Covid-19. “É incrível o que aconteceu em apenas seis meses no mundo”
As palavras são da diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS. María Neira recorda os vários momentos vividos desde que a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia por causa da Covid-19. Desde esse momento, em janeiro, até agora, há pelo menos uma certeza: este vírus vai ser incorporado na lista de doenças infecciosas com as quais já convivemos porque está e vai continuar a circular entre nós.Foram “seis meses muito intensos”, começa por dizer María Neira em entrevista ao jornal espanhol El País.
Para esta responsável da OMS parece claro, nesta altura, que este novo coronavírus “afeta mais uns países do que outros, consegue sobreviver mas também nós conseguimos controlá-lo”. E é crucial nesta altura “aumentar os conhecimentos” sobre o vírus para “sermos mais eficazes na luta”.
Questionada sobre a perspetiva de uma vacina, que vai ajudar nesse combate, a diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS considera que tal nunca acontecerá antes do “primeiro semestre do próximo ano”. Isto apesar de “na história da humanidade” nunca ter havido “uma corrida tão desenfreada, com tantos recursos, tanta mobilização, tanta colaboração científica e tanta pressão política e cidadã” para o desenvolvimento de uma vacina. À esquerda, María Neira (imagem de arquivo)
O cenário mais certo, diz, é que de repente, em vez de uma vacina, teremos várias disponíveis.
Já sobre os tratamentos que estão a ser administrados em doentes infetados com Covid-19, María Neira diz de forma muito clara que os cuidados de saúde agora aplicados aos pacientes são muito mais eficazes do que há quatro meses. Isto porque o conhecimento que existe hoje sobre este vírus é muito maior do que no início da pandemia.
Apesar dessa melhoria, o problema persiste, e há zonas do globo que a preocupam mais nesta altura. A América, é certo, mas María Neira está atenta à situação na Índia e África. A Índia, esclarece nesta entrevista ao El País, tem um “problema de densidade populacional”.
O impacto que a Covid-19 está a ter na sociedade é tal que, no futuro, vai ser preciso mudar a forma como planificamos cidades, que, diz esta especialista da OMS, não estão desenhadas para diminuir o contágio. “Devemos começar a pensar em desenhos de cidades para que nos protejam de doenças infecciosas, mas também as crónicas ligadas ao sedentarismo ou a contaminação do ar”.
Sobre a situação em Espanha, que tem registado nos últimos dias um aumento do número de novos casos, a diretora da OMS diz que tal se deve ao desconfinamento. Era, de certa forma, esperado. “Vai haver casos esporádicos na Europa e é melhor que todo o mundo se prepare. Em alguns casos haverá pequenos focos, noutras situações haverá transmissão comunitária. O importante é saber responder, ter o sistema epidemiológico muito, muito sensível e saber fazer cirurgia quase estética, muito elegante, saber cortar o mínimo possível”.
Diz esta especialista que será fundamental encontrar “soluções muito adaptadas à situação para não voltarmos a medidas dramáticas”. Para María Neira, para além dos novos casos, nesta altura torna-se muito importante também olhar para o número de vítimas mortais, que tem baixado em países como a Espanha.
Questionada sobre a quarentena imposta pelo Reino Unido a viajantes de Espanha – o mesmo acontece nesta altura em relação a Portugal -, a diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS considera que seria melhor, “desde a prevenção ao controlo do vírus, que houvesse uma colaboração epidemiológica. O vírus não reconhece barreiras administrativas ou fronteiras. Está a circular e vai circular. Este tipo de restrições nas viagens não se pode manter durante muito tempo porque os países têm que retomar a sua atividade”.
RTP, emissora pública de Portugal