Covid-19. Escalada de casos obriga Estados norte-americanos a darem passo atrás
Em apenas um dia, os Estados Unidos registaram um aumento de quase 38 mil novos casos de infeção pelo novo coronavírus. Alguns Estados, como o Texas e a Florida, vão dar um passo atrás no desconfinamento para conter a propagação da Covid-19.O governador do Texas, o republicano Greg Abbott, decretou a suspensão da retoma económica neste Estado, na quinta-feira, depois de ter sido registado um recorde de infeções e terem aumentado os internamentos de doentes com Covid-19.
“A última coisa que eu quero fazer é recuar e fechar as lojas. Esta pausa temporária vai ajudar o nosso Estado a conter a disseminação até podermos entrar com segurança na próxima fase de reabertura económica“, disse Abbott num comunicado.
O Texas, o segundo maior Estado norte-americano a nível de população, foi um do mais afetados e com um dos piores surtos do país, contabilizando mais de cinco mil novos casos em apenas três dias. Além disso, o número de hospitalizações por infeção pelo SARS-Cov-2 bateu recordes e as instituições hospitalares ficaram à beira dos limites de capacidade de internamentos.
O governador texano admite que o Estado está novamente a enfrentar “um surto maciço” de Covid-19, tendo sido já identificados os principais focos de contágio nas regiões metropolitanas de Houston e Dallas, assim como em cidades com Austin, San Antonio e El Paso – cidades onde foram suspensas cirurgias não urgentes para garantir camas hospitalares para doentes com Covid-19.
“Enquanto estivermos a sofrer com este boom, tanto em hospitalizações quanto em infeções, vamos focar-nos em estratégias que podem retardar a propagação do vírus. Enquanto isso, permitimos que os texanos continuem a receber salários para sustentar as famílias“, acrescentou.
Até quinta-feira, o Texas contava 4389 doentes internados com Covid-19, quase o dobro desde a semana passada.
“Reabrimos cedo demais“, disse à Bloomberg Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Baylor College of Medicine, em Houston. “As máscaras por si só não serão suficientes“.
O aumento de casos exponencial tem sido verificado, nas últimas semanas, em vários Estados do país que, como o Texas, impuseram restrições atempadamente e foram, no início da epidemia nos EUA, os menos afetados.
Florida, Arizona e Califórnia receiam mais surtos
Aumentos sem precedentes no número de infetados, esta semana, registaram-se também no Alabama, no Arizona, na Califórnia, na Flórida, em Idaho, no Mississippi, no Missouri, na Nevada, no Oklahoma, na Carolina do Sul e em Wyoming.
Embora parte deste aumento do número de casos possa ser atribuído à realização de mais testes, a porcentagem de resultados positivos também está a aumentar.
Em plena fase de desconfinamento, de alívio de restrições e reabertura das atividades económicas, a Flórida, a Califórnia, o Arizona e o Texas registam quase metade de todos os novos casos dos EUA, o que leva a maiores receios e consequentes cautelas.
Só na quinta-feira o Estado da Flórida registou um aumento de mais de cinco mil novos casos de infeção. Ron DeSantis, o governador do Estado da Florida, reconheceu entretanto que houve um aumento significativo do contágio nos últimos dias e que pode ser explicado com aumento da testagem e com os eventos sociais dos mais jovens.
Já no Arizona, 23 por cento dos testes realizados nos últimos sete dias foram positivos, o que representa quase o triplo da média nacional. Também neste Estado, registou-se, só esta semana, um recorde de doentes com Covid-19 nos cuidados intensivos e a necessitar de ventilação, o que levou também as autoridades do Arizona a suspender cirurgias e tratamentos não urgentes dos centros hospitalares, para dar prioridade aos novos casos de infeção pelo novo coronavírus.
Num comunicado, Doug Ducey, governador do Arizona, lamentou o facto de os números continuarem “a ir na direção errada” e que, neste sentido, receiam que “os números sejam piores na próxima semana e na semana seguinte”. O governador receia que os hospitais atinjam a capacidade de lotação “muito em breve”, se o número de casos e internamentos continuar a piorar.
“Esta é a primeira onda do Arizona, e não será a nossa última onda“, disse ainda Ducey.
À medida que os surtos começam a surgir nos vários cantos dos Estados Unidos e os números atingem valores recordes, vários Estados começam a repensar as medidas de desconfinamento e como controlar o contágio. A Carolina do Norte anunciou já que vai interromper os planos para aliviar as restrições, assim como os Estados da Louisiana e do Kansas.
Para além de alguns Estado estarem a impor algumas restrições ou suspender o desconfinamento, algumas empresas também estão a recuar e a adiar a reabertura, como a Disney, por exemplo, que ia reabrir já na próxima semana.
Especialistas do governo afirmaram, esta semana também, que mais de 20 milhões de norte-americanos podem ter contraído o coronavírus, o que representa um valor 10 vezes superior ao da contagem oficial, indicando que muitas pessoas sem sintomas têm ou tiveram a doença e continuam a transmiti-la.
RTP, emissora pública de Portugal