíza do tribunal federal de Norfolk, no Estado da Virgínia, que considerou a iniciativa “uma oportunidade única para recuperar um artefacto que contribuirá para o legado deixado pela indelével perda” do navio.
A expedição será organizada pela RMS Titanic Inc, uma empresa privada com direitos exclusivos para recuperar artefactos do navio. A aprovação é uma vitória para a empresa, que tentou durante décadas obter o direto de recuperar o equipamento.
“Enquanto muitos objetos que permanecem dentro e à volta dos destroços do Titanic têm a capacidade de esclarecer gerações sobre a vida dos seus passageiros, apenas um item conta a história de todos os sobreviventes”, disse Bretton Hunchak, presidente da empresa, em comunicado no Facebook. Os destroços do navio foram encontrados em setembro de 1985, a 3.800 metros de profundidade, a 600 quilómetros da Terra Nova.
A missão é polémica dado que pressupõe o corte de parte da estrutura do navio e em 2000, o mesmo tribunal tinha decidido que não se podia proceder ao corte ou subtração de nenhuma parte do transatlântico. Beach Smith revogou agora esta decisão, apoiando-se no argumento da empresa de que os destroços do navio se estão a deteriorar rapidamente.
Muitos arqueólogos também se opõem ao projeto considerando que o Titanic deve ser respeitado, pois é o local onde se encontram sepultadas as cerca de 1.500 pessoas que morreram no naufrágio.
A última mensagem
O telégrafo sem fios teve um papel de protagonismo no naufrágio, pois foi através dele que a tripulação recebeu os alertas sobre a presença de icebergs, avisos que foram ignorados. As mensagens enviadas oferecem, por sua vez, acesso aos últimos momentos a bordo da viagem inaugural do Titanic, em abril de 1912.
Nas horas antes de o Titanic ter sido totalmente engolido pelo oceano após atingir um iceberg, os operadores do telégrafo emitiram uma série de pedidos de socorro. A última mensagem foi emitida apenas alguns minutos antes de afundar e foi curta: “Venham rápido. A sala de controlo está quase inundada”.
A empresa RMS Titanic Inc defende, por isso, a recuperação do telégrafo, argumentando que o sistema “continua a ser um herói desconhecido, responsável por inúmeras gerações de famílias que existem apenas porque o rádio pediu ajuda em nome dos seus ancestrais”.
“Por esse motivo, precisamos de recuperar esse incrível pedaço da história para resgatar o rádio que salvou 705 vidas de serem tiradas ao mundo naquela noite fatídica”, lê-se ainda no comunicado.
Apesar da aprovação, a realização da expedição não está assegurada, uma vez que está ainda por definir o financiamento do projeto, o que poderá antever-se difícil face à atual pandemia de Covid-19.
Caso a empresa consiga obter esse financiamento, a RMS Titanic Inc poderá comerçar a operação já no próximo verão, com a utilização de tecnologia de ponta para retirar o telégrafo sem fios, um dos primeiros a ser fabricado pela Marconi.
RTP, emissora pública de Portugal