Recuo de Trump. Adiado comício em data e local criticados pela comunidade negra
O presidente norte-americano tinha marcado para o Estado de Oklahoma mais um comício da sua pré-campanha eleitoral. A data e o local foram considerados um insulto pela comunidade afroamericana e pelos grupos de direitos humanos. Trump decidiu recuar.O problema da marcação do comício consistia na conjugação da data e do local: a data é o feriado “Juneteenth”, de 19 de junho, que celebra o decreto de Abraham Lincoln, nessa data de 1865, libertando os escravos do Estado do Texas, o último dos Estados esclavagistas; e o local é a cidade de Tulsa, onde ocorreu em 1921 um dos piores massacres racistas da história norte-americana.
Criticado por adversários e mesmo por apoiantes, no ambiente político de revolta pelo homicídio de George Floyd, Trump decidiu recuar e anunciou no Twitter que o comício seria adiado de um dia, para não coincidir com o feriado abolicionista, admitindo que o comício, “infelizmente, iria cair sobre o feriado de Juneteenth” e admitindo também que a decisão de adiar foi tomada porque “muitos dos meus amigos e apoiantes afroamericanos se dirigiram a nós sugerindo que ponderássmos alterar a data”.
Especialmente incisiva na sua crítica foi a senadora democrata Kamala Harris, da Califórnia, considerada uma vice-presidenciável de Joe Biden nas eleições de Novembro: “Isto não é apenas um aceno aos supremacistas brancos – ele [Trump] está a oferecer-lhes uma festa de boas vindas”.
No mesmo sentido ia a crítica de Sherry Gamble Smith, uma destacada dirigente da comunidade negra de Tulsa: “Escolher esta data para vir a Tulsa é um total desrespeito e uma bofetada na cara [da comunidade afroamericana]”.
A poetisa CeLillianne Green foi ainda mais longe no Washington Post e considerou a conjugação de data e local como “quase blasfema para o povo de Tulsa e insultuoso para a noção de liberdade do nosso povo, que é o simboliza o Juneteenth”.
A comentadora do New York Times Michelle Goldberg observou que “um presidente racista provoca os seus inimigos com um comício em Juneteenth”.
O veterano jornalista Dan Rather, por seu lado, comentou no Twitter que “o presidente Trump escolheu para o seu primeiro comício em vários meses Tulsa, Oklahoma, local de um horrendo massacre de afroamericanos. E marcou a data em 19 de junho, Juneteenth, a celebração do fim da escravatura nos Estados Unidos”.
O massacre de Tulsa durou dois dias, entre 31 de maio e 1 de junho de 1921, a partir da alegada violação de uma jovem branca por um jovem negro. Um grupo de manifestantes brancos ameaçava linchar o jovem, o que deu origem a confrontos armados à porta do tribunal e, depois, a uma série de fogos postos nas lojas de pequenos comerciantes negros.
A polícia local emitiu uma estimativa de 36 mortos, mas os historiadores que se têm debruçado sobre o facto situam o balanço entre 100 e 300. A Cruz Vermelha registou fogos postos em 1.256 casas, em duas redacções de jornais, uma escola, uma livraria, um hospital, igrejas, hoteis e armazéns da comunidade negra.
RTP, emissora pública de Portugal