Pandemia de coronavírus exige esforço inédito de guerra, diz Nicolelis

Publicado em 20.03.2020 às 11:36

Tutaméia –Para o premiado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, a passagem do coronavírus pelo país representa muito mais do uma doença que deve atingir milhares de pessoas. “O Brasil nunca passou por algo assim. Essa vai ser a situação de guerra mais complexa, mais multidimensional e mais desafiadora que o país já enfrentou. E não temos um governo capaz de entender a dimensão do que estamos enfrentando. Não vejo o país agindo de uma maneira proporcional ao desafio que vai chegar nos próximos dias”.

Nicolelis foi entrevistado pelo portal Tutaméia (vídeo com a íntegra abaixo). Doutor em medicina pela USP e professor da universidade de Duke (EUA), ele propõe a criação “de uma comissão nacional das mentes mais capacitadas nas áreas específicas necessárias para combater uma pandemia multidimensional como essa, que não é só de saúde pública, mas tem dimensões econômicas, sociais, geopolíticas, de logística”, declara.

Ele simula cálculos a partir de projeções conservadoras em discussão para os EUA, considerando 50% de infectados na população, com 1% de mortalidade desse conjunto. Para os 200 milhões de brasileiros, teríamos a hipótese de 100 milhões de infectados e um milhão de mortos

“É preciso acordar para essa hecatombe e começar a pensar estrategicamente. Oferecer todos os meios necessários para a comunidade científica, para os sanitaristas, que são excelentes, e colocar em prática as boas práticas para reduzir o número de pessoas infectadas”, afirma

Membro das Academias Francesa, do Vaticano e Brasileira de Ciências, Nicolelis lembra que o Brasil, comparativamente aos EUA, está mais bem equipado por um serviço público de saúde, que tem uma rede capilar. “Se não houvesse o SUS, estávamos roubados; é um fator enormemente positivo”, ressalta

É preciso acordar para essa hecatombe e começar a pensar estrategicamente. Oferecer todos os meios necessários para a comunidade científica, para os sanitaristas, que são excelentes, e colocar em prática as boas práticas para reduzir o número de pessoas infectadas 

Nessa situação de guerra em que ninguém está imune, Nicolelis vê insanidade governamental. “Não há na liderança desse governo, qualquer preparo, competência e qualquer visão do que nós estamos enfrentando”, observa. Por isso, defende, a iniciativa de mudança deveria surgir dos outros poderes da República, como o Congresso e o STF.