• Desafios da mulher ganha espaço em debate no Legislativo goiano

    Publicado em 10.03.2020 às 16:07

    Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) sediou mesa-redonda voltada a debater os desafios da mulher na política e no empreendedorismo. O bate-papo foi realizado nesta manhã de terça-feira, 10, a partir das 8h30, no salão nobre da Casa. A iniciativa foi da Diretoria de Informação e Divulgação da Presidência do Legislativo goiano.

    Participaram do encontro as deputadas Delegada Adriana Accorsi (PT) e Lêda Borges (PSDB), a empresária Kamila Vieira, a doutora em Ciência Política da Universidade Federal de Goiás (UFG) Denise Paiva e a fundadora da empresa Fast Escova, Michelle Wadhy Rezende. Também participaram servidoras do Legislativo goiano. 

    Prestigiaram o evento o deputado Eduardo Prado (PV), os diretores Teófilo Luiz dos Santos (Escola do Legislativo), Wesley Borges (Geral), Marco Antônio Ferreira (Administrativo), André Ariza (Planejamento Estratégico), Fagner dos Santos Gonçalves (Tecnologia da Informação), Joel Sant’Anna Braga Filho (Articulação Política), Marcos Antônio Nogueira (Saúde e Meio Ambiente do Trabalho), André Furquim (Comunicação Social), Wilsiene Seily Costa Ribeiro (Financeira), Simeyzon Silveira (Assuntos Institucionais) e o secretário da TV Alego, Reginaldo Alves da Nóbrega Júnior.

    O momento foi abrilhantado com a apresentação do Quarteto PM Show, sob a regência do sargento Jean. À abertura, Josie Marçal leu um poema sobre a mulher e deu início ao projeto Avançando Juntos.

    Feminicídio

    No encontro, dividido em três momentos específicos, a deputada Adriana foi a primeira usar a palavra. Abordou o feminicídio, em particular o porquê do aumento do número de ocorrências, além de discorrer sobre o trabalho que desempenha como legisladora em busca de aumentar as garantias para a mulher, no combate à violência. 

    “Hoje nós vivemos um grande desafio de aumento dos casos contra mulheres e meninas, apesar de haver uma redução no caso de mortes”, disse Adriana, afirmando, ainda, que se têm 15 mil mulheres espancadas, é certeza que este número é muito maior. A petista lamentou que, na atual situação no Brasil, foram cortados recursos para o combate à violência contra a mulher.

    Apesar dos diversos desafios, a legisladora comemora como resultado a favor das mulheres e a participação na política ao assinalar projetos para proteção delas. É de sua autoria um projeto a fim de garantir 5% de vagas de empregos para mulheres vítimas de violência em empresas que negociam com o Estado. Também é de autoria da petista o projeto que proíbe condenados de pela Maria da Penha serem contemplados com cargos comissionados.

    Adriana lembra a importância de oferecer oportunidade de trabalho às mulheres vitimas de violência. “Muitas permanecem em relacionamento de agressão, porque não possuem condições de manter a subsistência dos filhos”, disse, ao enunciar os projetos pelos quais tem trabalhado no Legislativo. A deputada afirmou que ocupar espaço como legisladora é uma forma de promover garantias para a mulher, justamente onde as decisões são tomadas. “Temos que estar no espaço de poder para garantir as definições.”

    A deputada lembrou também o fato de a política ser muito machista. “Até ano passado, as placas na garagem da Assembleia destinadas às parlamentares, tinham escrito deputado”, exemplificou Adriana.

    Já a maternidade também é encarada como um desafio para a parlamentar que explica o fato de que a mulher, “além de criar filhos, tem a necessidade de cuidar da carreira. A fim de garantir melhores direitos à mulher. “Queremos criar o direito à licença maternidade no Legislativo”, afirmou. “É um grande desafio, mas o mundo pode ser melhor para mulher e mãe, que desempenha tripla jornada”, ressaltou.

    Adriana Accorsi afirmou que é importante os homens dividirem tarefa de casa com a mulher. “Em nossa casa, não é ajudar, é dividir. Isso é um grande avanço civilizatório. Não devemos reproduzir os estereótipos machistas”, acentuou.

    A tucana Lêda Borges, ao responder questionamentos da mediadora, Josie Marçal, relembrou sua trajetória política, que teve como desafios o fato de não possuir qualquer capital político como herança. O primeiro desafio foi à frente da Secretaria de Obras, em Valparaíso, no Entorno do Distrito Federal. Para a parlamentar, onde quer que a mulher esteja inserida, a não ser na vida doméstica, tem sua capacidade questionada. “Precisamos sempre provar que somos competentes, como líderes. É talento do ser e não do gênero”, disse.

    A deputada lamentou o fato de muitas mulheres serem tão preconceituosas quanto os homens. “Somos o que quisermos ser”, enalteceu. A tucana relembrou que até ao se candidatar à reeleição foi questionada se conseguiria. “Isso pelo fato de eu ser mulher”, contou.

    Lêda também enunciou que tramita no Congresso Nacional projeto de lei voltado a garantir cota de 30% de candidaturas femininas. “O que precisamos é garantir cota de cadeiras na Casa”, defendeu. Ela ressaltou a importância da representatividade da mulher, que em sua opinião precisa ser de meio a meio com os homens. “O mundo só desequilibrou por não ser dividido com igualdade.”

    Para a parlamentar, mulheres possuem um talento que possibilita o desenvolvimento de várias atividades ao mesmo tempo. “Isso não é ser mais ou menos. Os homens têm visão direcionada. É importante que nos unamos”, propôs.

