• Bolsonaro culpa indígenas, imprensa e ONGs por queimadas e consequências da covid

    Publicado em 22.09.2020 às 13:19

    O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) culpou indígenas, caboclos, imprensa e ONGs pelas queimadas na Amazônia e Pantanal e pelas consequências da pandemia de coronavírus durante seu discurso na Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (22). Leia o discurso na íntegra.

    Em vídeo gravado em português, Bolsonaro disse ter sido vítima de uma campanha de “desinformação”, capitaneada pela imprensa brasileira, que “politizou o vírus” e “disseminou pânico” entre a população sob o lema “fique em casa”. Não citou que, até esta terça, mais de 137 mil brasileiros tinham morrido em decorrência da covid-19.

    Veja como foi o discurso:

    Embora tenha minimizado a gravidade da pandemia, o presidente afirmou aos presentes que alertou a população sobre o vírus “desde o começo”.

    Ele se apropriou do auxílio emergencial, dizendo ao mundo que pagou “parcelas que somam aproximadamente 1 mil dólares” para 65 milhões de pessoas, em uma soma que pode levar à distorção dos R$ 600 mensais pagos por sugestão do Congresso Nacional, e não dele.

    Ao relatar à ONU que “assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas“, Bolsonaro omitiu seu veto a auxílio emergencial específico e a água para essa parcela da população. 

    Bolsonaro disse ainda que o Brasil é “referência em preservação ambiental” e que as florestas brasileiras não pegam fogo porque “são úmidas”. Ele culpou populações tradicionais por incêndios. O fogo no Pantanal, no entanto, teve origem em fazendas de pecuaristas, conforme análise dos focos de calor na região.

    “Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, distorceu.

    O chefe de Estado brasileiro também atribuiu à Venezuela a responsabilidade pelo vazamento de óleo no litoral, em 2019. “Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo”. A investigação sobre as causas e os culpados, porém, segue sem respostas, um ano depois.

    A exportação de alimentos foi exaltada com omissões por Bolsonaro. “Estamos abertos para o mundo naquilo que melhor temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca exportamos tanto. O mundo cada vez mais depende do Brasil para se alimentar”.

    Nenhuma linha foi citada sobre a alta do arroz no mercado interno, provocada por fatores como a ênfase ao agronegócio e o descaso com a segurança alimentar. O presidente tampouco informou que barrou 17 dos 20 artigos do auxílio emergencial para agricultura familiar.

    Bolsonaro enalteceu Donald Trump e o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, considerado uma traição à causa palestina. No fim do discurso, Bolsonaro fez um apelo contra a “cristofobia”, e ignorou a laicidade e a pluralidade do país ao afirmar que a população toda segue as ideologias dele. “O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”, declarou.(Brasil de Fato)