Aos 80 anos, morre Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones
Morreu aos 80 anos o músico britânico Charlie Watts, baterista da mítica banda The Rolling Stones, anunciou esta terça-feira o seu agente.”É com imensa tristeza que anunciamos a morte do nosso estimado Charlie Watts. Ele morreu hoje pacificamente num hospital de Londres rodeado pela família“, adiantou o porta-voz do músico, citado pela agência Reuters.
“Charlie foi um amado marido, pai e avô e, como membro dos Rolling Stones, um dos maiores bateristas da sua geração“, acrescentou Bernard Doherty, em comunicado.
“Pedimos respeitosamente que a privacidade da sua família, membros da banda e amigos mais próximos seja respeitada nesta hora difícil”, solicitou.A banda tinha anunciado, no começo deste mês, que Watts não iria participar na digressão norte-americana, por estar a recuperar de um procedimento médico, sendo substituído pelo músico Steve Jordan.
Charlie Watts começou por estudar artes gráficas ao mesmo tempo que tocava bateria em clubes londrinos de rhythm&blues.
Foi aí que conheceu Brian Jones, Mick Jagger e Keith Richards, com quem viria a formar, em janeiro 1963, a banda icônica Rolling Stones.
Foi o único membro do grupo, além de Jagger e Richards, a participar em todos os álbuns de estúdio.
“Vais fazer falta”
Era o “homem mais elegante e uma companhia brilhante”, emocionou-se o cantor Elton John, num tweet de condolências à família. “É um dia muito triste“.
“Deus te abençoe Charlie Watts, vais fazer-nos falta”, reagiu no Facebook Ringo Starr, baterista dos Beatles, desejando à família de Watts “paz e amor”.
Também Liam Gallagher, vocalista do grupo Oasis, e os Kiss renderam homenagem nas suas contas oficiais do Twitter. “RIP Charlie Watts”, escreveram.
O autodidata viciado em jazz
A sua maior influência no estilo na bateria, reconhecida pelo próprio, foi o jazz. Watts manteve-se fiel a esse primeiro amor e formou mesmo o Charlie Watts Quintet, com o qual realizou vários espetáculos, desde logo no Ronnie Scott´s Jazz Club. Gravou vários discos com ambos os grupos.
Nascido a 2 de junho de 1941, em Londres, o músico sempre sonhou com o jazz, sobretudo com o swing, desde que começou aos 13 anos a ouvir Duke Ellington, Chet Baker e Charlie Parker, apresentados pelo seu vizinho, Dave Green, com quem viria a formar o quarteto “The A, B, C & D of Boogie-Woogie” 30 anos depois.
“Era o que sonhávamos fazer”, reconheceu Watts em 2011 à agência France Presse.Baterista autodidata, aprendeu a tocar de ouvido e a olhar a técnica dos bateristas de jazz na cena londrina. “Nunca fui aprender a tocar jazz numa escola. Não é disso que gosto. O que gosto no jazz é a emoção”, explicou à AFP.
Além de baterista, Watts desenhou e concebeu as primeiras capas dos discos e as apresentações em palco do grupo.
Casado há mais de 50 anos com Shirley Sheperd e pai de Seraphina, Charlie Watts contrastou sempre com os seus excênticos parceiros de banda, “a calma no meio da tempestade dos Rolling Stones, tanto em palco como fora dele”, nas palavras evocativas do jornal Mirror, em 2012.
Não passou contudo completamente incólume ao ambiente frenético e de dependência vivido no grupo.
Nos anos 80 submeteu-se a uma cura de desintoxicação de heroína e do álcool. Garantiu depois que nunca recaiu. “Foi uma fase muito breve para mim. Limitei-me a parar, não era importante para mim“, referiu.
Em 2004, Watts sobreviveu a um cancro na garganta. Vontade de abandonar
Ao longo da sua carreira com os Rolling Stones, o baterista nunca comparou desvaforavelmente a presença nos palcos dos estádios com os palcos intimistas dos clubes de jazz. “Não são assim tão diferentes”, dizia.
Contudo, por várias vezes pensou abandonar a banda. “Anunciar que um dado concerto seria o último não seria uma tristeza assim tão grande. Continuaria a ser o mesmo de ontem ou de hoje”, afirmou em 2018 à revista New Musical Express, numa altura em que o grupo de septuagenários preparava uma nova tournée.
Considerado como o 12.º melhor baterista de todos os tempos pela revista Rolling Stone, Charlie Watts reconheceu ter vários vezes tido a tentação de abandonar a banda que ajudou a fundar em 1963.
“No fim de cada tournée, ia-me embora. Trabalhávamos seis meses nos Estados Unidos e dizia para mim, acabou, volto para casa. Depois, duas semanas mais tarde, começava a andar às voltas e a minha mulher dizia-me. Porque não voltas a trabalhar? És um pesadelo“.(RTP, emissora pública de Portugal)