• Vídeo viral de bailarina com Alzheimer realça importância da música para a memória

    Publicado em 14.11.2020 às 08:36

    Marta Cinta, antiga bailarina profissional, é a protagonista de um vídeo que recentemente se tornou viral nas redes sociais. Ao som de Lago dos Cines, a bailarina espanhola que sofria de Alzheimer conseguiu recordar os passos de dança. Durante os últimos dias, o mundo tem-se emocionado com um vídeo a circular nas redes rociais. No vídeo, com pouco mais de dois minutos, vê-se uma mulher idosa, numa cadeira de rodas, que toma coragem e começa a dançar espontaneamente, principalmente com as mãos, à medida que se ouve uma melodia crescente do Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. 

    A idosa é Marta Cinta González Saldaña, uma antiga bailarina profissional espanhola que abriu a sua própria companhia de ballet em Nova Iorque, no final da década de 60.
     Marta Cinta, como era conhecida profissionalmente, sofria de Alzheimer e acabou por falecer em 2019, ano em que o vídeo foi filmado.

    No entanto, o vídeo apenas se tornou viral recentemente, depois de a organização espanhola Música Para Despertar – que promove o uso terapêutico da música em pessoas com Alzheimer e outras demências – o ter partilhado na rede social Twitter.

    Em 2019, a organização fez uma visita à Residência Muro de Alcoy, em Alicante, onde a antiga bailarina residiu nos últimos anos. Agora, em declarações à agência de notícias espanhola Efe, o fundador e diretor da Música Para Despertar, Pepe Olmedo, recorda a altura em que conheceu Marta Cinta e testemunhou o momento do vídeo.

    “Encontrámo-nos com Marta González, ficámos a saber da sua história e testámos com ela as ferramentas do Música para Despertar”, disse Olmedo. “No vídeo, podemos ver como ela reage a um dos temas mais importantes da sua vida”, recorda.

    “Ela estava cabisbaixa e, quando começaram os primeiros acordes, ela conectou-se com a composição e ficou emocionada”, explicou o psicólogo à agência de notícias espanhola. Ao longo do vídeo, vê-se Marta Cinta a recordar os passos da coreografia, que se vão desbloqueando à medida que a música prossegue.“Emociona-me”, ouve-se a antiga bailarina a dizer no final, que começa depois a explicar os passos da dança. “É preciso subir em pontas”, recordou Cinta. 
    O poder da música na memória
    A capacidade específica de a música se conectar com doentes que sofrem de diversos tipos de demência é estudada há vários anos e cada vez mais são conhecidos resultados e testemunhos.

    Para além de Marta Cinta, um outro exemplo é o de Paul Harvey, antigo pianista e professor de música que conquistou recentemente o primeiro lugar de várias tabelas com uma melodia que improvisou ao piano apesar da sua perda de memória. O momento em que Harvey, de 80 anos, criou a música foi partilhado no Twitter pelo seu filho, que indicou apenas quatro notas musicais ao seu pai. Com essas indicações, Harvey conseguiu de imediato compor a música que ficou conhecida por “Quatro Notas”.

    Grace Meadows, diretora da organização Música para Demência, explica a The Guardian que a memória auditiva é uma das últimas coisas que uma pessoa perde, porque é uma das primeiras que desenvolvemos, apenas a 18 semanas de gestação. “É uma das vias neurais mais profundas que são estabelecidas”, esclarece Meadows.

    A diretora da organização explica que esta memória auditiva permanece intacta mesmo quando as pessoas sofrem de demência cognitiva, porque a música é processada em muitas partes do cérebro. Por isso, se alguma coisa estiver a bloquear a via neural, o cérebro encontra outro caminho. 

    No caso de Marta Cina, estes instintos musicais estão relacionados a uma forte memória muscular, o que a leva a recordar a dança à medida que ouve a música do Lago dos Cisnes. 

    Em apenas poucos dias, mais de oito milhões de pessoas assistiram ao vídeo nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, Facebook, Twitter ou TikTok.(RTP, emissora pública de Portugal)