Covid-19: Madrid tem que “tomar medidas drásticas” se número de casos continuar a aumentar

Publicado em 25.08.2020 às 16:17

Espanha tem registrado nas últimas semanas um aumento de casos de infeção por Covid-19. Madrid continua a ser o centro da preocupação das autoridades espanholas. Na última semana foram registrados na capital espanhola mais 15 mil casos, um crescimento de 16,1 por cento (108 mil no total). O Ministério da Saúde afirma que “se os novos casos continuarem a aumentar, temos de tomar medidas drásticas”. Desde sexta-feira, Espanha notificou 19.382 novos contágios, dos quais 2.060 foram confirmados entre domingo e segunda-feira, desde o início da pandemia, o país regista um total de 405.306. São mais 405 mil desde março.

Na comunidade de Madrid os internados cresceram 24 por cento em apenas quatro dias para 1.544 pacientes. Um número que representa 12 por cento da capacidade dos hospitais. 

No passado domingo, as autoridades da comunidade de Madrid decidiram confinar o pequeno município de Tielmes (com 2.600 habitantes), uma medida que, segundo o Ministério da Saúde, pode não ser a última a ser adotada

“É verdade que em outros municípios que integram a área metropolitana de Madrid é mais difícil aplicar esse tipo de medida. Mas é claro, que se a incidência de novos casos continuar a aumentar, medidas mais drásticas terão de ser tomadas. Não sei se será um confinamento ou outro tipo de restrição. Estou certo que a comunidade de Madrid tem todas as opções em cima da mesa”, afirmou Fernando Simón, diretor de Emergências em Saúde (o equivalente à DGS em Portugal). 

Os dados gerais de Espanha continuam a refletir uma tendência preocupante. Nos últimos 14 dias a taxa de transmissão do vírus (RT) e de 166 casos por cada 100 mil habitantes. França tem um RT de 67 e o Reino Unido de 22. No entanto, em comunidades que estavam em pior situação, como é o caso deAragão e parte da Catalunha, o crescimento de novos casos de Covid-19 está em queda. Apesar disso, o presidente da Generalitat da Catalunha, Quim Torra, decidiu aumentar as restrições na comunidade. 

No resto do país, especialmente em comunidades que começaram com uma melhor situação epidemiológica a situação está também a agravar-se. É o caso de Múrcia, que desde quinta-feira da passada semana triplicou o número de pacientes internados em Unidades de Cuidados Intensivos para 31, já os internamentos aumentaram 131 por cento. O que levou o Governo regional a limitar o número de reuniões sociais a seis pessoas. 

Também nas Ilhas Baleares o número de internados aumentou em 43 por cento e nas Ilhas Canárias mais 30 por cento em internamentos e mais 69 por cento de admissões em Unidades de Cuidados Intensivos. 

Já nas comunidades de Castilla-La Mancha e Castela e Leão, com aumentos de mais 45 por cento e 26 por cento de internados, registaram aumentos menores do que na semana anterior. 

Segundo especialistas ouvidos pelo jornal El País explicam que as hospitalizações e os óbitos começam a crescer duas a três semanas depois de os casos aumentarem. 

Nas províncias de Cantábria, Astúrias, Galiza, Extremadura, os indicadores mantém-se estáveis. 

No País Basco, a situação continua complicada com mais 16 por cento de casos positivos na última semana, mais 21 por cento no número de internados desde quinta-feira ( o que representa 404,10 por cento da capacidade da rede de saúde). 

Uma tendência de alta em grande parte das comunidades, mas a verdade é que se observa, em algumas, uma estabilização do número de ocorrência de casos semanais”, acrescentou Fernando Símon. 
Fernando Simón prevê que no próximo outono e inverno surjam no país menos casos de gripe e de constipações, graças à obrigação de utilização de máscara.
“Vamos continuar a usá-la, reduzindo assim o risco”, apelou. Segundo confinamento pode ter consequências terríveis 
O aumento de casos de infeção por Covid-19 em Espanha poderá levar o Governo a impor um segundo confinamento, o que já levou a que empresários e psicólogos a afirmar que teria consequências terríveis. 

Espanha foi um dos países europeus com um primeiro confinamento mais rígido. 

“Se as coisas continuarem como estão, provavelmente teremos de voltar a algum tipo de confinamento, pelo menos parcialmente. Embora o aumento recente tenha sido constante, é provável que seja um confinamento menos restritivo do que tivemos em março e abril ”, avança o The Guardian que cita uma entrevista de José Felix Hoyo Jiménez, da organização Medicos del Mundo. 

No entanto, a associações que representam os empresários espanhóis recordam que o país “está a recuperar de um confinamento que paralisou a economia e provocou uma das maiores recessões da história recente”. 

Um novo confinamento que paralisaria a atividade empresarial teria consequências catastróficas e irreversíveis”, acrescenta o CEOE, umas das associações representativas dos empresários espanhóis. 

Também os psicólogos alertam para o perigo de um novo confinamento e recordam que continuam a lutar contra os efeitos do primeiro confinamento. 

O The Guardian refere um estudo feito com crianças em Espanha e em Itália, que revela que 86 por cento dos pais entrevistados relataram mudanças no estado emocional dos seus filhos durante o confinamento, com as crianças a demonstrarem problemas de concentração e irritabilidade. 

Também os adultos continuam a lutar com os impactos do bloqueio, afirmou María Rosario Gomis Ivorra, psicóloga especializada em atendimento de emergência. 

“Já vimos muitos episódios depressivos, muitos transtornos relacionados à ansiedade”, 

Para a psicóloga, “seria horrível. Não recuperamos do primeiro confinamento, a nossa resiliência está desgastada”. 

“Não apenas horrível, seria mais perigoso do que da primeira vez. Os distúrbios seriam mais sérios”, rematou.(RTP, emissora pública de Portugal)