• Covid-19. Confinamento antecipado no Reino Unido podia ter evitado 20 mil mortes

    Publicado em 11.06.2020 às 15:54

    O Reino Unido é um dos países do mundo mais afetado e o país europeu com mais mortos devido à Covid-19. Mas um cientista britânico revelou, na quarta-feira, que se o Governo tivesse imposto as restrições e o confinamento uma semana antes, podiam ter-se evitado cerca de 20 mil mortos no país.O número de óbitos devido à Covid-19 no Reino Unido já superou as 41.200, mas na quarta-feira Neil Ferguson afirmou que o número de mortes causadas pelo novo coronavírus no Reino Unido poderia ter sido reduzido para metade se o confinamento tivesse sido introduzido uma semana antes.
    Durante uma sessão com a comissão parlamentar de Ciência e Tecnologia, o professor de matemática aplicada à biologia da universidade King’s College assegurou que as restrições para evitar a propagação do vírus e combater a Covid-19 no Reino Unido deviam ter sido antecipadas e poderiam ter sido salvas cerca de 20 mil pessoas.
    A epidemia [o número de infetados] estava a duplicar a cada três a quatro dias antes da introdução de restrições de confinamento. Se tivéssemos introduzido as medidas de confinamento uma semana antes, teríamos reduzido o número final de mortos em pelo menos metade“, afirmou.
    Ferguson pertence a um grupo de cientistas que aconselham o Governo britânico sobre a Covid-19 e foi um dos autores do modelo matemático que levou à decisão de impor o confinamento a 23 de março. Mais tarde, o cientista demitiu-se, após ter sido anunciado que teria desrespeitado as restrições de deslocação e de confinamento.

    As medidas, considerando o que sabíamos sobre o vírus, eram justificadas. Certamente, se o tivéssemos feito mais cedo, teríamos visto muito menos mortes“, afirmou, acrescentando que só após nove dias de ser apresentada a proposta do conselho científico para impor as restrições, é que o confinamento foi anunciado.
    Ferguson explicou que o aumento exponencial de casos de contágio aconteceu, na altura, porque milhares de infetados que chegaram de Espanha e França não foram identificados imediatamente. 

    Os especialistas recomendaram, na altura, que os turistas fossem testados ao chegar de países com transmissão ativa do vírus, mas não foram logo impostas as medidas de segurança e os rastreios.

    Nós subestimamos francamente o quão longe o país estava da epidemia“, disse Ferguson.

    De facto, o confinamento total só foi decretado no Reino Unido vários dias depois de a maioria dos países europeus, apesar dos apelos da oposição para o fazer mais cedo. 
    Boris Johnson considera declarações “prematuras”
    Mas as declarações do especialista vieram aumentar a pressão sobre o Governo no que diz respeito ao combate da pandemia, considerando que é um dos países mais afetados a nível mundial.

    No mesmo dia, o primeiro-ministro britânico foi questionado, durante a conferência de imprensa diária, sobre as declarações do cientista e conselheiro científico de Downing Street. Boris Johnson respondeu, então, considerar “prematuras” as questões sobre um alegado atraso no confinamento no Reino Unido para travar a pandemia Covid-19. 

    Francamente, penso que muitas destas questões ainda são prematuras“, afirmou Johnson, frisando que todas as medidas “adequadas para este país”, foram decididas com base em pareceres científicos. 

    Segundo o primeiro-ministro britânico, “é muito cedo para nos julgarmos a nós próprios”. 

    “O que posso dizer é que sabemos muito mais agora do que em janeiro, fevereiro ou mesmo em março. Uma coisa que sabemos sobre o combate ao coronavírus é que temos de agir com precaução”
    , vincou.
    No entanto, “ainda há muitas coisas que não sabemos, e esta epidemia ainda promete um longo caminho a percorrer”.

    Também questionado pelos jornalistas na conferência de imprensa, Chris Whitty, o epidemiologista e conselheiro do Governo, afirmou que havia ainda muita coisa ara avaliar.

    Acho que há uma longa lista de coisas que precisamos de ver a sério“, disse. 

    As declarações de Ferguson vêm, aliás, ao encontro das palavras de John Edmunds que, no fim-de-semana passado, disse: “acho que teria sido muito difícil acionar o gatilho naquele momento, mas eu gostaria que o tivéssemos feito. Eu gostaria que tivéssemos entrado em confinamento mais cedo. Acho que isso custou muitas vidas, infelizmente“. 

    Para Boris Johnson o Governo não tem de se arrepender por não ter agido antes, visto que ainda não há dados suficientes para fazer uma avaliação completa.
    Criticado pela demora a determinar a quarentena e as restrições, o Reino Unido continua a reabrir, gradualmente, a economia. O ritmo é mais lento do que esperavam muitos dos britânicos, mas os números de infetados e de mortes devido à Covid-19 no país ainda exigem cautela, como salientou o próprio primeiro-ministro, Boris Johnson.
    Johnson anunciou, no encerramento da conferência de imprensa, mais uma série de medidas para aliviar o confinamento, como a possibilidade de encontros entre pessoas que vivem sozinhas com outro agregado familiar já a partir de sábado. 

    A partir de segunda-feira de lojas não essenciais, bem como jardins zoológicos, cinemas ‘drive-in’ e locais de culto, vão poder reabrir desde que garantam o respeito pelas regras de segurança e de distanciamento social. 

    No entanto, bares, restaurantes e cabeleireiros vão continuar fechados até pelo menos 4 de julho, uma vez que o Governo considera que o risco de transmissão do vírus em espaços fechados ainda é grande. 

    RTP, emissora pública de Portugal