Facebook remove anúncios da campanha eleitoral de Trump com símbolo da era nazi

Publicado em 19.06.2020 às 17:47

O Facebook removeu na quinta-feira anúncios e publicações disseminados pela campanha eleitoral de Donald Trump nos quais constava um símbolo utilizado por nazis para classificar prisioneiros políticos durante a II Guerra Mundial. A rede social considera que a imagem em questão viola as políticas da empresa “contra o crime organizado”.Os responsáveis pela gestão da campanha do Presidente norte-americano criaram anúncios onde surgia a imagem de um grande triângulo vermelho invertido, para criticar o movimento que Trump designa como Antifa, alegadamente composto por grupos antifascistas de extrema-esquerda.  Trump classifica o “Antifa” com organização terrorista.

“Perigosas multidões de grupos de extrema-esquerda estão a correr pelas nossas ruas e a causar o caos absoluto”, podia ler-se nos anúncios entretanto retirados pelo Facebook. “Eles estão a destruir as nossas cidades e a organizar motins. É a loucura absoluta. Por favor, adicione imediatamente o seu nome para se juntar ao nosso Presidente na decisão de declarar o Antifa como uma organização terrorista”.

Por baixo do texto surgia o triângulo vermelho que os nazis utilizavam para identificar comunistas e outros prisioneiros políticos em campos de concentração.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o símbolo foi adotado por grupos antifascistas no Reino Unido e na Alemanha, da mesma forma que, ao longo dos anos, outros grupos políticos se apoderaram de palavras e símbolos antigamente utilizados para os oprimir.

“Removemos as publicações e os anúncios por violarem a nossa política contra o crime organizado”, declarou o Facebook em comunicado. “A nossa política proíbe o uso de símbolos de ódio que estão já banidos, a não ser que tal utilização surja num contexto de condenação ou de discussão sobre esse símbolo”.

Antes de serem removidos, porém, os mesmos anúncios circularam durante um dia na rede social criada por Mark Zuckerberg, tendo sido visualizados por milhões de pessoas. Foi um jornalista da revista norte-americana Fortune quem denunciou ao Facebook a situação.

Tim Murtaugh, diretor de comunicações da campanha eleitoral de Trump, apressou-se a defender os anúncios. “O triângulo vermelho é um símbolo comum do Antifa e foi usado num anúncio sobre o Antifa. É muito direto”, esclareceu num e-mail citado pelo New York Times.

Murtaugh frisou também que o triângulo vermelho é habitualmente utilizado em objetos de merchandise, tais como garrafas para água e capas para telemóveis, produzidos por fabricantes que descrevem o símbolo como “antifascista”.  Apesar da convicção do Presidente de que o Antifa é responsável pela violência e vandalismo verificados durante os protestos contra a injustiça racial que marcaram as últimas semanas nos Estados Unidos, são escassas as provas de que o movimento tenha participado em campanhas coordenadas durante as manifestações.

A Liga Antidifamação, organização não-governamental sediada nos EUA que pretende travar a difamação do povo judaico, condenou a utilização do triângulo vermelho pelos gestores da campanha do Presidente.

“Quer esteja ou não a par da história ou significado [do símbolo], a sua utilização na campanha para atacar oponentes é ofensiva e perturbadora”, defendeu o líder da Liga Antidifamação. “Não é difícil alguém criticar os seus adversários políticos sem utilizar imagens na era nazi. Imploramos aos membros da campanha de Trump que tenham mais cuidado e que se familiarizem com o contexto histórico antes de agirem”.

A eliminação dos anúncios pelo Facebook aconteceu numa altura em que a rede social tem sido alvo de crescente pressão por parte de líderes dos direitos civis, de elementos do Partido Democrata e dos próprios trabalhadores da empresa para tomar uma posição mais firme contra as publicações de Donald Trump nessa plataforma.

RTP, emissora pública de Portugal