União de esforços pode conter novo coronavírus

Publicado em 17.03.2020 às 09:07

A possibilidade de transmissão comunitária de casos de doença pelo coronavírus 2019 (Covid-19) em Goiás foi a explicação do secretário de Estado da Saúde, Ismael Alexandrino, para a publicação de nota técnica, no domingo, dia 15, que, entre outras medidas, determinou a paralisação das aulas em Goiás. O esclarecimento foi divulgado em coletiva nesta segunda-feira, dia 16, ao lado da secretária de Estado da Educação, Fátima Gavioli; do reitor interino da UEG, Valter Campos; do representante do Conselho Estadual de Educação, Flávio Roberto de Castro; e do presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro), Railton Nascimento. 

A transmissão comunitária ocorre quando não se consegue mais identificar quem passou o vírus para quem. “Qualquer ação, quando lidamos com uma pandemia, deve ser tomada no tempo certo. Se não fizermos antes, corremos o risco de potencializar o problema; se perdermos o “time”, corremos o risco de o problema já não estar nas nossas mãos”, destacou o secretário de Saúde. 

Fátima Gavioli destacou que as aulas serão suspensas por 15 dias, a partir de quarta-feira, dia 18. “Hoje as crianças chegaram à escola normalmente, aqui (na capital) e no interior. Os professores as receberam, a cozinha está fazendo alimentação normal. E eles estão trabalhando com vídeos, textos e desenhos que possam ajudar na instrução dessa criança, para ela falar com a família e vizinhos”, explicou a secretária de Educação, acrescentando que as crianças que não foram à escola nesta segunda-feira não ficarão prejudicadas. 

A partir desta terça-feira, dia 17, Gavioli estima que o fluxo de crianças deverá ser reduzido para 10% dos alunos da rede pública do Estado – máximo de 50 mil alunos. Na quarta-feira, dia 18, as escolas não receberão os alunos, e os professores também iniciarão o período de recesso das aulas. 

Questionário

Como grande parte dos pais trabalham fora de casa, a previsão é de que muitas dessas crianças ficarão com os avós, que é um público mais vulnerável para os casos graves de Covid-19. Por isso, será feito um questionário com as crianças para identificar com quem elas ficarão nos próximos dias. “A partir disso, vamos saber quantas crianças ficarão com o grupo de risco, que são os idosos. Por isso, tivemos que fazer uma reorganização e planejamento, antes de determinar o fechamento das escolas”, afirmou Gavioli. 

A secretaria destacou que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional determina que as crianças devem ter pelo menos 200 dias letivos. “Vamos organizar para onde essas crianças irão, como se alimentarão – porque tem muita criança que depende da alimentação da escola. Depois disso, vamos sentar com sindicato, conselho, comitê de educação para ver se vamos ter adiantamento de férias ou reposição de aulas”, informou.

Ao final dos 15 dias sem aulas, será feita uma avaliação se as escolas retornarão às suas atividades. “Trabalhamos com a hipótese de, nos casos em que for possível, emitirmos uma resolução autorizando o envio de lista de atividades e de aulas gravadas, de 30 minutos. Se for preciso, usaremos estúdios de faculdades particulares, da UEG, ou da Agência Brasil Central”, disse.

Transmissão comunitária

Ao fazer uma análise do cenário da evolução da Covid-19 em Goiás, Ismael Alexandrino, esclareceu que foi observado aumento do número de casos suspeitos da doença, de 22 para 85, até esta segunda-feira. “Isso fez com que tivéssemos a percepção de que talvez estejamos às vésperas da confirmação de um caso de transmissão comunitária e não só de casos importados, como os quatro casos confirmados até agora, em Goiás”, explicou.

Dessa forma, o secretário afirmou que esse é o momento correto para a paralisação das aulas. “Também optamos em fazer isso de forma escalonada, dando um período razoável de dois dias para as escolas se organizarem. Está valendo a partir de hoje (segunda-feira), com tolerância até quarta-feira, e excetuamos a não obrigatoriedade em relação aos alunos graduandos da área de saúde”, afirmou. 

Esses estudantes receberão aulas específicas sobre Covid-19 e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), podendo ser convocados a darem apoio caso haja necessidade de pessoas capacitadas para atuarem nas ações relacionadas ao coronavírus. “Trata-se de uma medida que também é de prevenção. Acho que não precisaremos chegar nesse estágio, mas, se precisarmos, essas pessoas serão as primeiras da linha de frente para serem convocadas a nos ajudar nas unidades de saúde existentes”, esclareceu. 

