• Crise climática: continente antártico registra temperatura recorde de 18,3°C

    Publicado em 7.02.2020 às 19:58

    Novos temores de danos acelerados nas camadas de gelo do planeta e aumento do nível do mar foram alimentados pela confirmação da agência meteorológica da ONU de que a Antártica provavelmente registrou um novo recorde de temperatura de mais de 18°C na quinta-feira (6).

    Falando a jornalistas em Genebra, a porta-voz Clare Nullis, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), disse que a temperatura recorde registrada no norte do continente é considerada incomum, mesmo nos meses mais quentes do verão.

    “A base de pesquisa argentina, chamada Esperanza, fica no extremo norte da península Antártica; ontem estabeleceu um novo recorde de temperatura: 18,3°C, o que não é um número que você normalmente associaria à Antártida, mesmo no verão. Isso bate o recorde anterior de 17,5°C, que foi retomado em 2015.”

    Agora, especialistas da OMM verificarão se a temperatura extrema é um novo recorde para o continente antártico, que é definido como a principal massa continental.

    O continente antártico não deve ser confundido com a região antártica, que é toda parte ao Sul a 60 graus de latitude, e onde uma temperatura recorde de 19,8°C foi registrada na ilha de Signy em janeiro de 1982.

    Fenômeno “Foehn”

    Os especialistas da OMM vão examinar as condições meteorológicas que cercaram o evento, particularmente se este está associado a um fenômeno climático conhecido como “foehn”.

    Comuns nas regiões alpinas, os episódios de foehn geralmente envolvem ventos fortes em altitude e o rápido aquecimento do ar enquanto ele desce por encostas ou picos, causado por diferenças significativas de pressão.

    “Está entre as regiões de aquecimento mais rápido do planeta”, disse Nullis sobre a Antártica. “Ouvimos muito sobre o Ártico, mas essa parte específica da península antártica está esquentando muito rapidamente. Nos últimos 50 anos, aqueceu quase 3°C.”

    Diante de temperaturas cada vez mais quentes, Nullis observou que a quantidade de gelo perdida anualmente na camada de gelo da Antártica “aumentou pelo menos seis vezes entre 1979 e 2017”.

    A maior parte dessa perda de gelo ocorre quando as camadas derretem por baixo, quando entram em contato com a água do oceano, relativamente quente, explicou ela.

    O derretimento é especialmente marcado no oeste da Antártica, de acordo com a OMM, e em menor extensão ao longo da península e no leste da Antártica.

    Recuo acelerado de geleiras

    Voltando ao derretimento das geleiras, Nullis alertou que cerca de “87% das geleiras ao longo da costa oeste da Península Antártica recuaram nos últimos 50 anos, com a maior parte delas mostrando um recuo acelerado nos últimos 12 anos”.

    A preocupação é particularmente alta com os principais afluentes da geleira da Antártica Ocidental, em particular a geleira Pine Island, onde duas grandes fendas que foram detectadas pela primeira vez no início de 2019 cresceram cerca de 20 quilômetros.

    “Há muita conversa no Twitter no momento; a imagem de satélite mostrando rachaduras na geleira de Pine Island, na Antártica”, disse Nullis. “Elas cresceram rapidamente nos últimos dias. A União Europeia tem um satélite chamado Sentinel que mede e monitora esses dados, e há imagens bastante dramáticas.”

    Aproximadamente o dobro do tamanho da Austrália, a Antártica é fria, com ventos fortes e seca. Sua temperatura média anual varia de cerca de 10°C na costa a 60°C negativos nos pontos mais altos do interior.

    Sua imensa camada de gelo tem até 4,8 quilômetros de espessura e contém 90% da água doce do mundo, o suficiente para elevar o nível do mar em cerca de 60 metros, em caso de derretimento.

    Em um relatório importante do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), de setembro passado, os pesquisadores alertaram que centenas de milhões de pessoas estão sob risco com o derretimento do gelo nas regiões polares do planeta, ligado ao aumento do nível do mar.