• Covid-19. Especialistas alertam que escassez de seringas poderá ser um obstáculo à vacinação

    Publicado em 22.08.2020 às 15:18

    Numa altura em que o mundo está numa corrida às vacinas para a Covid-19, os especialistas alertam para um outro problema possível: a falta de seringas. A produção deste equipamento não será capaz de responder à demanda a longo prazo e pode vir a comprometer a vacinação em massa.O mais recente alerta é da Administração Trump, mas a União Europeia também já tinha aconselhado os Estados-membros a comprarem mais quantidades destes materiais para evitarem uma possível escassez de seringas.

    De acordo com os cálculos da Casa Branca, as empresas norte-americanas fabricam cerca de 663 milhões de seringas por ano, mas serão necessárias mais 850 milhões de forma a conseguirem distribuir vacinas em massa.

    Numa altura em que a falta de equipamentos de proteção individual continua a prejudicar a resposta dos EUA à pandemia, o Governo norte-americano investiu centenas de milhões de dólares para evitar uma potencial escassez de vacinas. 

    No entanto, os especialistas alertam que os EUA beneficiam apenas de um curto período de tempo para aumentar a produção de seringas de modo a conseguirem vacinar o número de pessoas necessário para controlar a pandemia. 

    A Casa Branca estima que uma potencial vacina poderá receber aprovação de emergência já no próximo inverno e os especialistas defendem que o maior perigo de escassez não surgirá na primeira fase de vacinação, mas sim na segunda e terceira, já em 2021. Os coronavírus produzem uma resposta imunitária no ser humano de curta duração. Por este motivo, a maioria dos especialistas acredita que a população necessitará de receber uma segunda injeção, um “reforço”, apesar de ainda não estar comprovado. Nessa altura, os fabricantes de seringas nos EUA terão de duplicar a produção para atender à procura.

    “Na primeira fase teremos seringas suficientes porque não vamos vacinar mil milhões de pessoas, ainda vamos receber vacinas para milhões de pessoas”, explica Prashant Yadav, investigador do Centro para o Desenvolvimento Global. “Na segunda e terceira fase é quando as coisas ficam mais complicadas”.

    Analistas acreditam que, no caso de ser aprovada uma vacina, os produtores têm a capacidade de produzir até mil milhões de vacinas até ao final de 2020 e nove mil milhões até 2021. A partir desse período, a produção de seringas não conseguirá acompanhar a procura.

    “Se tivermos sete ou oito mil milhões de doses em 2021 e 2022, teremos sete ou oito mil milhões de seringas adicionais? Não”
    , respondeu Yadav. 

    “O que temos vindo a dizer aos Governos de todo o mundo é que, se estão a planear executar um programa de imunização para a Covid-19, é preciso solicitar agora [as seringas] e não esperar até que uma vacina esteja pronta”, disse Troy Kirkpatrick, porta-voz da multinacional americana de equipamentos médicos Becton Dickinson, responsável pelo fabrico de mais de metade das seringas utilizadas nos EUA.

    “A nossa linha de base já está na casa dos mil milhões e mesmo nessa escala, nós não podemos produzir outros 100 milhões este mês”, explicou Kirkpatrick a The Guardian. “É por isso que estamos a ser muito proactivos ao educar os Governos de que precisam de fazer as suas encomendas agora”, acrescentou.
    “Poderá haver escassez”, alerta UE
    A União Europeia também já tinha enviado o alerta: “As vacinas para a Covid-19, uma vez desenvolvidas, podem vir sem seringas e outros itens”. “Poderá haver escassez”, admitiu a Comissão Europeia em julho.

    Por este motivo, a UE instou os Estados-membros a considerarem a aquisição conjunta de seringas, de toalhetes e de material de proteção, necessários para uma vacinação em massa.

    Para além disso, o documento da UE aconselha os 27 Estados-membros a comprarem mais vacinas para a gripe, de forma a evitar surtos simultâneos de gripe comum e da Covid-19 no próximo inverno.(RTP, emissora pública de Portugal)