Livro de Mary Trump vende quase um milhão de exemplares só num dia

Publicado em 17.07.2020 às 17:21

O polémico livro sobre a família Trump, com revelações inéditas sobre o presidente norte-americano, está à venda desde terça-feira e já é recorde de vendas. Só no primeiro dia foram vendidos quase um milhão de exemplares da obra da autoria da sobrinha de Donald Trump, Mary Trump.Desde que foi anunciada a sua publicação, o livro de Mary Trump tem gerado polémica nos Estados Unidos e no mundo. Mas bastou um dia nas bancas para se tornar um sucesso de vendas.

Publicado na terça-feira, 14 de julho, vendeu cerca de 950 mil cópias no primeiro dia, incluindo pré-vendas e livros digitais ou e-books, informou a editora Simon & Schuster. 

Escrito pela sobrinha do presidente norte-americano e psicóloga clínica, que descreve Donald Trump como um homem “narcisista” e que constitui um perigo para os EUA e para a democracia do país, o livro é o mais vendido pela Amazon, desde que foi lançado.
“Foi um novo recorde para a Simon & Schuster”, confirmou ao Guardian a empresa sediada em Nova Iorque.

Too Much and Never Enough: How My Family Created the World’s Most Dangerous Man” (“Demasiado e nunca suficiente: Como a minha família criou o homem mais perigoso do mundo”, em portugês) retrata o caráter “narcisista” de Donald Trump, moldado por uma infância “emocionalmente violenta” e marcada pela má relação com um pai “sociopata”. 

Recorde-se que o irmão do presidente dos EUA, Robert S. Trump pediu a um tribunal de Queens, em Nova Iorque, que impedisse a publicação do livro de Mary L. Trump, alegando que a autora teria violado um acordo de confidencialidade que assinou nos anos 1990, relacionado com a herança de Fred Trump, seu avô e pai de Donald Trump. A data inicialmente prevista para a publicação era a 28 de julho, mas com a autorização judicial – que recusou o pedido de Robert Trump – , a editora decidiu antecipar o lançamento.
Família Trump “racista” e “antissemita”
Baseado nas memórias de Mary Trump, em momentos reconstituídos por relatos que lhe foram feitos por outros membros da família e documentos oficiais, este livro revela não só a disfunção familiar em que terá crescido o presidente como também algumas informações sobre o próprio, como a de ter pago a um colega para fazer os exames por si.

A sobrinha de Donald Trump considera que em criança o tio foi vítima de uma mãe ausente e de um pai que não lhe dava atenção e que não lhe transmitiu um sentido de segurança, o que o tornou na pessoa egoísta e narcisista com as ideias de grandeza que ainda hoje revela ter.

“Tendo sido abandonado pela mãe durante pelo menos um ano e com o pai a falhar em suprir-lhe as necessidades ou em fazê-lo sentir-se seguro ou amado, Donald sofreu privações que o marcaram para a vida e adquiriu traços de personalidade, incluindo demonstrações de narcisismo, bullying e mania das grandezas”, lê-se no livro da autoria da filha de Fred Trump Jr., o irmão mais velho de Donald Trump.
Mas em entrevista posteriores ao lançamento do livro, Mary Trump voltou a reforçar o caráter “racista” e preconceituoso do presidente norte-americano.
Numa entrevista ao Washington Post, na quinta-feira, a autora descreveu Donald Trump como “claramente racista”, característica que vincula ao “anti-semitismo stressante, um racismo estridente”, da sua família mais próxima.“Quando era criança, era normal ouvi-los a usar a palavra “n” [nigger, algo como “escarumba”] ou usar expressões anti-semitas”, disse ao jornal.
Numa outra entrevista, com Rachel Maddow, a sobrinha de Donald Trump, questionada sobre se tinha testemunhado situações em que o presidente expressasse esse caráter, voltou a afirmar ter ouvido o tio a usar linguagem racista. 

“Claro que sim. E não acho que isso deva surpreender ninguém, tendo em conta como ele é hoje violentamente racista”.
Para Mary Trump é claro que o tio não devia ser presidente dos EUA, considerando-o mesmo “um perigo” na Casa Branca.

No livro, a autora refere que a carreira de Trump como empresário está cheia de fracassos, e que teve de ser o pai a salvá-lo da sua “inaptidão brutal”, uma vez que já tinha investido demais para desistir.

“Ele sabe no fundo que não é nada do que diz ser”, resume, explicando que o tio é incapaz de assumir responsabilidades e que portanto jamais poderá ser bom.

Na quarta-feira passada, Mary voltou a mencioná-lo e pediu que Donald Trump se demitisse, numa entrevista à ABC.

“Ele é totalmente incapaz de liderar este país e é perigoso permitir que ele o faça”, afirmou a sobrinha do presidente e novamente candidato ao executivo da Casa Branca.

Questionada sobre o que diria se estivesse perante Donald Trump na Sala Oval, a autora respondeu: “Demita-se”.
“Este país está à beira do precipício e temos uma decisão a tomar sobre quem queremos ser e para onde queremos ir como país. É difícil para mim processar quantas coisas terríveis acontecem ao mesmo tempo diariamente” fora da Casa Branca.
Mary Trump admitiu, nessa entrevista, que também escreveu o livro para “revelar a verdade” sobre quem é o presidente Donald Trump.

“Não posso deixá-lo destruir o meu país”, disse. “Se eu posso fazer algo para mudar a narrativa, para revelar a verdade, preciso de fazê-lo”.(RTP, emissora pública de Portugal)