• Partidos de oposição anunciam medidas para fazer frente a Bolsonaro

    Publicado em 3.03.2020 às 22:48

    Partidos do campo de oposição anunciaram, nesta terça-feira (3), em Brasília (DF), que irão apoiar integralmente as manifestações populares nacionais convocadas para os dias 8, 14 e 18 deste mês.

    A primeira diz respeito à celebração política do Dia Internacional da Mulher, quando diferentes coletivos e movimentos populares devem tomar as ruas do país em defesa da igualdade de gênero e contra o avanço da misoginia. As outras são, respectivamente, protestos que marcam os dois anos do assassinato de Marielle Franco (Psol) e Anderson Gomes e a paralisação em defesa da educação e dos serviços públicos.

    A decisão foi tomada nesta terça, após um encontro que reuniu lideranças das siglas PT, PSB, PDT, Psol, PCdoB, Rede, PV e Unidade Popular (UP). A iniciativa vem após o vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incitou manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), depois do qual foi duramente criticado por diferentes atores políticos e sociais. O ato a que o chefe do Executivo se referia no vídeo está marcado para o próximo dia 15 e é organizado por segmentos de direita.  

    Em meio ao avanço conservador, a oposição tenta fortalecer a associação com o campo popular como forma de reagir às investidas do governo. É o que afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

    “É unificar a denúncia, pra sociedade, do autoritarismo de um presidente que quer fazer um autogolpe e buscar a unidade das forças democráticas. A democracia está em risco, a cada dia tem uma fala autoritária, uma fala brusca, uma maneira de destratar a imprensa de forma geral, de diminuir a democracia, e nós vamos lutar muito pra denunciar isso permanentemente”, disse ao Brasil de Fato.

    Em nota divulgada após o encontro, os oito partidos informaram ainda que pretendem fortalecer o Fórum Permanente dos Partidos de Oposição, instância que reúne deputados do campo no Congresso, e a resistência à agenda neoliberal do governo.

    Os partidos também irão construir atos nacionais unificados em defesa da democracia e da soberania, buscando aglutinar “todas as forças democráticas”, e intensificar os trabalhos de comunicação. Neste último caso, o objetivo é elaborar uma política conjunta para atuação nas redes sociais, plataformas em que o movimento bolsonarista se destaca e tem forte capilaridade.

    Paralelamente, a oposição planeja ainda a formulação de uma pauta de atuação unificada no Congresso, cujos detalhes ainda não foram fechados nem divulgados.

    “O recado principal é de que existe, de fato, uma grande ameaça à democracia brasileira, o que é uma característica do governo Bolsonaro, e que a resposta institucional tem que ser uma resposta dura do ponto de vista da mudança da agenda. Temos que tirar a agenda do governo e colocar uma que recupere os direitos do povo e uma agenda democrática na Câmara. É isso que vamos tentar”, disse a líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

    O presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, sublinha que o contexto atual traz dificuldades especialmente porque a agenda parlamentar da oposição difere da cartilha do chamado “centrão”, grupo que reúne partidos da direita liberal e constitui o maior bloco da Câmara dos Deputados.

    “A gente vai ter que lutar muito pra impor ou pelo menos sustentar uma agenda no debate do Congresso, mas acho que é possível”, pondera o psolista, no entanto.

    Aliança  

    Apesar das divergências, o grupo também tenta uma aliança estratégica com atores políticos dos segmentos de centro e centro-direita. Na tarde desta terça, por exemplo, a oposição se reuniu com nomes do Podemos e do PP, sendo este último representado pelo líder da bancada, Arthur Lira (AL).  

    O diálogo com Lira tem relevância para os opositores especialmente porque o parlamentar hoje coordena um grupo recém-formado que soma representantes de 14 partidos – PSL, DEM, PL, PP, MDB, PSDB, Republicanos, Solidariedade, PTB, PROS, PSC, Avante, Patriota e PSD. Ao todo, são 351 deputados federais.

    Para além das pautas específicas do campo da esquerda, a oposição busca articular com o centrão a construção de uma agenda própria da Câmara para fazer frente a Bolsonaro.

    “Começamos a fazer isso hoje e eu percebo um aceite importante por parte dos líderes do centro porque também há esse sentimento [entre eles] de que precisamos de uma agenda nossa. Não dá pro governo querer fechar o Congresso – ou pelo menos estimular manifestações desse tipo – e a gente continuar não respondendo à sociedade nas suas demandas principais, especialmente demandas democráticas e por direitos”, afirma Jandira Feghali.  

    Fechado para o acesso da imprensa, o encontro com líderes do centrão também reuniu interlocutores da sociedade civil organizada. Entre elas, estiveram presentes entidades como União Nacional dos Estudantes (UNE), coletivo Intervozes, Clube de Engenharia, Marcha Mundial por Justiça Climática, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Anistiados Políticos, Oxfam Brasil, Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) e Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).(Brasil de Fato)