• FMI prevê contração de 5,8% na economia brasileira em 2020

    Publicado em 6.10.2020 às 07:40

    A economia brasileira vai contrair 5,8 por cento este ano, devido aos efeitos da pandemia da Covid-19, indicou o Fundo Monetário Internacional (FMI), que previu uma recuperação e um crescimento de 2,8 por cento em 2021.De acordo com o relatório anual sobre a economia brasileira, divulgado na segunda-feira, o FMI adiantou não prever uma recuperação do consumo até ao final do ano.

    Com a ajuda de emergência reduzida a metade nos últimos quatro meses do ano, espera-se que o consumo privado se recupere apenas modestamente“, devido aos efeitos da crise e à retirada do apoio fiscal, acrescentou.

    Os pagamentos de ajuda de emergência cedida pelo governo a milhões de famílias pobres do Brasil devem terminar no final deste ano, gerando debates políticos, incerteza fiscal e volatilidade no mercado financeiro nas últimas semanas.

    Antes da pandemia, que fez mais de 146 mil mortos e quase cinco milhões de infectados no Brasil, a organização tinha elogiado as políticas do governo brasileiro e considerado que a economia estava em condições de “recuperar em 2020”.

    No entanto, o FMI advertiu que “se as condições de saúde, econômicas e sociais ficarem piores do que o esperado, as autoridades devem estar preparadas para fornecer apoio fiscal adicional”.

    Realidade e cenário previsível

    A atividade econômica brasileira contraiu-se em sete por cento no primeiro semestre de 2020, a maior diminuição em 30 anos, e perdeu quase 12 milhões de postos de trabalho entre fevereiro e julho, mais de metade no setor informal, de acordo com o FMI.

    Em agosto, os depósitos a prazo das famílias brasileiras aumentaram mais de 60 por cento em relação ao ano anterior, enquanto que a diminuição das importações se devem traduzir num ligeiro superávite em conta corrente de 0,3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, à medida que se recupera a procura externa.
    O FMI alertou para a grande incerteza sobre a evolução da pandemia e apontou que o fim do apoio fiscal no final do ano irá resultar numa pressão acrescida.

    A organização instou o Executivo brasileiro a “implementar rapidamente reformas estruturais que garantam a consolidação a médio prazo” para mitigar “o risco de uma dinâmica da dívida indesejável”.

    “Qualquer gasto adicional pode minar a confiança do mercado e aumentar as taxas de juros”, salientou.

    A organização financeira projetou que, devido ao forte aumento do défice fiscal primário, a dívida pública bruta saltará para cerca de 100 por cento do PIB este ano, e permanecerá alta a médio prazo.

    O FMI referiu-se às preocupações dos mercados quanto à sustentabilidade fiscal brasileira, o que, assegurou, se vê refletida na forte curva de desempenho da moeda local (real).

    Contudo, o FMI identificou como risco uma segunda vaga da pandemia, mas destacou as consideráveis reservas internacionais do país e o sistema bancário resiliente como pontos fortes, assim como uma baixa proporção da dívida pública, “o que proporciona uma almofada confortável contra choques externos”.

    “Com a dívida pública a aumentar para 100 por cento do PIB [Produto Interno Bruto], a preservação do teto de gastos constitucional como âncora fiscal é essencial para sustentar a confiança do mercado e conter o risco soberano”, disse o FMI, ao destacar a necessidade de consolidação fiscal para encerrar o défice primário e estabilizar a dívida pública.(RTP, emissora pública de Portugal)