Espanha: Desordem na divulgação de dados dificulta mapeamento dos novos surtos
O novo coronavírus continua a dificultar o regresso à normalidade em Espanha, mesmo após duas semanas do fim do estado de alarme. Um dos grandes desafios do país vizinho está em conseguir ter um mapa rigoroso dos surtos que têm surgido, uma vez que o registo de novos casos de Covid-19 é realizado pelas autoridades de cada região e o Governo não divulga os números oficiais.As autoridades regionais são quem informa sobre os novos surtos. Mas, apesar de terem a obrigação de notificar o Ministério da Saúde sobre cada foco de infeção detetado – que está definido como três ou mais casos relacionados, ou apenas um se acontecer num lar de idosos -, esse Ministério não torna pública a informação.
Por essa razão, a meia centena de surtos conhecidos em Espanha baseia-se apenas nas informações transmitidas pelas próprias comunidades autónomas aos meios de comunicação, que as divulgam. Muitas das vezes os números são confirmados por Fernando Simón, diretor de Emergências Sanitárias, nas conferências de imprensa semanais.
Também não é divulgada qualquer comunicação oficial por parte do Governo quando os mesmos surtos são dados como extintos, o que ocorre após dois períodos de incubação do vírus sem novos casos, ou seja, 28 dias.
A falta de informação unificada e de regras para a divulgação de novos dados resulta ainda em inconsistências a nível dos detalhes sobre os surtos. Algumas comunidades partilham todos os pormenores sobre os focos de infeção, enquanto outras são muito mais vagas.
Madrid, por exemplo, informou na sexta-feira sobre um surto numa empresa, sem especificar que empresa é nem onde está situada. A cidade de Albacete, por outro lado, deu a conhecer até a rua e o número da porta do edifício onde surgiram oito casos positivos em duas famílias.
Discrepâncias nas medidas adotadas pelas regiões
É ainda da responsabilidade das comunidades autónomas espanholas gerir e resolver os focos que surgem. O facto de serem os governos regionais, sob as orientações do Ministério da Saúde, a decidir sobre as medidas que devem ser tomadas para travar a propagação do vírus, leva a que o controlo da doença seja realizado de forma diferente consoante a região, originando discrepâncias.
Também o facto de não existirem regras que definam o número mínimo de casos para que seja decretado um confinamento, nem a área que precisa de ser delimitada nesse cenário, têm sido razão de incoerência no modo como se lida com a doença por toda a Espanha.
Até agora, cada região tem confiado em especialistas de saúde pública para criar medidas de contenção, sempre que necessário. Entre as variáveis avaliadas por esses especialistas estão a região, a abundância de movimentos na mesma e a velocidade da propagação da Covid-19.
Em quatro regiões do município de Huesca, por exemplo, optou-se por um retrocesso no desconfinamento, mas sem restrições à circulação. Mas em outras duas regiões espanholas – Mariña Lucense e Segrià -, foram criados perímetros de segurança que os habitantes não podem ultrapassar.
Neste momento, quase 300 mil pessoas estão confinadas nas cidades de Lleida (Catalunha) e Lugo (Galiza). Outras 80 mil viram-se forçadas a regredir para a fase dois do desconfinamento, em Aragão. Nas cidades de Santander e Albacete, dois prédios estão encerrados depois de lá terem sido detetados focos de infeção.
Existem pelo menos 50 surtos ativos por toda a Espanha, sendo que apenas as comunidades autónomas das Astúrias e Rioja conseguem manter-se livres do novo coronavírus, após mais de duas semanas sem novos casos.
Ainda assim, os epidemiologistas não esperam que seja necessário um novo confinamento geral da população em Espanha, como aconteceu a 14 de março. O próprio primeiro-ministro espanhol quis, no domingo, passar uma mensagem de “segurança e calma”.
“A identificação de novos surtos demonstra que agora as capacidades estratégicas de deteção precoce das comunidades autónomas e do nosso sistema nacional de saúde estão muito melhor dotadas do que no mês de março, quando não sabíamos como atuar para fazer frente à pandemia”, declarou Pedro Sánchez.
Desde que surgiu pela primeira vez em Espanha, o novo coronavírus já infetou mais de 268 mil pessoas, das quais 150 mil conseguiram recuperar da infeção. O número de óbitos fixa-se agora em 28385.
RTP, emissora pública de Portugal