    Falta equidade

    A doutora Denise Paiva lamentou o fato de existirem apenas duas parlamentares na Assembleia Legislativa, diante de 41 cadeiras na Casa. “É importante o mundo ter maior equidade. Os estudos mostram que os países que têm avançado no tratamento com as mulheres são os que possuem política de cotas que garantem equidade na participação política, a exemplo da Argentina e países escandinavos”, ressaltou.

    Ela também falou que não basta garantir direitos, as mulheres precisam ser competitivas. “Os partidos políticos abram espaço para as mulheres. emos que estar em lugares de decisão”, assinalou.

    No segundo bloco, Kamilla Vieira, esposa do presidente do Legislativo, Lissauer Vieira (PSB), discorreu sobre seus desafios na política como mulher de político e como mãe de família. Garantiu que ao seguir o marido, o fez disposta a também contribuir com a vida pública. “Tive que me reorganizar para mudar para Goiânia”, disse.

    Com um casal de filhos, a decisão pela jornada política foi em conjunto. “A política para homem não é fácil, mas para mulher também é desafiadora. A mulher, além do trabalho, tem as responsabilidades com os filhos”, assinalou.

    Ao pontuar que, proporcionalmente, a população feminina é maior que a masculina, Kamilla ressaltou que a mulher tem buscado espaços ocupados por homens. “Muitas têm medo de se expor e atuar na política”, lembrou. Ao final, Kamilla apontou para o fato de que as mulheres precisam participar mais do mundo político. “Precisamos participar, ocupar nosso espaço, que é um direito nosso”, reiterou.

    A empresária Michelle Rezendeo falou sobre investimentos e mercado. “Ser mulher e empreender no Brasil não é um caminho fácil. Meus grandes desafios começaram com a maternidade”, disse. Segundo ela, à época, trabalhava em uma multinacional. “Tive que largar a CLT e seguir pelo caminho do empreendedorismo”, explicou. A decisão da empresária por empreender se deu pela necessidade de cuidar de uma criança pequena.

    Determinada e atenta para as mudanças, com vontade de contribuir com a sociedade, não se abateu diante dos desafios. “Enfrentei diversos problemas que me deixaram mais forte. Com uma criança pequena, vi a necessidade de buscar alternativas.” Ela contou que, nessa busca, encontrou um conceito diferenciado em que pudesse oferecer ao mercado uma opção em que a mulher pudesse se cuidar sem hora marcada, com preço justo. Assim surgiu a Fast Escova, com o propósito de trazer empregabilidade e oportunidade para novas empreendedoras.

    Outro ponto importante é que a para alcançar seus objetivos, Michelle pode contar com o apoio do marido, também empresário, como suporte para cuidar da filha do casal. Por ser mãe de uma criança especial, o trabalho da empresária também é desenvolvido junto ao Centro de Orientação Reabilitação e Assistência ao Encefalopata (Corae), a fim de oferecer oportunidade a outras mães, que precisam garantir o sustento da família e não podem sair de casa para trabalhar. “Mães não têm escolha de sair de casa por causa dos filhos”, enunciou.

    E-book sobre mulheres no Parlamento

    O terceiro bloco do encontro foi voltado ao pré-lançamento do primeiro volume do e-book “Mulheres no Legislativo: o legado feminino no Parlamento Goiano”, produzido pela Agência Assembleia de Notícias, em parceria com a TV Alego, seção de Assessoramento Temático e Protocolo e Arquivo. A publicação irá apresentar uma série de entrevistas com as mulheres detentoras de mandatos ao longo da história do Legislativo de Goiás.

    A jornalista Luciana Lima, da Agência de Notícias, falou sobre a ideia da criação do e-book. “Surgiu de uma provocação de um colega de trabalho para darmos visibilidade ao trabalho da mulher no Legislativo goiano”, lembrou. “A ideia foi lançada por um colega homem, contou com o apoio da chefe a Agência, a Cida Mendonça, que nos apoiou. É sempre uma puxando outra para cima.”

    Desde a década de 50, foram 30 mulheres que passaram pela Casa. “É uma representatividade muito pequena. Há um processo de invisibilidade e de vencer muitas barreiras”, disse Luciana. 

    Revisora do projeto do e-book, Amanda Ristov contou que seu trabalho é de bastidores. “Esse projeto tem mudado minha vida. Meu trabalho é me preocupar em como contar a história de todas as mulheres que passaram por aqui”, disse. Ela ressaltou o privilégio de estar em uma Casa de leis. “Tenho um orgulho imenso de estar aqui e de termos deputadas nos representando. Minha função é ter certeza de que a história de vocês está sendo contada da melhor forma.”

    Mulheres na chefia têm feito a diferença, na opinião de Amanda Ristov. “Uma mulher é uma mãe, é uma empresária, é uma coletividade. Sintam-se inspiradas como eu me sinto.”

    Jornalista da TV Alego, Gabriela Gouveia fez um breve relato de algumas das histórias de mulheres que ocuparam o Legislativo goiano, ao lembrar da primeira que assume o cargo do marido, assassinado. “Berenice Artiaga assumiu para levar adiante o cargo do marido”, lembrou.

    A mais antiga das parlamentares, e ainda viva, Ana Braga, hoje aos 91 anos, foi terceira deputada a estar no Parlamento goiano. Foi fundadora da Academia Goiana de Letras e Artes. Sem capital político, conseguiu destaque na política goiana. “Entrevista marcante, é uma história viva. Dentre os projetos apresentados por ela, um foi o de retirar os bordéis do centro da cidade”, contou Gabriela.