Covid-19. Conselho de Segurança Nacional de Espanha minimizou risco no início de março

Publicado em 19.06.2020 às 07:38

Apenas dez dias antes de o Governo de Pedro Sánchez declarar o estado de emergência para controlar e combater a Covid-19, um relatório do Conselho de Segurança Nacional minimizou o risco de a pandemia assumir grandes proporções em Espanha.A Organização Mundial da Saúde (OMS) já tinha alertado o mundo para o risco de a Covid-19 se tornar uma pandemia e o SARS-Cov-2 já circulava na Europa quando, a 4 de março, o Conselho de Segurança Nacional, o mais alto órgão consultivo neste domínio em Espanha, aprovou um relatório que não considerava que o país pudesse estar em risco de enfrentar uma pandemia em 2020.
A nível de estratégia nacional, a curto e médio prazo, o relatório apelava à modernização dos “sistemas de vigilância em saúde [pública] em Espanha” mas indicava que uma crise de saúde pública era um dos 15 problemas menos prováveis, avança esta sexta-feira o El País.

Na data em que o documento foi aprovado, já tinham surgido os primeiros casos de infeção no país, em Itália já tinham fechado escolas, serviços e até cidades e a Europa começava a ser o epicentro do vírus. Mas o relatório do Conselho de Segurança Nacional não incluía o risco de uma pandemia entre os mais prováveis ​​- como a vulnerabilidade do ciberespaço, a espionagem, a instabilidade económica e financeira, os fluxos irregulares de migração e os efeitos das alterações climáticas -, nem entre os mais perigosos – como o ciberespaço, emergências e catástrofes, a proliferação de armas de destruição massiça, espionagem e ameaças a infraestruturas.
Espanha decretou o estado de emergência a 14 de março, mas dez dias antes o relatório indicava risco mínimo. Considerando a escala utilizada para avaliar a probabilidade, em que 1 é “altamente improvável” e 5 “altamente provável”, o risco de haver uma pandemia estava classificado em 2,7 (o segundo mais improvável), nesse documento. Numa escala relativa ao perigo, do mínimo ao catastrófico, o Conselho de Segurança Nacional avaliou com 3,4 (o sexto com o menor impacto negativo).Modernizar sistemas de saúde 
Os autores do documento dedicaram, no entanto, um capítulo específico para riscos na saúde, onde mencionavam doenças como a Ébola ou a Listeria, mas sem qualquer referência ao risco de infeções por coronavírus, já conhecidos antes do SARS-Cov-2.

O Conselho de Segurança Nacional considerou, segundo o documento, que os efeitos da globalização “marcam a crescente mobilidade dos riscos para a saúde pública e, especificamente, de microorganismos patogénicos capazes de gerar epidemias e pandemias”

Contudo, salientava que “os mecanismos de segurança na área da saúde implementados são capazes de detetar mais riscos epidémicos e pandémicos mais rapidamente, além de permitir uma resposta precoce, reduzindo o possível impacto na população”.
Embora o risco de uma pandemia atingir o território espanhol tenham sido desvalorizado pelos especialistas, o relatório indicava a necessidade de modernizar os “sistemas de vigilância em saúde [pública] para que incluam, além de doenças, os fatores de risco e determinantes da doença, uma integração dessas informações com alerta precoce e resposta, e a automatização de processos”.
O relatório foi aprovado e apresentado a 4 de março numa reunião solene presidida pelo rei Filipe VI de Espanha, o primeiro-ministro Pedro Sánchez, quatro vice primeiro-ministros e nove ministros, e destacava tanto a incapacidade dos sistemas de saúde de responder rapidamente a uma situação nova e como a limitação dos especialistas em prever este tipo de situação.

Contudo, é necessário frisar que o documento foi concebido meses antes de surgir o novo coronavírus.

Esta análise de riscos foi baseada em pesquisas realizadas durante meses, com a colaboração de 230 especialistas, tendo também em consideração a informação de relatórios e de análises de organizações internacionais. 

Além disso, entre os autores e especialistas, a maioria dedica-se às questões de defesa e luta contra o terrorismo e o crime organizado, que continuam a monopolizar a maior parte das questões a nível de segurança – o que poderá explicar a minimização do risco de uma pandemia nos prognósticos a curto e a médio prazo.

RTP, emissora pública de Portugal