Covid-19. Espanha vai ter câmaras térmicas e formulários eletrônicos para controlar casos importados

Publicado em 12.06.2020 às 07:57

Com a pandemia de Covid-19 dada como controlada e sem novos óbitos nos últimos cinco dias, Espanha está agora a preparar-se para a ameaça que pode deitar por terra esta conquista: os casos importados do estrangeiro. Para tal, duas novas medidas serão aplicadas: o controlo da temperatura corporal de vários viajantes em simultâneo através de câmaras térmicas e o preenchimento de um formulário eletrónico por cada passageiro.De acordo com os planos do Executivo espanhol, os turistas poderão começar a chegar a Espanha já na próxima segunda-feira. Para já poderão apenas aterrar nas ilhas Baleares, mas a partir de 1 julho já todos os territórios do país estarão a postos para os receber.

Esta permissão fará com que as centenas de pessoas que entraram em Espanha diariamente em maio (foram 33.500 os que chegaram ao país por terra e por mar) passem agora a ser milhares. Por essa razão, as autoridades espanholas de saúde estão a preparar medidas para detetar todos os casos de Covid-19 que possam lá chegar.

Até agora, têm sido os funcionários do departamento de Saúde Externa do Ministério da Saúde a medir a temperatura dos viajantes nos portos e aeroportos espanhóis com termómetros, entregando-lhes depois um formulário em papel com questões epidemiológicas – por exemplo, se têm sintomas, se estiveram em contacto com pessoas infetadas e qual é o seu local de destino, de modo a que possam ser localizadas.

Estes 600 funcionários são, porém, poucos para a quantidade de estrangeiros que vai passar a poder entrar em território espanhol. Até agora, de acordo com as normas do estado de emergência, os únicos que têm chegado ao país são pessoas em trabalho, cidadãos que regressam a casa e casos de “extrema necessidade”, algo que está prestes a mudar.Desde 11 de maio, foram detetados 104 casos importados em Espanha, explicou na quinta-feira o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias.

Fernando Carreras, subdiretor da Saúde Externa, explicou a El Pais que o seu departamento está a preparar procedimentos automatizados, como formulários eletrónicos e câmaras térmicas (dispositivos que conseguem controlar a temperatura de várias pessoas em tempo real, em vez de se medir uma a uma com termómetro).

Continuará a caber aos funcionários desse departamento a avaliação de casos suspeitos, mas será contratado pelos aeroportos e portos pessoal para apoiar na vigilância dos novos dispositivos térmicos, nos quais pessoas com temperatura corporal mais elevada aparecerão nos ecrãs a cor vermelha.

As medidas aplicar-se-ão a quem chegue a Espanha de avião ou barco, mas não de comboio ou autocarro. Nesses casos, o Governo estabeleceu apenas controlos policiais e não haverá controlo sanitário.
Medição de temperatura pode não ser medida eficaz
A medição da temperatura corporal para a deteção de casos de Covid-19 não se tem, porém, revelado muito eficaz. O próprio Ministério espanhol da Saúde considerou que essa não é uma solução “milagrosa” e que serve apenas de reforço, uma vez que muitas das pessoas infetadas pelo novo coronavírus são assintomáticas ou demoram vários dias a ter sintomas. A febre pode nem chegar a ser um deles, pelo que nunca seriam detetadas por termómetros nem em câmaras térmicas.

Já os formulários poderão ser uma medida mais eficaz no controlo da doença. Os passageiros deixam de ter de cumprir os 14 dias de quarentena até agora obrigatórios a quem chegava ao país, mas em contrapartida terão de estar sempre localizáveis.

Mesmo agora, antes da entrada das novas medidas, têm sido realizadas chamadas aleatórias a alguns dos viajantes que entram em Espanha para que os funcionários do departamento de Saúde Externa verifiquem o seu estado de saúde e se estão a cumprir a quarentena.

“Há que ter em conta que este não é um confinamento policial. Depende muito da responsabilidade individual das pessoas”, explicaram ao El Pais fontes do Governo nas ilhas Baleares, onde as chamadas são realizadas a cada dois ou três dias a todos os que lá aterram. “A resposta é muito positiva e as chamadas têm também servido para esclarecer dúvidas dos viajantes sobre a doença”.

Estas chamadas continuarão a realizar-se, mas a partir de segunda-feira, quando começam a entrar em Espanha mais pessoas vindas do estrangeiro, será impossível fazê-las a todos os viajantes. Segundo o subdiretor da Saúde Externa, dar-se-á prioridade a quem venha de zonas do mundo mais afetadas pela pandemia.

Quando for detetado um caso suspeito, tal é comunicado à comunidade onde essa pessoa se encontra, sendo esta a responsável por realizar os testes à Covid-19 e rastrear os contactos em caso de resultado positivo. Nesse cenário, a Saúde Externa alerta as comunidades ou países onde o paciente infetado tenha estado.

Desde que chegou a território espanhol, o novo coronavírus já lá infetou mais de 260 mil pessoas, das quais 27 mil são vítimas mortais. O país tem ainda 150 mil casos de pessoas recuperadas. Apenas recentemente a Covid-19 tem dado tréguas, não existindo óbitos a registar nos últimos cinco dias em Espanha.

RTP, emissora pública de Portugal