• Kamala Harris será a candidata de Biden para a vice-presidência

    Publicado em 11.08.2020 às 22:07

    O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, escolheu finalmente a pessoa que irá disputar com ele a sucessão de Trump e Mike Pence na Casa Branca: a senadora Kamala Harris.A CNN, que noticiou a escolha, sublinha que se tratou de um processo complexo, em que o comité de candidatura de Biden conduziu durante quatro meses uma série de entrevistas com pessoas vice-presidenciáveis. A nomeação de ambos, Biden e Harris pelo Partido Democrata ficará formalmente selada na Convenção do Partido, na próxima semana, realizada virtualmente devido à pandemia. 

    short list de vice-presidenciáveis circulava, por isso, já há algum tempo e era, toda ela, composta por mulheres, de um modo geral de minorias étnicas, com a notável excepção de Elizabeth Warren. Trata-se, sem dúvida, de uma escolha importante, devido à idade avançada de Biden, que em teoria aumenta a probabilidade de ser necessária alguma substituição antes do final do mandato.
    Por isso mesmo, de certo modo se discutiu mais até agora a importância que a escolha teria para o próprio exercício do mandato do que para a angariação de votos que garantam a vitória eleitoral.
    No entanto, a escolha era também encarada como um importante mecanismo compensatório para os défices mais notórios da campanha de Biden. A sua vice-presidente devia ser uma mulher e, à partida, quase não se ponderou qualquer outra hipótese, nomeadamente devido às alegações de assédio sexual que ensombravam a imagem do candidato.
    Por outro lado, devia ser uma mulher negra, ou de uma minoria étnica, porque Biden se tem notabilizado pela sua insensibilidade aos problemas da comunidade afro-americana e até por algumas gaffes grosseiras a respeito desta. Comentadores negros com colunas influentes na imprensa norte-americana têm com frequência observado a falta de jeito do candidato e têm-no aconselhado a não dar o voto negro como garantido.
    É certo que a vaga de manifestações desencadeada com o assassínio de George Floyd tem constituído um poderoso estimulante para a participação do eleitorado negro na votação de novembro, talvez em medida superior à de quaisquer eleições presidenciais da História norte-americana.
    Mas as referências desdenhosas de Biden aos manifestantes, bem como o seu desastroso comentário, comparando a comunidade cubana de Miami com a comunidade negra, levantam dificuldades inesperadas na mobilização negra pela sua vitória. Na verdade, Biden não tem dado ao eleitorado negro razões para votar nele e só pode esperar que Trump dê a esse eleitorado razões suficientes para votar em Biden.
    Finalmente, a candidatura conservadora de Biden precisava de enfeitar-se com uma candidatura vice-presidencial mais à esquerda, ou pelo menos mais dinâmica. Mas a captação do amplo eleitorado de Bernie Sanders não podia ser empreendia mediante o próprio Bernie, eliminado da short list por ser homem e por ter, ele próprio também, uma idade demasiado provecta.
    A escolha de Kamala Harris é a concessão esperada à quota étnica e sexual de que andava dramaticamente necessitada a campanha de Biden. A senadora da Califórnia não será apenas, em caso de vitória, a primeira mulher vice-presidente dos EUA, será também, com filha de uma indiana e de um jamaicano, a primeira pessoa não-branca a ocupar esse cargo.
    Por outro lado, a escolha de Harris não representa uma concessão à esquerda. A senadora notabilizou-se como procuradora-geral do Estado da Califórnia por uma política repressiva que atraiu sobre ela a ira das alas mais liberais e reformadoras da política norte-americana.
    Depois, é certo que tem sido uma combativa opositora do presidente Donald Trump e que tem sabido criar-lhe amargos de boca em discussões difíceis que teve de enfrentar, como foi o caso com a campanha levada a cabo pelo inquilino da Casa Branca para impor o nome de Brett kavanaugh para o Supremo Tribunanl de Justiça.
    Na campanha para as primárias do Partido Democrata, em que também disputou a Biden a nomeação para a candidatura presidencial, situou-se naturalmente à esquerda de Biden em diversas questões em que este brilhava principalmente pela omissão. Mas isso ficaria muito longe de fazer dela uma figura em que os seguidores de Bernie Sanders ou os socialistas pudessem ver-se representados.(RTP, emissora pública de Portugal)