Baixa letalidade 

Apesar de o coronavírus ter baixa letalidade, é de alta transmissibilidade. Isso faz com que, na maioria das vezes, o paciente não chegue ao estado grave, mas pode levar ao contágio de um grande número de pessoas. Dessa forma, pode haver uma sobrecarga no sistema público de saúde. 

“Isso pode causar um colapso no sistema público e privado de saúde. E precisamos lembrar que outras patologias continuam acontecendo. Precisamos continuar cuidando das pessoas com infartos, AVCs, acidentadas ou com dengue. Então, a saúde coletiva é a nossa maior preocupação, obviamente. Não menosprezamos o individual, mas a doença afeta muito mais no aspecto macro que no individual”, esclareceu o secretário. 

Alexandrino afirmou que o Governo de Goiás tomou uma série de medidas que, em conjunto, podem representar um enfrentamento adequado ao novo coronavírus. “Não existe uma medida única que seja salvadora, precisamos de várias medidas pequenas que, somadas, dão um saldo positivo. E precisamos de várias pessoas, dos profissionais de saúde e da população em geral”, salientou.

Ações

O secretário destacou que o Governo de Goiás tem sido pioneiro em ações como a criação do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o novo coronavírus (COE) e do Plano Estadual de Contingência para o Enfrentamento da Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (Covid-2019). “Também puxamos com outros secretários de Saúde essa discussão, no âmbito ministerial, inclusive, no que se refere a financiamento de custeio exclusivo para isso, e o Ministério da Saúde tem nos atendido. Também tivemos a oportunidade de acolher os brasileiros repatriados e o trabalho brilhante do Lacen”, enumerou.

Em Goiás, agora, serão necessárias tomar medidas assistenciais. O objetivo da interrupção das aulas por um período de 15 dias é impedir a transmissão do vírus.  “Isso para que o desfecho seja menos grave e o sistema público consiga suportar e não entrar em colapso, como temos visto em países como a Itália”, salientou. 

O secretário também destacou que o Estado disponibilizou o hospital do Ipasgo para ser utilizado exclusivamente para tratamento do coronavírus e de síndromes respiratórias agudas. A unidade deverá entrar em funcionamento nas próximas semanas. 

Orientações

A primeira orientação do secretário foi que pessoas que suspeitarem que apresentam os sintomas da Covid-19 façam a autoavaliação por meio do aplicativo coronavirus-sus, disponível para usuários dos sistemas operacionais iOS e Android. “Quando a pessoa tem um determinado sintoma, ela entra no aplicativo, preenche os dados sobre os sintomas e o aplicativo interage com ela. Dessa forma, o aplicativo orienta se a pessoa deve ou não procurar uma unidade de saúde”, detalhou. 

O secretário explicou que casos graves serão referenciados para o Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT) ou para o Hospital do Ipasgo, que funcionará como hospital de campanha. “Sabemos que chegarão pacientes por demanda espontânea no Hospital do Ipasgo. Essas pessoas serão atendidas nas salas modulares, que servirão como um local de triagem para os pacientes que chegarem por demanda espontânea. Entrarçao para o Hospital do Ipasgo aqueles que tiverem indicação. A grande maioria das pessoas receberá orientação, receberá tratamento, mas o repouso será em casa. Internaremos no hospital pacientes críticos e semicríticos”, esclareceu.

As estatísticas mostram que a população com maior probabilidade de adquirir o coronavírus e ter a Covid-19 são os idosos com comorbidades. “Esse grupo tem mais condições de ficar crítico, com insuficiência respiratória e, assim, depender de ventilação mecânica, de tratamentos intensivos. Mas o número estimado para isso é relativamente pequeno, se considerarmos o quantitativo de pessoas que estimamos que serão contaminadas. Em uma análise prévia, não esperamos que haja mais de cem pessoas em níveis críticos em um período de 90 a 120 dias – é o que esperamos. Óbvio que isso é baseado em observação e estatísticas”, estimou. 

O secretário esclareceu que pacientes críticos são aqueles que dependem de cuidados intensivos, com ventilação mecânica. “Os que serão contaminados, e que até talvez exijam internação, serão em torno de alguns mil, mas não sabemos exatamente, porque no clima tropical o vírus provavelmente terá um comportamento diferente”, avaliou.