Covid-19. Nova Zelândia entrega controle das fronteiras ao exército após registro de novos casos
A primeira-ministra da Nova Zelândia anunciou esta quarta-feira que o controle das fronteiras passaria a estar nas mãos do exército depois de terem sido identificados dois novos casos ao fim de 25 dias sem infecções. Na terça-feira, a Nova Zelândia registou dois novos casos da Covid-19 após 25 dias consecutivos sem infeções. Trata-se de duas mulheres recentemente chegadas do Reino Unido que saíram prematuramente da quarentena sem serem testadas, apesar de apresentarem sintomas ligeiros de infeção pelo novo coronavírus.
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, considerou que foi uma “falha inaceitável” que as duas mulheres não tivessem sido testadas antes. “Isso nunca deveria ter acontecido e não pode ser repetido”, disse Arden, acrescentando que os controlos fronteiriços deveriam ser reforçados para garantir que não se voltem a cometer erros semelhantes.
Neste âmbito, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que a vigilância nas fronteiras passaria a ser entregue ao exército que supervisionará a quarentena de recém-chegados ao arquipélago.
“Creio que precisamos do rigor, da confiança e da disciplina que o exército pode fornecer“, afirmou Jacinda Ardern aos jornalistas esta quarta-feira.
O Governo da Nova Zelândia ainda está à procura de resposta que justifiquem o facto de as duas mulheres não terem sido testadas antes de abandonarem a quarentena que cumpriam num hotel na cidade de Auckland depois de terem chegado do Reino Unido a 7 de junho. Atualmente, apenas os neozelandeses, as suas famílias e os trabalhadores de setores essenciais têm permissão para entrar no país sem qualquer restrição. Todos os outros são obrigados a cumprir a quarentena de 14 dias, durante a qual devem ser testados duas vezes.
Questionado sobre a razão pela qual as autoridades de saúde não verificaram que uma das mulheres apresentava sintomas compatíveis com a Covid-19, o ministro da Saúde da Nova Zelândia, David Clark, justificou que “a mulher tinha uma doença preexistente, o que significava que os sintomas que estava a sentir era algo que ela já esperava sentir”.
Tudo indica que as mulheres tenham sido isentas do período de quarentena obrigatória de 14 dias para visitar um parente enfermo a 650 quilómetros de distância. A primeira-ministra neozelandesa já anunciou que esta política de isenção compassiva ficará suspensa até que um processo “disciplinado e rigoroso” fosse implementado.
“Não posso permitir que as conquistas que todos obtivemos sejam desperdiçadas por processos que não são sustentados”, defendeu Jacinda Ardern, revelando que o Governo foi pressionado por vários setores, “incluindo os tribunais”, para relaxar as regras de quarentena.
“Pode ser uma decisão difícil e impopular a tomar, mas é a decisão certa para o país”, assegurou a primeira-ministra da Nova Zelândia.
Cientistas falam da facilidade de uma segunda vaga
Os dois novos casos de infeção pelo novo coronavírus surgem uma semana após o país ter comemorado a eliminação do vírus depois de o último paciente infetado ter recuperado.
Na semana passada, as autoridades tinham levantado todas as medidas de restrição implementadas para combater a propagação da Covid-19, incluindo medidas de distanciamento social e limites ao número de pessoas reunidas.
No entanto, a primeira-ministra neozelandesa não descartava a possibilidade de novos casos no país e na segunda-feira explicou que não tinha declarado o país livre do vírus porque “haverá novos casos no futuro”.
“Estamos confiantes de que eliminámos a transmissão do vírus na Nova Zelândia, por enquanto, mas a eliminação não é um ponto no tempo, é um esforço sustentado”, disse Jacinda Ardern, em coferência de imprensa no início de junho. “Quase certamente veremos casos aqui novamente”, acrescentou Ardern. O Governo neozelandês foi elogiado internacionalmente pela implementação rápida e rigorosa de medidas que pareciam ter anulado o vírus no país, com menos de 1.200 casos confirmados e 22 mortes.
No entanto, os cientistas afirmam que a confirmação destes dois novos casos demonstram a facilidade de aparecimento de uma segunda vaga de infeção.
“Esses dois novos casos ilustram com muita clareza a rapidez com que as regras e diretrizes podem destruir-se quando entram em conflito com a vida real”, disse a The Guardian Amanda Kvalsvig, epidemiologista da Universidade de Otago, em Wellington. Kvalsvig sublinha que tal situação poderia “muito facilmente” desencadear um novo surto que voltaria a atrasar o país nesta luta contra a pandemia.
“Agora estamos perante uma situação em que potencialmente centenas de pessoas viajaram várias horas num espaço fechado com alguém infetado”, disse ainda a epidemiologista, considerando que a prioridade agora é “garantir que todas as potenciais cadeias de transmissão tenham sido extintas”.
As autoridades de saúde estão a localizar 320 pessoas que são consideradas contactos próximos das duas mulheres para que sejam submetidas ao teste. Os contactos próximos incluem passageiros que seguiam no mesmo voo com destino à Nova Zelândia, bem como funcionários, tripulantes e outros turistas em quarentena no mesmo hotel em Auckland.
A pandemia da Covid-19 já infetou mais de oito milhões de pessoas em todo o mundo e há a registar mais de 443 mil óbitos.
RTP, emissora pública de Portugal