‘Kit covid’ de Bolsonaro eleva risco de morte, alertam médicos
A utilização do chamado ‘kit covid’, propagandeado por mais de um ano por Jair Bolsonaro como tratamento para pacientes infectados pelo vírus da Covid-19, está sendo associada ao aumento do risco de mortes de doentes em estado grave.
Apelidado de modo irresponsável por Bolsonaro e pelo ministro da Saúde Eduardo Pazuello de ‘tratamento precoce’, o kit é composto de hidroxicloroquina e ivermectina, dois medicamentos de uso não recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nesta segunda-feira (22), a Agência de Medicamentos Europeia (EMA) também emitiu um comunicado desaconselhando o uso de ivermectina na prevenção e tratamento da doença.
Segundo reportagem da BBC desta terça-feira (23), diretores de UTIs de hospitais constataram que o coquetel tem contribuído, por motivos diferentes, para aumentar os óbitos. “A preocupação maior é com os 15% que desenvolvem a forma grave da doença e acabam vindo para a UTI”, adverte o coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, em São Paulo, Ederlon Rezende. “É nesses pacientes que os efeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida”.
E não é só: o tratamento precoce pode levar o paciente ao óbito também pela demora na internação, resultado da espera do doente pelos efeitos de drogas. Além disso, sustentam médicos intensivistas ouvido pela reportagem, o ‘kit covid’ suga dinheiro público que poderia ir para a compra de medicamentos para intubação e confunde a população com uma mensagem dominante prejudicial ao combate à pandemia.
“Alguns prefeitos distribuíram saquinho com o ‘kit covid’. As pessoas mais crédulas achavam que tomando aquilo não iam pegar covid nunca e demoravam para procurar assistência quando ficavam doentes”, relata Carlos Carvalho, diretor da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo, à BBC News.
“Muitos têm sido salvos no Brasil com esse atendimento imediato”, mentiu Bolsonaro no início do mês. E continuou a girar sua roleta russa da morte: ”Neste prédio mesmo (Palácio do Planalto), mais de 200 pessoas contraíram a Covid e quase todas, pelo que eu tenha conhecimento, inclusive eu, buscaram esse tratamento imediato com uma cesta de produtos como a ivermectina, a hidroxicloroquina, a Azitromicina”.