Vacina anunciada pela Rússia preocupa cientistas

Publicado em 7.08.2020 às 18:00

A Rússia anunciou estar prestes a ser o primeiro país a aprovar uma vacina contra a covid-19 e planeia vacinações em massa já em outubro, ainda que sem completar os ensaios clínicos, o que está a preocupar cientistas. 

Cientistas de vários países dizem que a corrida precipitada às vacinas contra o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, pode ter um efeito negativo, noticia hoje a agência de notícias AP.

As vacinas experimentais covid-19 começaram a ser testadas pela primeira vez em humanos, em algumas dezenas de pessoas, há menos de dois meses, pelo que não há ainda provas científicas que as validem e muito menos a sua distribuição em massa.

“Preocupa-me que a Rússia esteja a saltar etapas pelo que a vacina que aí vem pode não ser eficaz, mas também ser insegura”, disse Lawrence Gostin, especialista em direito de saúde pública da Universidade de Georgetown (Washington, Estados Unidos).

“Não funciona assim… Os ensaios veem primeiro. Isso é muito importante”, disse, citado pela AP.

Segundo Kirill Dmitriev, chefe do Fundo de Investimento da Rússia, que financiou a investigação, a vacina desenvolvida pelo instituto de investigação Gamaleya, em Moscovo, pode ser aprovada em dias, antes de os cientistas completarem a chamada Fase 3 do estudo.

Esse estudo por norma envolve milhares de pessoas e é a única forma de se provar que a vacina experimental é segura e funciona.

O ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, disse que as pessoas dos grupos de risco, como os trabalhadores da área da saúde, podem ter a vacina ainda este mês. Mas não esclareceu se essas pessoas fazem parte da Fase 3 do estudo.

A vice-primeira-ministra, Tatyana Golikova, prometeu iniciar a “produção industrial” da vacina em setembro, e Murashko disse que a vacinação em massa pode começar já em outubro.

Na semana passada Anthony Fauci, o maior especialista norte-americano em doenças infecciosas, já tinha questionado o processo, afirmando esperar que chineses e russos estejam na realidade a testar uma vacina antes de a administrarem em pessoas, porque ao contrário seria “problemático”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertou que todos os candidatos a uma vacina devem passar pelas fases completas de todos os testes.(RTP, emissora pública de Portugal)