Brasil está preparado para o coronavírus, diz especialista
O novo coronavírus colocou o mundo em alerta no último mês, desde que foi relatado pela primeira vez em Wuhan, interior da China. Não há, até o fechamento desta reportagem, nenhum caso da doença confirmado no Brasil e os 24 casos suspeitos já foram descartados pelo Ministério da Saúde. Apesar disso, o país está preparado para a possibilidade de o coronavírus chegar. É o que afirma o coordenador dos Laboratórios Internacionais da Divisão de Proteção da Saúde Global do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC) de Atlanta, Estados Unidos, Leonard Peruski. O médico esteve na Fiocruz Brasília no dia 3 de fevereiro.
“A evidência é clara, o Brasil sabe o que fazer e está muito preparado. O país tem os melhores institutos de vacina do mundo, inclusive exporta para países como os Estados Unidos e este tema é uma das prioridades daqui”, ressaltou Peruski. Ele lembrou que, em 2015 e 2016, o país administrou o surto de zika e ainda recebeu milhares de visitantes para a Copa do Mundo em 2014 e para as Olimpíadas em 2016 sem trazer doenças ou outros problemas de saúde para os brasileiros.
Em vários países, cientistas correm contra o tempo para estudar o vírus. Peruski afirma que, até o momento, o CDC não entende o vírus completamente, mas está realizando testes com pessoas que estão em quarentena em busca de soluções. “A grande mensagem que tenho para passar ao Brasil é que não há casos confirmados em países latino-americanos. Preparem-se, mas sem pânico. Todo cuidado é importante, temos instituições que estão trabalhando para isso, mas não podemos esquecer de outros assuntos importantes como HIV e vacinação infantil”, explicou.
O médico lembrou que não é preciso alarde, já que, ao comparar os dados do novo coronavírus com os da gripe, catapora, resfriado e sarampo, percebe-se que as outras doenças são mais comuns e causam mais mortes. Ele destaca que é preciso analisar o contexto. Todo ano, 4 mil americanos morrem em decorrência da influenza e de 4 a 5 mil americanos morrem em acidentes de trânsito, enquanto até o momento, não há mortes no país por coronavírus.
O CDC integra projeto do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília em parceria com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS), que tem como objetivo fortalecer e melhorar a capacidade da rede laboratorial de saúde pública no Brasil, com o foco no atendimento às emergências. A equipe tem visitado laboratórios de saúde pública espalhados pelo país. Ao todo, já foram realizadas 10 visitas e esta semana a comitiva está em Manaus, no Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM). “Vendo esse projeto aqui, posso afirmar que o Brasil está muito preparado”, destacou.
Atuação da Fiocruz
A Fiocruz tem trabalhado intensamente para buscar respostas ao novo coronavírus, com atividades desenvolvidas em várias frentes. O Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) atua como Centro de Referência Nacional em Vírus Respiratórios para o Ministério da Saúde, com diagnóstico laboratorial de casos suspeitos e pesquisas. O laboratório recebeu material genético da doença e realiza testes para acelerar diagnósticos no Brasil e aprimorar os protocolos de testagens. Em fevereiro, realizou treinamento de profissionais dos Institutos Evandro Chagas, do Pará, e Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo para dar mais agilidade na investigação de casos brasileiros suspeitos e promoveu capacitação técnica de representantes de nove países da América Latina: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai, para que estejam preparados para responder à emergência sanitária, com os mesmos protocolos de análise preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já implementados no Brasil.
Além disso, a Fiocruz criou uma Sala de Situação em Saúde para monitorar e acompanhar a situação do novo coronavírus e ampliar os estudos e foi convidada para integrar o Centro de Operações de Emergências (COE), criado pelo Ministério da Saúde. A Fundação também preparou um conjunto de perguntas e respostas sobre o novo coronavírus.
Para facilitar ações de combate ao vírus, o Ministério da Saúde do Brasil decretou (3/2) emergência em saúde pública. De acordo com a Lei de Licitações, com o decreto, há celeridade em processos como contratação temporária de profissionais e de serviços, além de aquisição de bens, sem a necessidade de realizar licitações.
No mundo
Diversas instituições estão monitorando a situação em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para detectar novos casos rapidamente e impedir a disseminação do vírus. Durante a visita à Fiocruz Brasília, Peruski apresentou o trabalho realizado pelo CDC para o combate a epidemias, e atualmente, ao coronavírus, desde que recebeu solicitações de ajuda de laboratórios de 12 países.
Foi montada uma força-tarefa internacional com integrantes do Centro para acompanhar os novos casos. Todos os dias, eles trocam informações atualizadas que podem dar subsídios às instituições de pesquisa e à imprensa e evitar notícias falsas e pânico na população.
Equipes de voluntários e médicos têm trabalhado 24 horas por dia para descobrir características e comportamento desse novo vírus, realizando testes de PCR (proteína C reativa) diários com as pessoas com suspeita da doença que estão em quarentena por 14 dias – período de incubação do vírus – em bases militares americanas; mapeamento de aeroportos do país com passageiros vindos da China e envio de médicos para identificação de pessoas com sintomas semelhantes aos da doença, com questionários e exames.
Além disso, o CDC preparou uma série de informações voltadas para profissionais de saúde, orientações para viajantes e para a população em geral sobre como reduzir o risco de espalhar a doença, um passo a passo para os médicos identificarem pacientes com sintomas, um check-list para ser utilizado por hospitais. Todas as informações são atualizadas constantemente. O conteúdo pode ser acessado aqui. Os casos podem ser acompanhados em tempo real neste mapa.
Coronavírus: que vírus é esse?
Os coronavírus podem circular entre pessoas e animais, como camelos, gatos e morcegos. Os sintomas são semelhantes a um resfriado, como febre, tosse e falta de ar. Outros tipos do vírus já foram identificados antes, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers) ou a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars).
Peruski apresentou a família viral já estudada e afirmou que o novo vírus não é uma arma biológica criada ou acidente de laboratório, mas veio do meio ambiente. Ele explica que 46 países têm laboratórios que podem ser utilizados para testes do coronavírus.
Nathállia Gameiro (Fiocruz Brasília)
Agência Fiocruz de Notícias